Alerta

Grupos usam a web para disseminar a transmissão do HIV

Rede é usada para conhecer parceiros, divulgar festas e dar dicas da modalidade


Publicado em 05 de fevereiro de 2015 | 04:00
 
 
 
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Paralelo às frequentes campanhas de incentivo ao sexo seguro que buscam frear o aumento da Aids em todo o mundo, um movimento assustador vem colocando em risco todo esse esforço de prevenção. Os adeptos do “bareback” – modalidade de sexo sem camisinha – são, em sua maioria, homossexuais (soropositivos ou não), que “brincam de roleta-russa” com a possibilidade de contrair o vírus HIV.

A prática foi denunciada a O TEMPO, pelo músico Ricardo* (nome fictício), 32. O homossexual contou que ficou sabendo dessa modalidade por uma página no Facebook. “Me chamou a atenção porque o dono do blog Novinho Bareback dizia que frequentava lugares a que eu também costumo ir em Belo Horizonte, como boates e saunas”, afirma. A reportagem tentou entrar em contato com o blog denunciado, mas o endereço e os perfis foram excluídos.

Ricardo conta que, em algumas postagens, o blogueiro dizia planejar um “Carnaval vitaminado” –, expressão usada para quem tem o vírus. “A opção por fazer sexo sem camisinha é problema seu e um risco que você corre, mas, a partir do momento em que o objetivo é disseminar o vírus, isso é revoltante. Eu uso camisinha e agora tenho que me preocupar se a pessoa está agindo de má-fé. A partir de agora, só uso a minha camisinha”, diz Ricardo.

A preocupação do músico é porque, além da divulgação de festas, os “barebackers” compartilham dicas de como sabotar os preservativos, furando as camisinhas, com agulha ou prego – um dos principais mandamentos desse tipo de sexo e das formas de disseminar o vírus. “Cortar ou furar a ponta dos preservativos é algo fácil de fazer, dá tesão e estimula um novo fetiche. Não fez ainda? Faça! Pois é bem provável que já tenham feito em você”, incentiva a mensagem postada pelo autor do blog Aventuras de um Becker.

Na rede. Ponto de encontro entre os barebackers no Brasil, a internet tem sido um meio fácil para que praticantes e adeptos utilizem a rede com o objetivo de conhecer possíveis parceiros e marcar encontros.

Em blogs e grupos de discussão, eles incentivam a prática sem nenhum constrangimento, dizendo que, após o contágio, se sentem mais livres sexualmente, enquanto outros justificam a opção alegando gostar da adrenalina envolvida no risco e do fetiche de praticar sexo sem utilizar a camisinha.

O post intitulado “Bareback Party – Festa sem Borracha”, com três vídeos pornográficos publicado no blog Garotão, tem mais de 44 comentários de pessoas (anônimas ou não) que deixaram seus contatos (e-mail ou telefone) se oferecendo para participar da festa.

A reportagem entrou em contato com 19 supostos praticantes de bareback, mas nenhum deles quis dar seu depoimento. Enquanto alguns negaram ser adeptos da modalidade, outros alegaram que o número estava no site por engano. “Alguém deve ter colocado meu celular por sacanagem”, disse Frederico, 21.

Crime. Conforme o artigo 130 do Código Penal, a prática de disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, consentida ou não, é caracterizada como crime.

Vocabulário
Origem
. “Bareback” foi um termo criado pelos cowboys dos Estados Unidos e significa “montar sem sela”, direto nos pelos do animal. Vence quem ficar mais tempo em cima do boi ou cavalo.,

Contágio cresce entre jovens gays

Mesmo que a epidemia no país esteja estabilizada, conforme afirmou o governo, a incidência de Aids continua crescendo, principalmente entre jovens homossexuais, segundo informações da representante da Sociedade Brasileira de Infectologia Mônica Jacques de Moraes.

“Embora os novos casos de Aids tenham diminuído nos últimos anos em todos os continentes de forma geral, nos Estados Unidos, no Brasil, na Inglaterra e no Canadá a incidência nesse subgrupo está aumentando”, afirma a infectologista.

Para Mônica, ideias equivocadas de que a doença está acabando e não causa mais morte contribuem para esse comportamento. “Imagino que as razões que os levam a fazer isso são as mesmas dos que dirigirem bêbados”, compara a especialista.

Ministério diz que comissão acompanha prática

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Ministério da Saúde informou em nota que “é contra a prática do bareback”, mas que atualmente existe um grupo de trabalho sobre a temática no Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. “O grupo analisa as implicações dessa prática e quanto ela está disseminada, levando em consideração as informações regionais dos grupos que fazem prevenção, de forma a embasar as ações educativas e preventivas”, informou a nota.
Desde os anos 80, 757 mil casos de Aids foram notificados no Brasil. Segundo o ministério, a epidemia está estabilizada, com taxa de detecção em torno de 20,4 casos a cada 100 mil habitantes.

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