Ciência do futuro

Homem com paraplegia anda 100 m após estímulo elétrico

Americano conseguiu enviar impulsos cerebrais para implante instalado na coluna


Publicado em 25 de setembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Paris, França. Cinco anos depois de ter ficado paralítico em um acidente de motoneve, um homem nos Estados Unidos aprendeu a andar novamente auxiliado por um implante elétrico, em um potencial avanço para quem sofre de lesões na coluna.

Uma equipe de médicos da Mayo Clinic, em Minnesota, disse que o homem, usando um andador com rodas dianteiras, conseguiu cobrir o equivalente ao comprimento de um campo de futebol americano (102 m), emitindo comandos de seu cérebro para transferir o peso e manter o equilíbrio, o que acreditava-se ser impossível para pacientes paralíticos.

O homem, hoje com 29 anos, teve sua medula espinhal lesionada no meio das costas quando bateu sua motoneve em 2013. Ele está completamente paralisado da cintura para baixo e não consegue mexer ou sentir nada abaixo do meio do seu torso.

No estudo, cujos resultados foram publicados ontem na revista “Nature Medicine”, os médicos implantaram um pequeno dispositivo eletrônico na coluna do paciente em 2016. O implante funciona sem fio, mais ou menos do tamanho de uma bateria AA, gerando pulsos elétricos para estimular os nervos que, devido à lesão, foram permanentemente desconectados do cérebro.

“O que isso está nos ensinando é que essas redes de neurônios abaixo de uma lesão na medula espinhal ainda podem funcionar após a paralisia”, disse Kendall Lee, neurocirurgião da Mayo Clinic e principal autor do estudo.

Poucas semanas depois de o dispositivo ter sido ligado, o homem começou a dar seus primeiros passos desde o acidente – mas ainda estava suspenso em um arnês (espécie de cinto de segurança).

Surpreendentemente, após várias outras sessões de reabilitação e fisioterapia, ele conseguiu sustentar a maior parte de seu próprio peso corporal e dar passos em uma esteira.

“Nós não limitamos nossas expectativas e continuamos a desenvolver com segurança seu desempenho à medida que ele ganhou função”, disse à AFP Kristin Zhao, diretora do Laboratório de Tecnologia Assistiva e Restauradora da Mayo Clinic. “Isso é importante porque a própria mente do paciente foi capaz de conduzir o movimento nas pernas”, acrescentou.

Embora o dispositivo tenha sido capaz de ajudar a gerar energia e controle na parte inferior do corpo do paciente, ele não fez nada para restaurar a sensação em suas pernas.

Isso inicialmente se mostrou desafiador. Sem a sensação física de andar registrada em seu cérebro, era difícil para ele fazer os ajustes instantâneos de equilíbrio que a maioria de nós faz sem pensar.

A equipe superou o problema instalando espelhos na altura do joelho para que o paciente pudesse ver em que posição suas pernas se encontravam enquanto caminhava.

Eventualmente, o homem conseguiu andar na esteira com apenas alguns olhares periódicos para as pernas. As filmagens do experimento mostram-no andando bruscamente em uma esteira que se movia lentamente, usando um trilho de metal para se equilibrar.

 

Estudo foi financiado pela fundação criada por Cristopher Reeve

Paris. Embora o efeito do dispositivo seja notável, o homem continua paralisado quando este é desligado. “É importante entender que o indivíduo ainda realiza suas atividades diárias a partir de uma cadeira de rodas”, disse o neurocirurgião Kendall Lee.

Em 2011, os eletrodos implantados na parte inferior da coluna de um homem paraplégico permitiram que ele se levantasse e recuperasse um pouco do movimento em suas pernas, mas a equipe acredita que essa é a primeira vez que um implante foi usado para fazer uma pessoa paralisada andar.

Por razões de segurança, o paciente só usa o dispositivo sob supervisão, mas as implicações do estudo – que a paralisia pode não ser permanente após lesão medular grave – são significativas. “Nossos resultados, combinados com evidências anteriores, enfatizam a necessidade de reavaliar nossos entendimentos atuais das lesões da medula espinhal, a fim de perceber o potencial de tecnologias emergentes para a recuperação funcional, que anteriormente acreditava-se que tinha sido perdida permanentemente”, disse.

O estudo foi realizado em conjunto com a Universidade da Califórnia em Los Angeles e foi parcialmente financiado pela Fundação Christopher e Dana Reeve. 

Christopher Reeve, conhecido por seu papel no filme “Superman”, ficou paraplégico depois de um acidente de cavalo em 1995. Ele morreu em 2004, aos 52 anos.

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