Uma brincadeira que parece inofensiva pode trazer riscos à saúde de crianças e adolescentes. O slime – tipo de “geleca” ou amoeba que se tornou febre após diversos vídeos na internet passarem a ensinar receitas para se fabricar seu próprio brinquedo – virou alvo de discussões sobre os perigos de sua manipulação.
Tudo começou após Cris Pagano, moradora da cidade de São Paulo, postar nas redes sociais que a filha Valentina, 12, está internada há mais de uma semana por causa de intoxicação por bórax (borato de sódio). Essa substância alcalina (com alto pH) é usada como um dos ingredientes para a fabricação caseira do slime e facilmente comprada em farmácias de manipulação ou na internet.
Apesar de formar a liga necessária para que o slime seja produzido, o bórax é considerado o componente mais perigoso da receita, segundo o alergista e imunologista Nelson Guilherme Bastos Cordeiro, do Departamento Científico de Dermatite Atópica e de Contato da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).
“O problema está no tempo em que as crianças e adolescentes ficam expostos a essa substância, porque a fabricação caseira não contém concentrações padronizadas, podendo superar, e muito, aquelas consideradas seguras”, afirma.
Cordeiro explica que essa exposição por horas seguidas pode resultar em queimaduras químicas, irritação nos olhos e dermatites. “A queimadura, principalmente nas mãos e nos braços, pode ser a reação mais grave por ação abrasiva causada pelo borato de sódio. Além disso, ainda há o risco de se desenvolverem reações alérgicas, já que as crianças têm uma pele mais sensível”, diz.
Nas redes sociais, internautas questionaram Cris Pagano quanto à possibilidade de a filha ter ingerido o bórax. Para rebater as suspeitas, a mãe afirmou que a menina não bebeu a substância diluída em água e que a postagem serviu apenas para alertar pais e responsáveis sobre os riscos do uso da substância.
Caso haja inalação ou ingestão, no entanto, pode haver problemas nos aparelhos respiratório e digestivo. “Pode-se desenvolver dermatite de contato por conta de uma substância encontrada normalmente em espumas de barbear e amaciantes, chamada de ‘metilisotiazolinona’”, explica o médico da Asbai.
Para evitar transtornos, o ideal é evitar a fabricação caseira do slime. “O melhor é dar preferência para os produtos com selo de qualidade do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), que são vendidos em quantidades e concentrações já testadas”, diz.
“Caso haja alguma reação, é preciso lavar a região com água ou soro fisiológico gelados e procurar atendimento médico o mais rapidamente possível”, orienta Cordeiro.
Bórax não deve ser utilizado
Usado para diversas finalidades, principalmente aquelas que envolvem limpeza, o bórax pode ser encontrado em fertilizantes e saneantes, por exemplo. Por conta disso, sua comercialização não é proibida no país.
No entanto, o a utilização em outras aplicações, incluindo a fabricação caseira do slime, não é recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em nota, o órgão esclarece “que o produto deve ser utilizado para as finalidades autorizadas e nas doses recomendadas”.
Além disso, a Anvisa condena veementemente o contato inadequado com o bórax ao ressaltar ainda “que a substância não deve ser manipulada por crianças”.
Na mesma nota, são listados os principais sintomas associados ao contato contínuo com o produto: náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia com coloração azul/esverdeada, cianose, queda de pressão sanguínea, letargia, choque.
Por fim, a Anvisa afirma que está fazendo publicações nas redes sociais para alertar pais e responsáveis sobre o perigo da utilização do bórax por crianças e adolescentes.