Em 1868, o médico alemão Carl Reinhold August Wunderlich demonstrou que a temperatura corporal humana normal é, em média, 37°C. Mais de 150 anos depois, no entanto, esse estudo foi revisto e está sendo questionado por alguns especialistas norte-americanos.
Após analisar 11.458 temperaturas usando o aplicativo Feverprints, o reumatologista Jonathan Hausmann, do Hospital Infantil de Boston, nos EUA, refutou essa antiga referência. Segundo ele, o estudo de 1868 “foi falho”, e definir a febre pode ser muito mais complicado.
Hausmann e seus colegas descobriram uma nova temperatura média normal, que, nos 329 adultos saudáveis analisados com um termômetro oral, foi de 36,5°C. Quanto à febre, Hausmann concluiu que ela começa em 37,5°C, em média. O estudo foi publicado no “Journal of General Internal Medicine”.
No Brasil, os médicos ainda consideram a temperatura corpórea ideal entre 36ºC e 37,2ºC, mas não há um consenso. O clínico geral Breno Figueiredo Gomes não acredita que tenha havido falha no estudo em 1868. Segundo ele, a grande maioria das febres é inofensiva e nem sempre é sinal de infecção. “A febre é apenas um sinal. Pode ocorrer em doenças gravíssimas e em doenças que se curam sozinhas. As viroses são causas muito frequentes, porém, são apenas algumas das mais de duas centenas de doenças que causam febre”, diz.
Variações
A especialista, mestre e doutora em clínica médica Télcia Vasconcelos Barros Magalhães explica que o ser humano é homeotérmico. Isso significa que tem a capacidade de manter a temperatura corporal estável mesmo em situações com variações de temperatura do ambiente.
Por isso, a temperatura pode variar também entre mulheres, homens, crianças, adultos e até dependendo da hora do dia. “De manhã, a temperatura é sempre um pouco mais baixa. Em torno das 18h, ela pode se elevar até 1°C. Na criança é diferente. No sexo masculino, quando se faz exercício físico, pode subir. Na mulher, a variação hormonal também provoca variações da temperatura, então, para a gente considerar febre, é após 37,7°C”, diz.
Diante das dúvidas, os médicos recomendam buscar ajuda especializada, uma vez que a temperatura pode variar dependendo de vários fatores, inclusive do termômetro. O (dispositivo) digital tem variação diferente do termômetro padrão (coluna de mercúrio). “Para esclarecer se o paciente está com febre ou não, é importante fazer a medida várias vezes durante o dia. Colocar o termômetro na axila e entre as dobras da perna nas crianças, variando a posição e o local em diferentes horas durante o dia. Isso define a presença de febre, a manutenção ou aumento da temperatura”, diz.
Mecanismo da febre emocional
A febre causada por estresse é de difícil diagnóstico e tratamento, mas, recentemente, pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG identificaram grupos neuronais associados à febre emocional.
O calor intenso, que pode ser acompanhado de transpiração, costuma aparecer diante da iminente necessidade de falar em público, por exemplo.
Por meio da investigação do efeito do estresse em camundongos, o estudo identificou os neurônios que regulam a temperatura e a febre emocional, conforme explica a pesquisadora e autora do estudo Natália Machado. “Há um circuito central específico para produção de calor e, aparentemente, também para o rubor que ocorre em situações de estresse”, esclarece.
O próximo passo consistirá em descobrir como esses neurônios são modulados e quais substâncias podem intensificar ou reduzir os sintomas.
Flash
Termômetros. Desde janeiro, o tradicional termômetro de mercúrio, instrumento presente ainda em muitas casas, deixou de ser vendido no país. A alternativa são os termômetros digitais.