A síndrome de burnout– ou esgotamento profissional – foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como estresse crônico e agora está incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID). No Brasil, cerca de 30 milhões de pessoas sofrem com o problema, segundo a Associação Internacional de Controle do Estresse (Isma-BR).
A lista da OMS foi definida com base nas conclusões de especialistas de todo o mundo e serve para estabelecer tendências e estatísticas de saúde. Na nova versão do documento – que vale oficialmente a partir de 2022 – o transtorno foi adicionado ao capítulo de “problemas associados” ao emprego ou ao desemprego e recebeu o código QD85. O registro da OMS explica que a síndrome de burnout “se refere especificamente a fenômenos relativos ao contexto profissional e não deve ser utilizada para descrever experiências em outros âmbitos da vida”.
De acordo com os especialistas, essa definição estabelece uma linguagem comum que facilita a troca de informações entre os profissionais da área da saúde em todo o mundo. Os que têm a síndrome podem se sentir muito mais acolhidos a partir dessa medida, segundo a psiquiatra Fátima Vasconcelos, diretora da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). “Isso é importante, porque cada vez mais temos pessoas apresentando os sintomas em decorrência de uma realidade profissional altamente estressante”, afirma.
Entendendo o burnout
Na lista da OMS, o transtorno foi descrito como “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”. E ela se caracteriza por três elementos: “sensação de esgotamento, cinismo ou sentimentos negativos relacionados a seu trabalho e eficácia profissional reduzida”.
Segundo a psicanalista Ângela Mathylde, os principais sintomas envolvem três frentes: física, emocional e cognitiva. “Uma pessoa com síndrome de burnout costuma apresentar cansaço excessivo – físico e mental –, insônia, alterações no apetite, dificuldades de concentração e sentimentos de fracasso e insegurança”, explica a especialista.
Boa parte desses sinais foi exteriorizada pela advogada Rachel Moraes, 33. Ela sofre com eles desde o início da carreira. “Tenho o hábito de levar trabalho para casa e virar a noite. Já cheguei a analisar sete processos de uma vez. Não como direito, não durmo bem e vivo estressada”, diz.
O pior episódio aconteceu em 2015. “Comecei a sentir dormência nos braços, taquicardia e tremores. Senti que ia morrer”, relata. Após o susto, a advogada procurou ajuda. “Tomei medicamentos, passei a fazer terapia e, hoje, consigo me controlar”, conta Rachel.
Outros transtornos na mesma pauta
A nova lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) inclui, ainda, novos capítulos, um deles dedicado à saúde sexual. São abrangidas condições anteriormente classificadas em outras listas, como a “incongruência de gênero” e a transexualidade, até então mencionadas na seção de enfermidades mentais.
Outro transtorno adicionado ao documento da OMS é o vício em jogos digitais, presente no capítulo sobre dependência.
De acordo com a psiquiatra Fátima Vasconcelos, as novas mudanças refletem o cenário vivido em todo o mundo. “A OMS está apenas reconhecendo o que está acontecendo há algum tempo em todo o mundo. Todos esses temas são atuais e precisam de um olhar mais profundo para auxiliar os especialistas da saúde”, afirma.