Entrevista

Sabonetes selecionam bactérias resistentes, diz especialista

Em entrevista ao programa “50 e Tal da rádio Super Notícia FM (91,7), o especialista falou sobre os principais cuidados com a pele seca na terceira idade e alertou para os riscos da suplementação vitamínica em excesso


Publicado em 23 de outubro de 2017 | 03:00
 
 
 
normal

O que caracteriza o processo de envelhecimento natural da pele e a partir de qual idade ele costuma aparecer?

A gente costuma dividir o envelhecimento da pele em intrínseco – aquele determinado pela genética – e o extrínseco – que é o fator que a gente consegue melhor manipular, ou seja, é esse envelhecimento de fora, em relação a exposição solar, o tabagismo e aos maus hábitos de vida. Eu diria que os primeiros sinais de envelhecimento costumam aparecer a partir dos 30 anos de idade. A poluição também está muito relacionada ao envelhecimento da pele. Maus hábitos de vida e a alimentação rica em açúcares geram muitos radicais livres que também aceleram o processo natural de envelhecimento.

O que essa exposição solar provoca nas células?

Isso provoca um dano celular nos cromossomos de cada célula. Então, a gente tem uma informação genética guardada no núcleo de cada célula e a radiação ultravioleta é uma radiação ionizante, que é capaz de modificar a nossa informação genética, o nosso DNA e isso acelera a degradação das células.

Quais substâncias presentes na pele jovem que vai se perdendo ao longo do tempo?

Existem diversas substâncias na pele responsáveis pela firmeza e pela elasticidade. Uma delas é o colágeno, que é a proteína mais abundante no nosso corpo, mas tem também a elastina e outras, como os glicosaminoglicanos, que compõem toda essa matriz, todo esse tecido que forma a pele. A gente sabe que mulheres após os 30 anos começam a perder 1% de colágeno ao ano e, após a menopausa, 2% ao ano.

Por isso a pele vai se alterando com idade? Fica mais fina e seca?

A gente sabe que a pele vai se tornando cada vez mais delgada, cada vez mais fininha. A partir da quarta década de vida, a gente sabe que existe uma perda de água transepidérmica, ou seja, a pele vai se desidratando. A pele desidratada é uma pele mais seca obviamente, mas também mais vulnerável a patologias, como infecções de pele.

Como então atenuar esses efeitos antes dessa perda?

Eu dividiria de duas formas: a preventiva, através da correção dos fatores manipuláveis do nosso envelhecimento, como a fotoproteção adequada, usar protetor solar adequadamente, e a fotoproteção mecânica, que seriam essas viseiras, chapéus com trama contra a radiação ultravioleta, além da mudança nos hábitos de vida, com uma alimentação mais saudável, balanceada, rica em proteínas antioxidantes. Já na hora de tratar o envelhecimento existem diversas formas, desde cremes anti-idade que conseguem melhorar a textura da pele e tecnologias a base de lasers que ajudam com muita eficácia também.

A idade também provoca alteração na absorção de vitaminas que prejudicam a pele?

Os idosos por si só já têm uma absorção um pouco diminuída de vitaminas e nutrientes, muitas vezes eles têm uma alimentação pior, então isso pode sim ser um fator que contribui para a aceleração do envelhecimento.

Quais vitaminas costumam ser mais deficientes?

Não é necessariamente uma vitamina, mas o ferro costuma ser muito carente nessas pessoas. Já as pessoas que não ingerem carne vermelha costumam ter deficiência de vitamina B12, ácido fólico, depende muito da alimentação. Mas, em geral, o que a gente mais flagra nos consultórios é o ferro baixo.

Suplementos vitamínicos então seriam indicados também para melhorara a qualidade da pele?

Não. Na verdade, o que a gente preconiza é que sejam efeitos exames antes para saber da real necessidade de uma suplementação vitamínica, porque existem vitaminas lipossolúveis (K, A, D, E) que, quando ingeridas em excesso, fazem mal, são tóxicas. Então, a suplementação sem fazer exames não é correta e pode ser prejudicial.

Qual e a melhor forma de fazer a hidratação da pele?

A gente sabe que a ingestão de água tem muita relação com o nível de hidratação na pele, então a hidratação oral é muito importante principalmente nessa época do ano. Outro cuidado que costumo falar é em relação a temperatura do banho. Águas muito quentes, acima de 37 e 38 graus, desidratam a pele. O banho tem que ser o mais morno e mais fresco possível, e sem excesso de sabonete, que também desidrata a pele. E não usar bucha.

Como fazer a melhor escolha dos sabonetes?

Levando em consideração que a pele do idoso é uma pele mais ressecada, em geral, essa pele demanda sabonetes que não contenham tanto detergente. Realmente são sabonetes que fazem menos espuma, mas são sabonetes que conseguem hidratar mais a pele. A gente tem no mercado diversas opções com todo tipo de preço, opções em barra, creme e líquidas. Os sabonetes comuns costumam ressecar muito a pele e inclusive ser motivo de coceira pós banho. Às vezes, o paciente chega reclamando que está com intenso prurido após o banho e uma das principais causas é o sabonete errado ou a temperatura da água elevada.

O sabonete bactericida é uma boa opção?

É muito comum idosos e crianças fazerem o uso desses produtos. Mas, eles foram proibidos nos Estados Unidos no ano passado porque o uso indiscriminado é maléfico a longo prazo. O que a gente vê são pessoas que usam esses sabonetes indiscriminadamente porque acham que o sabonete bactericida vai matar as bactérias e tornar aquela pele mais saudável, mas não, ele vai selecionar bactérias mais resistentes e, isso ao longo da vida pode causar uma infecção mais grave e resistente aos tratamentos disponíveis.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!