Ansiedade

Transtorno alimentar também afeta mulheres acima dos 40

Cobranças profissionais e pessoais excessivas afetam seriamente a relação com a comida


Publicado em 18 de abril de 2017 | 03:00
 
 
 
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Um novo grupo de risco passa a configurar nas estatísticas de desenvolvimento de transtornos alimentares, muitas vezes restritos a pessoas mais novas: as mulheres acima de 40 anos. São mudanças no comportamento alimentar que levam a problemas físicos e psíquicos, bem como ao estresse emocional e social. Os quadros mais comuns são a anorexia nervosa e a bulimia nervosa, além de transtornos alimentares não especificados e do transtorno da compulsão alimentar (comer mais do que o necessário).

Essa situação foi comprovada em um estudo feito no Reino Unido que avaliou os hábitos alimentares de 5.320 mulheres. Cerca de 3% delas apresentaram algum tipo de distúrbio alimentar depois dos 40 anos.

É nessa fase da vida que as mulheres se deparam com uma combinação de fatores que gera ansiedade: cobrança da vida profissional e familiar, além de esforços para conciliar vários papéis. Tudo isso leva a um esgotamento físico e mental.

A endocrinologista Ana Paula Zanini, professora de pós-graduação da faculdade Ipemed, explica que o climatério (inverso da puberdade), fase que antecede a menopausa, é fator decisivo. “Nesse período da vida, os hormônios da mulher começam a declinar. Isso implica diretamente a mudança de comportamento e de humor que, automaticamente, está atrelada à mudança alimentar”, frisa.

Buscar compensações para o corpo e suas sensações – em especial com comida, principalmente, o doce – é uma consequência natural, segundo Ana Paula. A especialista esclarece que essa busca acontece pela diminuição da serotonina, substância responsável pela sensação de prazer, comum nessa idade.

A professora Maria*, 47, desenvolveu compulsão alimentar no final de 2015. Ela conta que tudo começou depois do processo de separação e que, atualmente, faz uso de antidepressivos no tratamento. “Engordei 15 kg em seis meses. Não ia para lugar nenhum sem carregar algo para comer. Hoje recuperei meu peso, mas a luta contra o distúrbio não acabou. Transformei o prazer de comer em um mal para mim mesma”, relata.

Ajuda médica. Segundo Ana Paula, o diagnóstico de transtornos alimentares é totalmente clínico, e, na maioria das vezes, a origem é psicológica. “Além da reeducação alimentar, o paciente faz uso de medicamentos psiquiátricos, já que o sistema límbico (responsável pelas emoções e pelo prazer) e o sistema do comportamento alimentar estão anatomicamente próximos no cérebro, inflenciando um ao outro”, explica a endocrinologista.

A médica afirma que, no consultório, observa crescimento no número de casos de transtornos nessa idade. “Nos últimos cinco anos, atendo cada vez mais pacientes que apresentam, principalmente, sintomas de bulimia, anorexia e compulsão alimentar”, diz Ana Paula. E a médica garante que os problemas afetam a todos. “São mulheres de todos os níveis sociais”, aponta a médica.

*Nome fictício


Condição mais grave é a anorexia, aponta especialista

Um estudo divulgado pelo curso de nutrição da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aponta que a anorexia prevalece entre 2% e 5% nas mulheres adolescentes, enquanto a bulimia atinge entre 1% e 3% e a compulsão alimentar pode se desenvolver em cerca de 2% da população feminina mundial.

A nutricionista Edith Zulato, professora da faculdade Ipemed, em Belo Horizonte, explica que os transtornos têm grande impacto na vida das mulheres.

Considerada a forma mais grave, a anorexia altera a forma como a pessoa se enxerga. “A mulher faz grande restrição alimentar, bebe pouca água e, mesmo assim, se enxerga com acúmulo de gordura corporal. A anorexia leva a caquexia (magreza extrema), perda de massa magra, déficit neurológico e, o principal, pode levar à morte”, explica a especialista.

“A compulsão alimentar é a necessidade de comer algum alimento e não ter o controle da fome e da saciedade, ou seja, todo o mecanismo orgânico que é regulado pelo hipotálamo (que controla e regula os processos de sede, fome e emoções) fica descontrolado. Pode provocar ganho de peso e obesidade”, esclarece.

Já a bulimia, explica Edith, caracteriza-se por períodos de ingestão de grandes quantidades de comida, normalmente as consideradas “proibidas” ou fora de um padrão alimentar. Depois, a pessoa induz o vômito com os próprios dedos ou objetos, além de fazer uso de laxantes. A bulimia produz um grande déficit nutricional e complicações gástricas.

Homens. Os transtornos alimentares também afetam os homens. Segundo estimativas, 20% dos pacientes em tratamento são homens. Medo e vergonha escondem o problema.

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