Pasadena, EUA. “Aqui não tem desculpa esfarrapada”, avisa o gerente Rayshaun Solomon, 23, em uma lanchonete em Pasadena, na Califórnia, enquanto entrega um cheeseburger quentinho ao cliente. “Não tenho de lidar com sentimentos, sabe? Ou com gente que nunca chega no horário, gente cheia de atitude”, diz.

A seu lado, no fogão industrial, está seu funcionário exemplar, que vira os hambúrgueres metodicamente, serve-os em uma bandeja ao lado e ainda limpa a grelha sem reclamar. Ele não dá bom-dia nem conta piadas, tampouco precisa de pausas para banheiro. Seu nome é Flippy, um robô de US$ 100 mil (R$ 390 mil) que virou garoto-propaganda da revolução tecnológica que vem estreando em restaurantes do mundo. Se os robôs de fato dominarem o planeta, ao menos vão saber fazer pizzas e cafés, como já acontece no Vale do Silício.

“Quando me contaram sobre o Flippy, achei que era piada. Mas ele é consistente, é muito tranquilo trabalhar com ele”, diz Rayshaun, que trabalha na franquia de lanchonetes CaliBurger há dois anos.

Flippy consegue cuidar de 12 hambúrgueres ao mesmo tempo. Ele é criação da Miso Robotics, empresa que também fez um robô para fritar batatas e asinhas de frango, atualmente em ação na Chick N’ Tots, em Los Angeles. As duas versões usam um braço mecânico de seis eixos com scanners térmicos e programas de inteligência artificial, que identificam a comida e os utensílios de cozinha para preparar o que for pedido.

A CaliBurger pretende trazer mais 50 robôs para suas lanchonetes em 2019 e afirma que a chegada do Flippy não causou nenhuma demissão. Flippy também necessita de ajuda humana. Rayshaun precisa colocar os hambúrgueres no lugar certo na grelha, acrescentar o queijo quando o robô avisa e checar a temperatura da carne antes de colocá-la no pão com os adereços. “Não acho que ele vá roubar meu emprego”, diz o funcionário. “Acho, sim, que meu currículo vai turbinar com essa experiência robótica”, comemora.

Ao contrário das previsões futurísticas, as novas tecnologias culinárias não estão acabando com empregos, ao menos por enquanto. Nos Estados Unidos, o setor de restaurantes é um daqueles em que o número de vagas mais cresce, com taxa de desemprego de 6%, a mais baixa da história.

O pesquisador Alec Levenson, da escola de negócios da Universidade do Sul da Califórnia, afirma que esse tipo de automação só vai aumentar e lembra que isso acontece desde o início da Revolução Industrial, quando máquinas substituíram operários que costuravam roupas à mão.

Nos Estados Unidos, ainda que robôs como o Flippy sejam raridade, uma tecnologia já vem mudando o setor: a automatização dos pedidos via aplicativos, seja no celular, seja no computador de casa, seja em tablets no próprio estabelecimento.

“Ninguém perdeu o emprego por causa disso na Starbucks, por exemplo. Você tem menos gente trabalhando na frente do café, mas há um volume maior de pedidos. Aumentaram a produtividade e as vendas”, afirma Levenson.

 

Restaurante automatizado é a nova febre no Vale do Silício

Pasadena. No Vale do Silício, onde carros autônomos e robôs que entregam comida já são realidade, restaurantes e cafés automatizados são a nova febre. O CafeX tem três unidades em San Francisco e serve 13 tipos de bebidas quentes, sem nenhum barista por perto (funcionários ficam nos bastidores para carregar e fazer manutenção das máquinas).

Mais impressionante é a máquina de quatro metros de largura que toma conta da lanchonete Creator, também em San Francisco. Com 350 sensores e 20 computadores, ela prepara sozinha cheeseburgers de US$ 6 (R$ 23). A máquina faz tudo, desde cortar o pão até moer a carne. O processo dura cinco minutos, e a máquina dá conta de 130 por hora.

Pepe, John, Marta, Bruno e Vincencio são os nomes dos robôs na Zume, e cada um é responsável pelo processo da pizza, como preparar a massa, espremer e espalhar o molho e colocar no forno. Dos 40 funcionários da Zume, 20 são engenheiros.

Flash

Expansão. Em Boston, estudantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) fizeram parceria com o chef francês Daniel Boulud para abrir o Spyce, onde máquinas preparam tigelas de arroz, pasta e misturas saudáveis por US$ 7,50.