Reações

Tutores dão dicas de como lidar com o ciúme entre os pets

Rosnados, bufadas, arranhões... São muitas as formas de os animais demonstrarem incômodo com o carinho dado pelo dono a outro animal


Publicado em 24 de março de 2019 | 03:00
 
 
 
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Está lá a cicatriz que não a deixa mentir. Tempos atrás, a advogada Maria Rita Brandão estava acariciando um de seus gatos quando o outro, um siamês, resolveu “protestar”contra a atenção dispensada ao colega. “Costumo dizer que a raça não deveria ser chamada de siamês, mas de ‘ciumês’”, diverte-se ela, que nos dias atuais, já passados uns bons anos do episódio, refere-se com indisfarçável bom humor à marca visível no braço. 

“No geral, os gatos de origem asiática são assim, possessivos”, avalia Maria Rita, que só vê uma solução para apaziguar os ânimos: procurar dar a mesma atenção a todos.

Com seis gatos em casa, a pedagoga Alexandra Moraes percebe um sentimento similar no que tange a Izzie, a caçula da casa (tem apenas 1 ano e 6 meses) e a única que foi resgatada ainda filhote. “A gente acha que, por ser mestiça de siamês, ela seja assim, tão ciumenta: dizem que a raça é territorialista – alfas, digamos. Ela é desse jeito desde pequena, a atenção tem que ser toda para ela”, conta. 

No ano passado, Alexandra perdeu uma gatinha que atuava como “a líder” da turma. “E a Izzie já foi logo tomando posse (do posto), mesmo tendo sido a última a chegar e sendo miúda. Ou seja, (a questão da liderança) não tem nada a ver com porte ou mesmo com sexo, já que, vale lembrar, eu também tenho gatos machos em casa”, pontua. A pedagoga diz que Izzie é tão pirracenta que, quando ela e o marido viajam, a gata faz xixi fora da caixa de areia. “Ela realmente faz tudo para chamar atenção”, situa. 

A solução encontrada por Alexandra foi, de fato, dar mais atenção à mocinha – inclusive, porque os demais nem se incomodam. “Se vou colocar um patê, já entrego a vasilha dela primeiro”, conta. A pedagoga também recorreu à homeopatia. “Ajudou bastante. Usei uma fórmula por um tempo e percebi que amenizou bastante esse comportamento, as brigas se tornaram menos frequentes. No mais é paciência, amor, carinho, atenção... Na verdade, tudo o que nós, humanos, também queremos e buscamos”, explica.

Embora tenha sido empregada por Maria Rita e Alexandra, a palavra “ciúme” é vista com ressalvas por Lucas Belchior Souza de Oliveira, médico veterinário atuante nas áreas de medicina comportamental animal e medicina de animais silvestres. Para ele, a medicina veterinária ainda não registra consenso no atrelar a palavra “ciúme” – ao menos na acepção do termo, no conceito em que é aplicado nos manuais de psicologia – ao comportamento animal. 

Ele prefere falar em um comportamento que pode ser detectado principalmente em raças que tendem a estabelecer um vínculo mais estreito com a raça humana e que, ao se sentirem de alguma forma confrontadas, passam a apresentar comportamentos que guardam alguma similaridade com o que nominamos como “ciúme”. Uma reação que pode ser percebida no momento da introdução de um novo animal na dinâmica da casa, por exemplo. “Mesmo porque, isso costuma implicar que todos os recursos ali existentes passarão a ser partilhados de uma nova maneira”. No caso dos gatos, em particular, Lucas lembra que eles vivem em um sistema social muito particular – “gostam de descansar por vezes juntos, por vezes sozinhos, por exemplo”. 

Orientações. No caso, orienta o veterinário, o ideal é que o tutor disponibilize vasilhames e caixas de areia individuais. Outro recurso é a instalação de prateleiras ou nichos os quais o felino possa acessar para ficar sozinho, quando assim o desejar. “É preciso lembrar que alguns animais costumam apresentar comportamentos similares aos dos humanos, ou seja, existem aqueles que realmente não têm aptidão social. E não é porque vivem sozinhos que vivem mal”, explica Oliveira.

Independentemente da espécie, ele diz que a introdução nunca deve ser feita de forma abrupta. “Se, vamos supor, você resgatou um animal das ruas, não quer dizer que é conveniente inseri-lo no ambiente no qual os demais já estejam no mesmo dia do resgate – isso causaria um distúrbio social grande”, adverte.

"Quem a vê a Izzie com essa carinha de santinha não imagina como ela fica uma capetinha quando está com ciúmes”, diverte-se Alexandra

Essência de baunilha no pescoço

No universo dos gatos, há alguns recursos conhecidos para a introdução de um novo animal na casa. Maria Rita, por exemplo, já usou o truque da baunilha. A dica é pingar gotas da essência no pescoço de ambos, o que, afiança, fará com que se identifiquem. Embora não haja embasamento científico para a tática, os signatários garantem que funciona.

Já a jornalista Roberta Moreira aplicou um método que aprendeu em um tutorial no YouTube: colocou o novo gatinho da casa num cômodo próximo ao da gata que já morava ali, mas com a porta fechada, de modo a que uma fosse se acostumando com o cheiro da outra.

Na sequência, a porta foi sendo parcialmente aberta, mas com a supervisão da tutora, sempre atenta à iminência de confronto. Foram várias manifestações de territorialidade até que a primogênita se acostumasse à novata, o que incluiu alguns bufares. Hoje, os ânimos estão apaziguados, mas não se pode dizer que as duas sejam propriamente best friends.

A servidora pública Giovanna Nunes Coelho faz malabarismos para introduzir novos cães. “Já aconteceu de uma das partes (do casal) ficar com o novato na rua, a outra sair para dar uma volta com os cachorros, encontrar, como que por acaso, e seguir passeando, todos juntos, em território neutro, para ver a reação – depois, entramosem casa com todos”. 

Fica a dica

Alerta. O veterinário Lucas Belchior lembra que a introdução de um novo animal no ambiente costuma exigir do tutor paciência, treino e, por vezes, até mesmo um auxílio de medicamentos. 
Melhor amigo. Ele avalia que os cães costumam ter uma dependência maior ao humano do que os gatos. 
Vale lembrar. “De todo jeito, o ideal é procurar orientação com um profissional da área de adestramento ou de comportamento animal”.
De cara. Mesmo porque, prossegue ele, esse primeiro contato é fundamental: na verdade, costuma determinar como a relação dos dois animais vai se pautar no resto da vida.

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