Uma perua gordinha, cinquentona, espaçosa e muito garbosa vê aproximando o fim de sua linhagem, mas continuará reinando nos corações e mentes dos brasileiros. Irmã mais velha do Fusca e precursora das vans de passageiro e de carga, a Kombi sai das linhas de montagem no fim deste ano, mas entra num novo filão do mercado, o do “antigomobilismo”, onde o céu é o limite.
De acordo com o presidente do Clube do Fusca, Amauri Lúcio de Oliveira, uma Kombi antiga pode valer R$ 25 mil e até mesmo superar a casa dos R$ 40 mil, se bem conservada. A entidade de amantes de carros antigos conta com pelo menos dez membros que adoram exibir suas Kombis nas reuniões mensais, sempre em espaços públicos, todo terceiro domingo de cada mês. O encontro de hoje acontece das 9h às 13h, na rua Josafá Belo, ao lado do Museu Histórico Abílio Barreto, bairro Cidade Jardim, no Centro-Sul de Belo Horizonte.
A ordem, segundo Oliveira, é arregimentar cada vez mais amantes de Kombi nos eventos para render a devida homenagem ao primeiro automóvel fabricado no país e oferecer uma gama ainda maior de modelos. “Os modelos podem ser originais, turbinados ou customizados, não importa. Nossa meta é preservar a memória e alimentar a fantasia dos amantes do modelo”, diz, prevendo que a finalização da produção cada vez mais despertará a atenção de interessados em investir nessa “relíquia anunciada” que, não por menos, encabeça o Top 10 dos carros mais antigos procurados no site Mercado Livre da revista “Auto Esporte”.
O cineasta Aiano Mineiro diz não vender seu exemplar por dinheiro nenhum no mundo. Ele utiliza um modelo 2001, totalmente estilizado, para levar a sétima arte a diferentes cantos. A bordo da rechonchuda Beatriz, Mineiro já percorreu mais de 10 mil km. “Adaptamos a Kombi para abrigar um microcinema ambulante, onde promovemos projeções para pequenos grupos. E isso não tem preço”.
Restauração. Outro setor que pegará carona no processo de finalização da produção da Kombi é o de mão de obra, especificamente as oficinas especializadas em restauração que chegam a faturar até R$ 40 mil somente no processo de funilaria e pintura de um veículo antigo em estado razoável. Para encarar o processo completo de restauração, segundo especialistas, é necessário desembolsar até R$ 200 mil.
Nas últimas décadas, apesar da concorrência de vans maiores e com preços bem mais competitivos, a Kombi continuou liderando a preferência popular. Desde setembro de 1957 foram produzidas mais de 1,56 milhão de unidades.
O fim do reinado é justificado pela impossibilidade de remodelagem do modelo, que vinha sendo produzido somente no Brasil. A legislação vigente estabelece que a partir de 2014 todos os veículos devem deixar as fábricas dotados de airbags e freios ABS, acessórios que iriam encarecer o produto (hoje custando a partir de R$ 47,58 mil) e afetar a concorrência.