Live do Tempo

BH Airport celebra o retorno de voos para 30% dos destinos mesmo com pandemia

Marcos Brandão considera esse dado importante porque ocorre com apenas 10% dos passageiros transportados atualmente no aeroporto internacional

Por Americo Ventura
Publicado em 08 de julho de 2020 | 18:16
 
 
 
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O diretor-presidente da BH Airport, Marcos Brandão, afirmou nesta quarta-feira (8), em entrevista à live do Tempo, que o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte opera atualmente com 10% de sua capacidade, mas considerou importante o fato de que os voos já cobrirem 30% dos destinos normais do terminal. Segundo ele, isso mostra a importância da conectividade do aeroporto com a malha nacional. Brandão falou ainda sobre a instalação do aeroporto indústria e as possibilidades que o projeto abre para os empresários. A BH Airport trabalha com a perspectiva de estar retornar 60% dos voos que estavam sendo feitos em março. Confira a entrevista.

Antes da pandemia, cerca de 30 mil pessoas circulavam diariamente pelo aeroporto internacional de Belo Horizonte, tínhamos em torno de 300 voos por dia entre pousos e decolagens. Em julho são esperados mais de 100 mil passageiros e cerca de 1.400 voos. Isso significa uma retomada ainda na pandemia?

Na verdade, no mês passado, nós tivemos 67, 68 mil passageiros. No contexto que nós estamos hoje, acredito que é um grande primeiro passo. Estamos falando de um adicional de quase 40%, 50%, mas sabemos que estamos muito longe da realidade do aeroporto. Em julho, era esperado mais de 1,1 milhão de passageiros no aeroporto. Ainda estamos muito longe da realidade.

 

Os aeroportos foram a porta de entrada da Covid-19 no Brasil e no mundo. Até o vírus se propagar, houve uma janela de um, dois meses pra a gente se precaver. O que nós fizemos de errado?

Na verdade, o primeiro comitê de crises que montamos no aeroporto para começar a entender essa situação foi no dia 27, 28 de janeiro. Do ponto de vista prático, nós não tínhamos ainda informações qualificadas para entender como fazer essa contenção, como evitar os possívels riscos trazidos pela Covid. Naquele momento, todas as prioridades que nós tomamos, as ações tomadas, estavam relacionadas às questões sanitárias. Desde janeiro nós temos álcool em gel espalhados por todo o aeroporto, as medidas sanitárias de limpeza foram intensificadas em todos os horários. É um processo árduo de aprendizado e há falta de informação. Nós estamos em julho e ainda não existe uma regulamentação clara nos aeroportos a nível mundial quanto à importância de se medir a temperatura, por exemplo, dos passageiros. Muitos estão fazendo, mas do ponto de vista prático ainda não existe regulamentação É um processo de muito aprendizado e que hoje estamos em um  nível diferente, mas a um custo muito alto que todos os países estão  pagando.

 

Confins está operando com 10% de sua capacidade. Como isso impacta na receita oriunda das tarifas de embarque e como estão equilibrando a conta?

Todos os aeroportos foram fortemente impactados e a perda de receita é proporcional à perda dos passageiros. Hoje,  nossa receita gira em torno de 15% do previsto para o mês de junho, junho. Nós tomamos uma decisão no início de março que foi muito inteligente. Nós entendemos que a nossa prioridade nesse momento, embora existam essas questões financeiras muito sérias, era manter o emprego. Nós não demitimos nenhum colaborar nesse período e optamos por utilizar esse momento para estudar novos projetos, olhar para o futuro de uma forma mais estruturada, com a conclusão de alguns projetos que estão em desenvolvimento. Do ponto de vista prático, estamos consumindo  nosso fluxo de caixa. A expectativa é que as coisas comecem a melhorar. Este mês de julho tem um aumento de 40% em relação a junho, mas se não tivermos uma retomada nos próximos cinco ou seis meses, todos os aeroportos do mundo começarão a precisar do apoio de seus acionistas para manter suas operações. Não é o nosso caso ainda, temos conseguido fazer uma boa gestão das nossas despesas. Do ponto de vista dos investimentos, postergamos alguns para o final do ano, mas a prioridade é de ter os melhores projetos que vão contribuir para para quando a retomada ocorrer.

 

Você já tem alguma previsão de retomada de voos. Esses 30 voos diários de hoje permanecem na semana que vem, por exemplo?

Existe um aspecto no aeroporto internacional de Belo Horizonte. Embora nós tenhamos hoje 10% de passageiros, já estamos voando para 15 destinos. Em março, antes da pandemia, tínhamos 45 destinos. Mostra a importância da conectidade do nosso aeroporto para a conectividade da malha nacional. Ou seja, temos 10% de passageiros, mas mais de 30% dos nossos destinos já retornaram. Notícia importante para o Estado porque demonstra essa capacidade do aeroporto para a conexão da malha brasileira. A nossa expectativa é que para o mês de dezembro, de julho  a dezembro, a gente consiga retornar mais ou menos a 60% do que estávamos voando no início do mês de março.

 

Qual o volume de funcionários atualmente e até quando a BH Airport suporta esse quadro? E o faturamento, qual era antes a previsão e o que estão esperando para este ano agora?

Nossa previsão de manutenção de emprego tem uma relação muito grande com dois fatores. O primeiro é a retomada dos voos. Em paralelo, nós lançamos há pouco o aeroporto industrial. Isso trouxe  a oportundidade de transferir apenas cinco ou seis colaboradores da oepração de aeroporto para a unidade industrial. Agora estamos negociando com uma segunda empresa, fechando, vamos realocar possíveis colaboradores da BH Airport no projeto do aeroporto industrial. Entre outos tantos projetos. Nossa estratégia hoje é que projetos paralelos têm que andar com muita velocidade. Esta é a única forma que vamos ter de manter o emprego e olhar para a frente de uma forma estruturada, porque essess projetos são importantes hoje e serão ainda mais importantes quando iniciarmos a retomada. Quanto ao faturamento, hoje estamos a 15% numa base mensal. Na base anual devemos chegar a 65% do que era o previsto para o ano de 2020.

 

Mesmo assim, a BH Airport continua acreditando em Minas?

A melhor resposta para esse projeto é o aeroporto industrial. Projeto de 20 anos, legislação foi aprovada há praticamente 18 anos, 20 anos, Realizamos investimentos para desenvolvimento de um software de gestão, são recursos planejados, pensando na importância do projeto do aeroporto industrial. Ele traz um benefício para o fortalecimento da conectividade do nosso aeroporto  que é imprescindível para a retomada. Não tenho dúvidas de que nossos acionistas, o Grupo CCR e o Zurique Airport e a Infraero têm muito boas perspectivas de seguir realizando os investimentos. Estamos animados com a perspectiva do aeroporto industrial e de outros projetos que temos. Nesses três meses trabalhamos mais horas do que o comum, tamanha a importância dos projetos e da crença que nós temos de integrar um bom trabalho em Minas e cumprir com o papel de desenvolvimento social e socioeconômico do Estado.

 

A palavra mágica do turismo hoje é protocolo. Como estão sendo implementados os protocolos no aeroporto de Confins?

Imagina a sala de embarque de qualquer aeroporto, nós temos um assento que pode ser utilizado e um ao lado que não. Tem um X com uma mensagem para a pessoa se cuidar. O grande desafio de curto prazo é realmente trazer para a nossa cultura a importância de que a responsabilidade por esses protocolos é de cada um. Acho que podemos utilizar as empresas para fortalecer ainda mais essa cultura. Todos os nossos colaboradores,  quando saem pela manhã para se dirigir ao aeroporto, têm que preenccher um formulário que nós chamamos de triagem, onde temos 15 perguntas elaboradas por um médico, com o propósito de identificar um possível risco de contaminação e orientar a ficar em casa dependendo da respostas. Há dois meses, tínhamos 70 colaboradores trabalhando e recebíamos 15 triagens por dia. Mas deveríamos receber as 70. Esse processo levou algumas semans para que todos nós pudéssemos entender a importãncia  de cumprir com esse procedimento. Hoje, todos estão cumprindo. O uso da máscara, no início se discutia se era necessário. Com as regras estabelecidass pelo aeroporto, todos têm que usar. Temos auditorias para monitorar  e assegurar a utilização. Numa visão mais de médio prazo, eu acredito que esses protocolos terão que ter tratativas como se fosse um equipamento de proteção individual, previsto na legiação do trabalho e com penalidades até que sejam incorporados às nossas vidas. É um aprendizado. A organização tem esse papel, de não tolerar que o colaborador não cumpra um procedimento. Isso acaba também ajudando o colaborador a levar essa disciplina para dentro de sua casa.

 

As equipes foram  treinadas para agir e identificar problemas?

Dentro dos aeroportos, temos um centro médico, onde os colaboradores, ao menor sinal de qualquer risco, levamos o passageiro para essa área, onde temos enfermeiros, doutores e especialistas. Todos são treinados, esses procedimentos já existiam mesmo antes da Covid-19. O aeroporto é um dos lugares mais seguros do ponto de vista dos procedimentos regulados pela Anvisa e pela Organização Mundial de Saude. Temos os treinamentos. Nesta semana, estamos iniciando novamente uma reciclagem de todos os colaboradores em relação à Covid. Com mais profundidade. Fizemos uma parceria com o Exército brasileiro recentemente, onde os colaboradores foram treinados em processos de desinfecção, em como fazer a limpeza dos espaços. Aeroportos de modo geral estão sempre muito bem acessorados, seja pelo poder público ou por consultoria. Temos muita tranquilidade.

 

Previsão de 1.400 voos para o mês de julho significa crescimento de 75% com relação a junho, e uma movimentação de 100 mil pessoas, contra 67 mil em junho. De onde está vindo essa demanda?

Estamos muito bem demandados com voos cargueiros trazendo equipamentos, aparelhos respiradores, máscaras. Mas o aumento não tem relação direta com voos cargueiros. A malha brasileira é que começa a ser melhor desenhada, oferecendo mais destinos, e existe também passagens hoje muito baratas. Companhia área está procurando forma de incentivar as pessoas  a voar. Existe uma parceria entre aeroportos e companhias aéreas para mostrar para o passageiro que o aeroporto é um local seguro, as aeronaves têm um sistema de ar-condicionado dos mais seguros do mundo, não têm tecnologia melhor, talvez só nas UITs. É um processo de que as pessoas começam a acreditar que vamos ter que voltar de alguma forma. As pessoas estão incorporando os protocoos. 

 

Você acredita em mudança de perfil do passageiro?

Muitas reuniões que fazíamos em um dia, usando a ponte aérea, tem uma tendência muito grande de reduzir. Mas tem outro aspecto que discordo. Do ponto de vista prático, estamos aprendendo que é possível trabalhar em home office, mas existe algo que são as oportunidades  de negócio e de aprendizado que temos numa reunião presencial. As reuniões virtuais estão muito pragmáticas. Na reunião presencial as pessoas estão discutindo negócios, oportunidades, isso não tem preço. Muitas empresas não devem abrir mão desse relacionamento, da proximidade com o cliente, com os parceiros. 

 

Minas pode se transformar num hub de negocios? O que estão fazendo para atrair  empresas para se instalarem no aeroporto indústria?

 Depois do projeto da Zona Franca de Manaus, nosso país não teve um projeto dessa magnitude do ponto de vista do aumento da competitividade da indústria brasileira. Meu convite para o empresário brasileiro e o executivo que lidera as empresas internacionais é que conheçam o nosso projeto. Não é apenas de incentivos fiscais, é parte pequena, o grande benefício desse projeto é que a empresa importa a materia-prima, recebe dentro do aeroporto, faz a manufatura e exporta como se esse material nunca tivesse estado dentro do Brasil. Esse é o propósito. A redução de custo logístico é drástica. O Brasil é o país com um dos custos logísticos mais caros  em nível internacional. Esse projeto  resolve esse problema. Venham conhecer, temos apenas 750 mil metros quadrados, devemos instalar 150, 200 empresas e acabou. 

 

Custo de instalação de uma empresa é de quanto?

Existem alguns modelos. Nós podemos realizar o investimento de construção de um galpão, armazém, ou a própria empresa. Em média, as empresas que nós temos conversado, as solicitações são entre 3.000 a 10 mil metros quadrados. Uma média de investimento apenas com construção da ordem de R$ 50 milhões. Acredito em outros R$ 30 milhões em equipamentos, infraestutura. Daí que nasce a análise de um potencial de atração ao longo dos anos da ordem de R$ 3,5 bilhões. 

 

O que o governo federal deveria fazer para socorrer as companhias aéreas no Brasil?

Estamos falando de toda a infraestrutura aeroportuária. O governo, no início de março fez uma ajuda para os aeoportos, que foi a postergação das outorgas que deveriam ter sido pagas em abril e ficou para dezembro. Foram duas MPs, a 927 e a 936, que ajudaram as empresas de um modo geral, pois permitiu a redução propocionalmente do salário e da jornada de trabalho em 25%, 50% e 75%. Muitas companhias aéreas tomaram esses benefícios, o complemento é realizado pelo governo federal. Mesmo assim, são medidas que, do ponto de vista da companhai aérea, é marginal, não vai resolver o problema no longo prazo. Sei que há discussões entre as companhias e o BNDES para uma linha de crédito de longo prazo para que elas possam passar esse momento de uma forma mais confortável. Tem uma MP em discussão no Congresso que tem essa finalidade também, As companhias precisam de ajuda financeira para manutenção do fluxo de caixa, os empregos e o leasing. Existe um grupo de trabalho com Anac, Abear, Anea, Anvisa com reuniões semanais para acelerar a retomada.

 

A demanda menor pode impactar no emprego?

Estamos usando todos os recursos para assegurar a manutenção do emprego. Há projetos na área de logística que prevêem transformar o aeroporto em um importante hub logístico nacional. Fizemos uma parceria com o Porto de Santos, onde conseguimos trazer carga direto do porto para o aeroporto. Tem umas parcerias com companhias para fazer o transporte terrestre. Tudo isso é para oferecer algumas opções de serviços e aumentar o volume de negócios e manter os empregos, fazendo transferência entre áreas. Outro recurso é a redução de salário. Uma redução de 25% representa manutenção de 25% de empregos. São decisões que precisamos tomar e priorizar porque a mão de obra do aeroporto é de profissional especializado, no qual foi investido muito em treinamento. Fomos, em 2018 e 2019 considerados o melhor aeroporto da América Latina. É fruto da melhor equipe possível. Nossa prioridade é a manutenção desse conhecimento. Não podemos voltar e ter problemas de qualidade, de entrega. 

 

Esse projeto do aeroporto industrial não poderá aumentar a sonegação fiscal por produção?

O motivo pelo qual esse projeto levou quase 20 anos para sair do papel é que existe uma tecnologia de gestrão que desenvolvemos apoiados por consultorias especializadas e por muitas pessoas da BH Aiport e nossos acionistas que tem a finalizade de assegurar uma relação, um link entre o nosso sistema de gestão e o da Receita Federal. O trabalho da Receita Federal foi assegurar que esses sistemas conversem e tenham governança. utilizando de um sistema para encontrar a melhor forma para não permitir que produtos importados, por exemplo, sejam tratrados como se não fossem importação, que as notas fiscais sejam emitidas corretamente. O propósito do projeto é incentivar o benefício por conta de uma segurança empresarial maior. Por conta disso,  a Receita tem um escritório dentro do aeroporto industrial com o objetivo de auditar a BH Airport se todos os protocolos e processos estão sendo respeitados.

 

Houve investimento pela concessionária de R$ 870 milhões na construção do Terminal 2, vias de acesso, ampliação do pátio de aeronaves para suportar uma movimentação de 22 milhões de passgeiros por ano. Existe a previsão de novos investimentos ou estão adiados?

Nós temos ainda uma oportunidade, não é um investimento obrigatório por contrato, de fazer uma melhoria muito grande no Terminal 1. Projeto que estamos estudando, existem algumas oportunidades contratuais que nos permitiriam esse investimento, entre outros.  Todos projetos os que estamos planejando a partir de agora têm como premissa o retorno financeiro do investimento. Colocamos uma meta de colocar o aeroporto como um hub de negócios, entre outros projetos que vamos discutir. A ideia é fazer negócios para fomentar novos voos. 

 

Quais os planos para os voos internacional? 

Final de fevereiro e início de março estávamos conversando  com uma companhia aérea internacional, que já tinha previsto um novo voo internacional para julho, e a expectativa era de dez novos destinos. Infelizmente, esse projeto foi congelado temporariamente, mas há 90 dias existia a expectativa de trazer uma nova companhia aérea para nosso aeroporto que tinha a intenção de fazer aqui o seu minihub. Sairíamos de 45, 46 destinos para quase 60 destinos entre voos domésticos e internacionais. 

 

Projeto de aerotrópole mineira ainda continua?

Acho que temos que pensar sim. O aeroporto industrial é a primeira fase. Existe um grupo de projetos que brevemente vamos falar, que fazem parte desse contexto da aerotrópole, que nós mudamos, chamando agora de hub de negócios, mas a proposta é a mesma, de transformar a região. Com a pandemia, devemos repensar a relação das indústrias com a China, por exemplo, Muitas empresas devem retornar aos seus países. Questões somente de custos passam a ser secundárias. Deve-se olhar para o produto de uma forma mais ampla. Expectativa que investimentos sejam feitos no Brasil e aí entra essa proposta de hub de negócios, que é inovadora. 

 

O que o aeroporto de Confins pode oferecer além de ser um lugar de passagem?

Claro que podemos ter projetos para que os passageiros tenham experiências Na região do aeroporto, são 2 milhões de pessoas, o desafio é oferecer melhores restaurantes, opções de compra, isso farte do nosso plano, quem sabe ter salas  de cinema. A visão é essa. Podemos ter uma parceria com uma universidade e oferecer um curso de graduação no aeroporto, por exemplo.

 

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