Quando a empresa onde Brunely Pereira de Assis Sousa, 24, trabalha criou o programa de diversidade sob o guarda-chuva da pauta ESG – sigla em inglês para meio ambiente, social e governança, a operadora de coletor da Aperam South America quis integrar a equipe do grupo de afinidades da pauta LGBTQIAP+. A razão era simples e objetiva: lésbica, a jovem viu na proposta uma forma de debater e difundir temáticas que lhe são familiares e qualificar as informações que iriam circular na empresa, contribuindo com a quebra do preconceito sobre o universo LGBT.
“Esse grupo representa para mim a luta constante de uma comunidade geralmente excluída na sociedade. Podermos ter esse movimento dentro de uma empresa siderúrgica é de extrema importância, já que o ambiente é prioritariamente formado por homens. Além de podermos quebrar resistências e construirmos um ambiente em que as temáticas sociais possam ser debatidas, sinto que estamos juntos no mesmo propósito: vencer o preconceito”, diz Brunely.
Segundo o presidente da empresa, Frederico Ayres Lima, a Aperam tem dado passos importantes para a evolução de sua cultura organizacional com o programa. “Iniciamos essa jornada com o objetivo de tornar cada vez mais diverso o nosso time, pautados em nossos valores de respeito às diferenças e empatia. Nesta transformação cultural, buscamos praticar a afirmação de que a soma da singularidade de cada empregada e empregado, com sua personalidade e talento, resulta na maior riqueza da Aperam: as pessoas”, enfatiza.
Na unidade da Aperam em Timóteo, no Vale do Aço, as reuniões dos grupos de afinidade ocorrem a cada 15 dias, para discutir as pautas e organizar a divulgação. “Não são todas as pessoas que estão abertas ao tema, mas acredito que estamos evoluindo. É importante saber a importância de tratar as pessoas de acordo com as nomenclaturas corretas; tudo para tornar o ambiente respeitoso e sem preconceito. Nunca tive medo de me assumir e falar sobre minha orientação sexual; pelo contrário: tenho orgulho de ser quem sou e da pessoa que estou me tornando”, diz Brunely.
Oito em cada dez empresas no Brasil já têm algum comitê ou grupo ligado à questões de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). Ações desse tipo estão em 79% das companhias, segundo levantamento feito pela Deloitte em 2022, com 374 organizações. Em pelo menos metade dessas companhias, as questões LGBTQIAP+ já têm uma frente específica.
Novas gerações abrem espaço para debate
De acordo com o consultor e secretário Executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, Reinaldo Bulgarelli - movimento nascido em 2013 com 16 empresas e hoje com 176 -, a pauta LGBTI+ começou ganhando espaço nas corporações por meio da chegada das novas gerações, da pressão de colaboradores para que as gestões olhassem para o tema como direito humano e também pelo fato de que a pauta da sustentabilidade avançou por meio dos investidores e chegou aos integrantes dos conselhos de administração.
“Vejo uma nova onda de empresas brasileiras, que por questões éticas e de tomada de decisões, estão mais antenadas ao tema ESG, pauta que já chegou à mesa dos conselhos de administração. A maioria delas resiste e vira as costas, pois não querem negócios desafiados por agenda de direitos humanos, pessoas e meio ambiente; outras tantas fazem o ESG Washing, que é mais marketing do que ação prática. E temos um grupo que vem discutindo e implementando ações reais de sustentabilidade desde o início de 1990, quando surgiram o Cebeds (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) e o Instituto Ethos”, cita Bulgarelli.
“S” para ampliar debate
Na visão do consultor, um aspecto interessante no Brasil foi o fato de o S, da sigla ESG, focado em social, ter sido ampliado e ter ganhado temáticas específicas, como o LGBTI+, a questão racial, a pauta mulheres, pessoas com deficiência e, mais recentemente, gerações - que debate sobre como as empresas devem ser ambientes interessantes para pessoas de todas as idades.
“Em todo o mundo o S chama a atenção para a localidade onde está inserida a empresa, as pessoas e o meio ambiente. Por aqui, acredito que demos prioridade para questões que possam contribuir para elevar o patamar civilizatório e cultural na comunidade onde se está atuando, combater a pobreza e as desigualdades, haver mais participação das pessoas e melhorarmos os índices de violência, entre vários outros”, acrescenta.
Na visão de Bulgarelli, é necessário que as empresas - grandes, médias e pequenas - não foquem suas estratégias apenas em ganhar dinheiro, mas se vejam com corresponsáveis na sociedade onde estão inseridas. “É de grande relevância não apenas aderir às pautas ESG, de diversidade, inclusão, questão racial, mas que os CEOs passem a falar mais sobre isso tudo, assumam a responsabilidade corporativa na sociedade, ajudando a enfrentar o machismo, o racismo, a LGBTfobia e outras intolerâncias”, acrescenta.
Interesse em ser uma empresa melhor para pessoas LBTQIAP+ trabalharem cresce 52%
O interesse das empresas da agenda LGBTQIAP+ é cada vez maior. Em 2023, 91 organizações participaram da pesquisa “Melhores empresas para pessoas LGBTQIA+ trabalharem”. Foram 52% a mais em relação aos 60 participantes de 2022. O estudo é feito pela A Human Rights Campaing (HRC), em parceria com o Instituto Mais Diversidade e o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+.
Minas Gerais é o terceiro Estado com mais certificações de melhores empresas para LGBTQIAP+
Das 91 empresas que participaram do estudo das “Melhores empresas para pessoas LGBTQIA+ trabalharem”em 2023, 57 foram certificadas. Em 2022, das 60 partipantes, 38 conseguiram. Neste ano, Minas Gerais é o terceiro Estado com mais selos de melhores empresas para pessoas LGBTQIAP+, com seis certificações: Alcoa Aluminio, ArcelorMittal, Belgo, Localiza, Novo Nordisk e Wabtec Brasil.