Sem saída

Prefeituras relatam falta de verba para obras nas estradas

Gestores municipais dizem receber cobranças para resolver demandas de responsabilidade do Estado e da União

Por Rafael Rocha e Ana Luiza Bongiovanni
Publicado em 27 de março de 2022 | 05:00
 
 
 
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Uma mineradora instalada em Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas Gerais, atrai um fluxo intenso de caminhões com toneladas de minério, o que ajuda a deixar a MGC–259 em péssimo estado. O percurso é crítico entre Serro e Gonzaga, com cerca de 150 km. A Prefeitura de São João Evangelista informou que o asfalto é bem antigo e que o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) executa apenas tapa-buraco, sem nunca ter providenciado o recapeamento da pista. Caso parecido com o da LMG–752, que liga Sabinópolis a Rio Vermelho, onde os 56 km estão com o asfalto tão ruim que o pavimento está soltando. “Buraco lá não tem nem condição de contar, só tem dado prejuízo”, reclamou o assessor de um prefeito da região. “Nem mesmo com a ajuda de deputados a coisa tem se resolvido”, finalizou.

O mesmo argumento foi apresentado por Fúvio Olímpio, prefeito de Coronel Xavier Chaves, para se referir aos 12 km da LMG–809, que liga Prados a Dores de Campos, no Campo das Vertentes. “Tem tanto buraco que está pior do que estrada de terra”, diz. As cidades sofrem, pois o caixa minguado nem sempre dá conta de bancar reparos maiores. “Prefeitura pequena não tem condição de fazer grandes obras de engenharia”, explica José Roberto, prefeito de São José do Goiabal. 

Ao ver que sua cidade estava sendo prejudicada devido a uma cratera que se abriu na MG–329, o prefeito de Rio Casca, Adriano Alvarenga, preferiu bancar os reparos iniciais com recursos municipais. Ele diz que o DER apareceu em seguida. “Vi gente acamada, pacientes oncológicos e carga de tudo quanto é coisa parada na estrada”, diz. “Se você for ficar esperando recurso dos governos estadual e federal, você está morto”, desabafa. 

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Mapa feito por O TEMPO revela problemas em estradas por todo o Estado; navegue

O DER informou que possui R$ 700 milhões para manutenção de estradas e R$ 300 milhões para a construção de três pontes em Minas Gerais. O dinheiro é fruto da indenização paga pela Vale devido ao rompimento da barragem em Brumadinho, tragédia ocorrida em janeiro de 2019. Um mapeamento do DER demonstrou que são 4.000 km de rodovias em estado ruim ou péssimo no Estado. Desses, 800 km estão com obras em andamento. A reportagem de O TEMPO solicitou a lista de obras prioritárias, mas o DER não tinha enviado até o fechamento desta reportagem.

Prioridades

Em Rio Manso, na região Central de Minas, a dimensão dos estragos no período chuvoso fez com que a prefeitura precisasse priorizar algumas obras. “O pessoal cobra, porque muitos não conseguem entender a dificuldade do município. Rio Manso é uma cidade pequena. Nós temos poucos caminhões e poucas máquinas. Só as nossas máquinas não dão conta, por isso tivemos que contratar algumas. A nossa vontade é de arrumar tudo de uma vez, mas não conseguimos”, conta o secretário de Obras da cidade, Antônio Gomes Pereira. 

Entre dezembro de 2021 e meados de fevereiro deste ano, período em que foram registradas mais chuvas na região, 12 pontes foram carregadas pela enxurrada, na parte rural da cidade, que decretou estado de calamidade. “Nesse período chuvoso é complicado, porque muitas vezes fazemos uma obra de dia e, à noite, vem a chuva e leva tudo embora”, lamenta Pereira. 

Segundo o secretário, a BR-381 foi o principal problema no acesso até a cidade. “Tivemos queda de barreiras e tem alguns trechos onde não dá pra passar mais de um carro. E estão demorando demais pra arrumar isso aí, trazendo risco para os usuários”, afirma. A rodovia, federal, é responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

O órgão também foi consultado, mas enviou, por meio de nota, uma resposta genérica. “O Dnit atua de maneira prioritária na recuperação dos trechos das rodovias federais de Minas Gerais. O trabalho ocorre de maneira ininterrupta, desde o final de dezembro de 2021, para restaurar a trafegabilidade das rodovias impactadas pelas fortes chuvas que causaram quedas de barreiras e processos erosivos”, informou o órgão. 

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