Helenice Laguardia

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Helenice Laguardia escreve sobre Economia em Minas. Fique por dentro das atualizações do Minas S/A.

MINAS S/A

Gerdau está na vanguarda do uso de tecnologias na cadeia do aço

A temporada Minas S/A Inovação tem hoje o oitavo episódio, com Gustavo França, Diretor Global de Tecnologia e Digital da Gerdau

Por Helenice Laguardia
Publicado em 05 de maio de 2024 | 01:37
 
 
 
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A temporada Minas S/A Inovação tem hoje o oitavo episódio, com Gustavo França, Diretor Global de Tecnologia e Digital da Gerdau, e vai até maio nas plataformas de O TEMPO.

“A Gerdau tem 123 anos de história e a inovação sempre esteve presente no nosso DNA”, conta França, que está há 25 anos na companhia. Em Ouro Branco (MG), onde a Gerdau tem a maior usina de aço, Gustavo conta que tem o conceito de gêmeos digitais.

“É como se fosse uma cópia virtual do processo produtivo através dos dados. Então eu consigo ver cada etapa do meu processo simulado através dos dados, ou espelhado através dos dados", explica.

Com os dados, França diz que é possível antecipar determinadas situações ou rodar cenários, cenários antes que eram executados e levavam muito tempo para que se pudesse tomar determinadas decisões.

"Hoje eles são rodados e executados em questões de segundos, isso nos permite tomar decisões de maneira muito rápida”, explica o executivo.

França fala também sobre outro quesito que está dentro da jornada da indústria 4.0., que não só olha a competitividade, mas também olha a segurança das pessoas que estão nas operações da Gerdau.

"A gente tem inúmeros robôs aplicados em atividades extremamente críticas no nosso processo produtivo e que vem auxiliando definitivamente a maneira como a gente produz aço, a maneira como a gente entrega valor", conta França, diante da possibilidade de determinadas atividades serem feitas por robôs e evitando, com isso, que as pessoas estejam expostas a atividades de maior risco.

A seguir, a íntegra da entrevista de Gustavo França: 

HL: Gustavo, queria começar exatamente com isso. Como a inovação tem sido inserida na cadeia de produção da Gerdau atualmente? 

GF: Helenice, são 123 anos de história e a inovação sempre esteve presente no nosso DNA. Eu digo sempre que o trabalho começa com a questão da cultura, que são os comportamentos que a gente encoraja e desencoraja na organização, ou seja, são as nossas crenças, são os nossos direcionadores estratégicos, e a inovação sempre permeou a nossa estratégia na maneira como a gente entrega valor para os nossos clientes, para os nossos colaboradores, para os nossos fornecedores, para os nossos acionistas de uma maneira em geral, sempre tentando antever as tendências de mercado, estudar, testar, experimentar, falhar rápido, entregar em ciclos curtos, propiciando dessa forma uma entrega de valor conjunta em todo o ecossistema que estamos inseridos. Então são 123 anos que a gente vive uma intensa metamorfose, sintonizando a organização para um momento de mundo com tudo que o mundo vem oferecendo, e também possibilitando que a organização seja um habilitador social de impacto na vida das pessoas que estão presentes, ou que estão diariamente consumindo os nossos produtos, diariamente se beneficiando das obras de infraestrutura que são suportadas pelos nossos produtos e pelas nossas soluções. Então, inovação está dentro do nosso core business.  

HL: Essa inovação vai estar cada vez mais dentro do core business da Gerdau, né, o foco principal do negócio dela que é o aço, né? Isso para trazer cada vez mais benefícios para as pessoas, não é, Gustavo? 

GF: Sem dúvida, sem dúvida. A Inovação, e principalmente agora no momento onde a gente tem uma abundância de tecnologias, a Gerdau se posiciona como vanguardista no uso dessas tecnologias, estudando, entendendo não a tecnologia pela tecnologia, mas a aplicação da tecnologia como forma de extração de valor, de adição de valor para os nossos clientes, para os nossos colaboradores, como eu mencionei anteriormente. Então o objetivo é de fato criar uma experiência cada vez mais positiva na entrega das nossas soluções, no dia a dia de trabalho, na forma de trabalhar dentro das nossas operações, ou seja, a tecnologia vem para habilitar ainda mais e amplificar ainda mais o potencial humano, e ressignificar muito em nossas carreiras. Eu lembro que lá atrás na minha trajetória profissional, em algum momento da minha trajetória eu aprendi a datilografar. Hoje é uma skill que eu já não uso, ou uso basicamente para digitar, enfim, acessar conteúdo, mas já foi uma skill do passado. Então esse é o tipo de mudança que o mundo vai proporcionando e que a gente tem que ter a capacidade de entender, de sintonizar com a organização e de permitir que as pessoas se reinventem e busquem as suas melhores versões através da extração e do uso dessas mesmas inovações. Então, assim como foi lá atrás a datilografia, hoje nós temos a inteligência artificial, ChatGPT e uma série de outras tecnologias que estão em pauta no momento corrente. 

HL: Pois é, Gustavo, se antes, lá atrás eu também peguei essa fase da datilografia, a gente tinha até que performar para passar no teste, tinha que fazer não sei mais quantos toques por segundo, tinha também essa exigência. Hoje, as exigências são outras e a gente tem que se acostumar e se adaptar à inteligência artificial para ser usada ao nosso favor, para ser usada a favor da Indústria, não é, Gustavo? E aí eu quero saber de você como a inteligência artificial tem feito parte da cadeia produtiva da Gerdau no dia a dia. 

GF: A inteligência artificial e a inteligência humana caminham juntas, então não são elementos apartados. No momento que a gente olha a cadeia de valor do aço, desde o momento em que a gente recebe a matéria-prima até o momento em que a gente entrega soluções para os nossos clientes, aqui nós temos um momento de ressignificar o papel do humano e o momento de incluir a inteligência artificial principalmente em atividades transacionais, em atividades que a gente entende que podem ser melhoradas do ponto de vista de previsão, do ponto de vista de predição, de sumarização de conteúdos e assim por diante. Então eu diria que a gente tem experimentado a inteligência artificial em todas as partes da cadeia, desde o momento em que eu recebo a matéria-prima, então nós temos processos de classificações de matérias-primas, no momento em que eu produzo o aço, então nós temos a inteligência artificial aplicada na maneira como eu produzo o aço exatamente para aumentar o meu nível de previsão daquilo que eu estou gerando no final em termos de produto bruto, ainda a ser acabado, na continuação da linha de produção também na fase de produto acabado, e na entrega de valor para o cliente, no momento em que o cliente coloca um pedido através do nosso canal digital, através do “Gerdau mais”, também existem mecanismos de inteligência artificial que nos ajudam, proporcionando produtividade para o nosso cliente e também trazendo performance para esse mesmo cliente e para os nossos times, ou seja, buscando entregar a melhor experiência através do uso de dados. Então, Helenice, a inteligência artificial associada à inteligência humana, a gente está conectando isso em toda a cadeia do aço.  

HL: E aí, Gustavo, não tem como mais dissociar a inteligência artificial dos processos, das entregas, dos produtos, da conversa com o cliente para entregar um produto cada vez com um maior valor agregado. Como vai funcionar isso? Os sistemas vão só se refinando?  

GF: É, exatamente. Na verdade, os sistemas vão aprendendo a partir do comportamento, a partir das atividades, a partir da execução de determinadas tarefas, através dos acessos, enfim. Os sistemas vão aprendendo e naturalmente vão dando insights para a gente aprimorar a experiência proporcionada através dos canais digitais, mas também através dos canais físicos, porque a gente está vivendo uma era cada vez mais do que a gente chama de “figital”, do físico com o digital, então não necessariamente vai ser só digital. Nós temos o canal de relacionamento, nós temos a interação do vendedor com o nosso cliente, e nesse quesito a presença física ou os mecanismos físicos também vão sendo aprimorados a partir do momento que eu tenho mais insights, a partir do momento em que eu tenho os históricos de consumos, a partir do momento em que eu tenho a possibilidade de oferecer novas soluções para o meu cliente, a partir do momento em que eu entendo a forma como meu cliente consome o meu produto. Então sim, é uma fase de refinamento, cada vez mais as soluções estão sendo aprimoradas para ter a inteligência artificial incluída no contexto e eu entendo que é um caminho sem volta, do ponto de vista da maneira como nós vamos entregar valor no mercado, da maneira como a gente entrega valor e da maneira como nós vamos operar nas organizações, da maneira como a gente vai interagir com os nossos times e assim sucessivamente.  

HL: Gustavo, dá um exemplo para a gente na cadeia produtiva, no chão de fábrica da Gerdau, nas usinas, né, como que tem sido a aplicação dessa inteligência artificial na hora que está fazendo o aço? Qual o processo anterior em que passou a inteligência artificial para ela está sendo inserida lá na prática? A gente que é leigo sempre fica com essa curiosidade para entender isso. 

GF: Ótima pergunta, Helenice. Então tentando clarificar um pouco mais, trazendo alguns exemplos no processo produtivo, primeiro eu acho que é importante ter um claro entendimento que assim, tudo começa pelo problema que a gente quer resolver ou pela oportunidade/alavanca que a gente quer capturar do ponto de vista do negócio. Então o primeiro passo é entender bem o problema que a gente está buscando solucionar, porque como eu falei anteriormente, hoje a gente tem uma abundância de tecnologia e isso nos facilita na solução de muitos dos dilemas que afetam, por vez, a competitividade ou a experiência na entrega de valor para os clientes. Trazendo de maneira clara a solução, nós temos… você mencionou a nossa maior operação, a nossa maior planta aí em Minas Gerais, em Ouro Branco/MG, nós temos o conceito que nós chamamos de gêmeos digitais. O que são os gêmeos digitais? É como se fosse uma cópia virtual do processo produtivo através dos dados. Então eu consigo ver cada etapa do meu processo simulado através dos dados, ou espelhado através dos dados. E qual é a vantagem disso? Isso nos permite fazer simulações no que diz respeito ao o que eu quero gerar como resultado no final, se eu quero gerar mais aço, se eu quero atender uma determinada data, se eu quero estabelecer uma determinada sequência de produção ganhando mais competitividade ou redução de custo, então eu espelho isso através dos dados, e com os dados eu consigo através de modelos matemáticos que usam advanced analytics, que usam inteligência artificial, e aí das mais diferentes técnicas de inteligência artificial, nos permite antecipar determinadas situações ou rodar cenários, cenários antes que eram executados e levavam muito tempo para que a gente pudesse tomar determinadas decisões, hoje eles são rodados e executados em questões de segundos, isso nos permite tomar decisões de maneira muito rápida. Então a gente começou exatamente pelo coração do nosso processo produtivo, que é aciaria, que é onde a gente faz o aço bruto, a gente entrega os tarugos, a gente produz os tarugos, olhando o sequenciamento, olhando a entrada de matéria-prima, simulando esse processo através do conceito do próprio “gêmeos digitais” e hoje a gente já está em fases subsequentes do processo produtivo, onde a gente olhas as laminações, a gente olha processos mais à frente, e o objetivo no final do dia é que a gente tenha toda a nossa cadeia simulada, toda a nossa cadeia espelhada através de dados. E para isso a gente tem tecnicamente um conceito que a gente chama, uma estrutura que nós chamamos de “Data Lake”, que é uma grande base de dados global onde a gente coloca esses dados e através dos nossos times multidisciplinares, times com colegas que estão no negócio e na operação, colegas que estão em tecnologia Data Science, engenheiros, metalúrgicos, a gente faz sim as modelagens em linha com aquilo que a gente está querendo resolver, ou o problema que a gente quer resolver ou a oportunidade que a gente quer capturar em termos de resultado de negócio. Então, em algumas palavras é um pouco disso que a gente tem feito quando a gente olha o chão de fábrica, e tem outros exemplos, como o uso de câmeras também dentro do processo produtivo, câmeras de vídeo analytics. É possível hoje capturar imagens em praticamente todas as nossas plantas, a gente consegue ver, por exemplo, situações onde colegas podem estar entrando em áreas de risco. Então através de imagens eu consigo identificar e consigo proativamente sinalizar que não pode acessar determinada área, ou seja, receber insights para tomar uma medida em prol da segurança das nossas pessoas. Então esse é outro quesito que está dentro da jornada da indústria 4.0., que não só olha a competitividade, mas também olha a segurança das nossas pessoas, a segurança dos colegas que estão neste momento nas nossas operações. 

HL: E isso também, não é, Gustavo, é evitar acidentes de trabalho, que é uma preocupação constante na Gerdau e em todas as indústrias que a gente tem visto uma jornada contra esses episódios, né? Isso a inteligência artificial também tem ajudado cada vez mais e diminuído os acidentes? 

GF: Tem nos ajudado bastante, principalmente a antecipar predições e antecipar situações classificadas como incidentes graves, ou incidentes com grande relevância, ou com potencial impacto, sim. Através de dados a gente tem conseguido fazer análises preditivas que nos permite atuar de forma proativa e não reativa, ou seja, efetivamente evitar que o acidente que provoque impacto nos nossos colegas ou em vidas efetivamente sejam evitáveis, essa é a nossa busca constante. Nós temos um movimento na Gerdau que é o “Voz pela Segurança”, a segurança é um valor para Gerdau, então está dentro da nossa cultura, faz parte da nossa essência, das nossas crenças, e não por acaso a tecnologia também vem habilitando a maneira como a gente está lidando com esse tema, a maneira como a gente tem se colocado cada vez mais proativo para garantir um ambiente livre de acidentes. Então sim, existem modelos de inteligência artificial aplicada, como também existem câmeras, existem outros mecanismos, como por exemplo, controle de gases, monitoramento de vazamentos de gases, ou seja, medidores automáticos que a gente consegue também, conectados a modelos inteligentes, fazer predições e previsões em relação a um comportamento ou a uma determinada situação indesejada. 

HL: Por tudo que você está falando aí, Gustavo, a gente vê que a tecnologia é cada vez mais essencial na vida da Gerdau, não é? Além disso e paralelamente a isso, a Indústria 4.0, que é uma realidade que veio para ficar, não somente no chão de fábrica, mas em todos os processos aí, como você já tem falado, é uma necessidade agora, não tem como mais adiar esse caminho. 

GF: Exato. A Indústria 4.0 é uma filosofia, um modelo de trabalho composto por muitos componentes, ou muitas capacidades, e naturalmente, hoje, para a indústria ser competitiva, a gente precisa que toda essa filosofia, toda essa abordagem de trabalho e todas essas capacidades sejam colocadas à disposição, exatamente para a gente ter operações mais inteligentes e mais eficientes. Como eu comentei no início, com a abundância de tecnologias que nós temos no mundo disponível hoje, é natural que a gente consiga mais automatização, mais robotização, mais inteligência através de dados em prol de competitividade, em prol de uma entrega de valor ainda mais impactante, uma entrega de valor excepcional para os nossos clientes junto com os nossos fornecedores, com os nossos colaboradores e com todas as pessoas que fazem parte do ecossistema. Então é a tecnologia amplificando esse novo momento da Indústria. E o 4.0 na Gerdau, a gente tem alguns pilares que a gente trabalha. A gente trabalha no pilar, principalmente, cuidando da fundação, do que a gente acredita que são estruturas de fundação que suportam a adoção de tecnologias na própria organização, e aí os sistemas, sistemas especialistas, sistemas que são muito específicos para determinados processos, então a gente passa por sistemas especialistas, passa pelo processo de automatização e/ou robotização, e também passa pelo uso de dados e inteligência artificial, como eu comentei, que a partir do momento que eu começo a usar automatizações, começo a usar sensores inteligentes para capturar comportamento dos meus equipamentos, naturalmente eu vou tendo mais dados e através desses dados eu vou criando modelagens que nos permitem tomar as melhores decisões, ou o que a gente chama de decisões orientadas a dados. Então tem sido uma jornada intensa, Helenice, de criar fundações sólidas para que a gente tenha cada vez mais competitividade no nosso contexto de negócio. 

HL: Gustavo, e aí você falando dessa importância da indústria 4.0, eu fico pensando em relação ao mundo inteiro, em como estamos posicionados, porque eu vejo muito a indústria no Brasil da porta para dentro, ela tem uma competitividade que não deixa nada a desejar a qualquer indústria do mundo que a gente visite, não é? Essa tem sido a busca constante, você confirma isso assim também na Indústria do Aço, como a Gerdau, ela está aí na dianteira e não deixa nada a desejar a nenhum outro sistema mundial? 

GF: Sem dúvida nenhuma, a Gerdau, como a maior empresa brasileira produtora de aço, a gente busca estar na vanguarda do uso de tecnologias, no uso de inovações no sentido mais amplo, que permita entregar uma experiência incrível de valor através das nossas soluções para os nossos clientes. Então sem dúvida nenhuma, o nosso compromisso é sim antever, é entender a demanda a 10 anos à frente, entender tendências a 10 anos à frente, 5 anos à frente, entender para onde o mundo está indo e nos posicionarmos de maneira que a gente de fato consiga cada vez mais ser mais competitivos num contexto de negócios e num contexto externo que a gente não controla. Então efetivamente o que a gente controla são as variáveis internas e são essas variáveis que a gente busca orquestra-las da melhor forma, e aí é uma questão quase que hoje básica, mas que a gente vai aprendendo com o tempo, quer é colocar a tecnologia como elemento fundamental dessa história. Então eu digo como líder de tecnologia digital na Gerdau, isso deixou de ser coisa de T.I., deixou de ser coisa isolada, de uma área específica, e isso passou a ser business, isso passou a ser negócio, porque toda organização fala e precisa lidar e conviver com a tecnologia. Todas as profissões, todas as carreiras, todos os processos, inevitavelmente a gente precisa tocar em tecnologia, porque nós como cidadãos e consumidores de outras indústrias e de outras organizações, a gente também busca uma experiência cada vez mais digital, a gente já está vivendo uma experiência cada vez mais digital. Então faz parte do cenário atual e sim a gente tem buscado cada vez mais estar na vanguarda nesse novo contexto de mundo. 

HL: Gustavo, eu queria saber sobre um componente que eu estou vendo cada vez mais nas indústrias, quando a gente vai visitar as indústrias, que são os robôs. Na Gerdau, eu já vejo que são 5 robôs instalados em 2023 e 11 em estudo, é isso? 

GF: É, já temos vários robôs operacionais, como mencionado por você, e sim vários estudos em várias unidades aqui no Brasil e fora do Brasil também, nós temos robôs aplicados, e principalmente atividades que a gente acredita, até conectado com o tema da segurança, em atividades que a gente acredita que pode eliminar a exposição de colegas a situações de risco. Então a gente tem inúmeros robôs aplicados em atividades extremamente críticas no nosso processo produtivo e que vem auxiliando definitivamente a maneira como a gente produz aço, a maneira como a gente entrega valor. Então sim, é uma constante, tem sido cada vez mais presente na nossa realidade industrial e está dentro da nossa jornada de indústria 4.0, entender onde estão as oportunidades, entender onde a gente tem caminhos críticos do ponto de vista de segurança, como eu comentei, e a possibilidade de determinadas atividades serem feitas por robôs e evitando, com isso, que as pessoas estejam expostas também a atividades de maior risco.  

HL: Ou seja, o robô vem para somar, não é subtrair, né, Gustavo? 

GF: Perfeito. Eu acho que esse é um debate constante na sociedade quando a gente fala da tecnologia, e no final do dia o que a gente está falando é de amplificar o potencial humano. Eu acho que, e a gente tem debatido muito isso, é ressignificar nosso papel em novas atividades que nos permitam extrair ainda mais valor e nos permitam explorar ainda mais o nosso potencial cognitivo. Então os robôs vêm, assim como a inteligência artificial, para atividades transacionais, por vezes atividades de risco, que nos expõe e que complementam a nossa jornada. Então tal qual a inteligência artificial eu digo que ela chega para ser um co-pilot na nossa maneira de trabalhar, é um copiloto na maneira de trabalhar, os robôs também entram como copilotos em muitas das atividades que a gente vem executando, complementando a nossa jornada de entrega de valor na cadeia do aço. 

HL: Gustavo, uma outra questão sobre os robôs que eu tenho visto também, eles vão se atualizando, vão modernizando cada vez mais os robôs. Uma vez eu vi um robô até assinando o aço, tem a assinatura dele ali, o número dele, garantindo uma rastreabilidade, não é? Então assim, uma garantia de produção de que foi feito da forma mais sustentável possível e qualquer coisa que o cliente quiser depois em relação àquele aço, tem como monitorar e ver por qual máquina ele teve aquela assinatura, ele foi feito, não é? Isso garante rastreabilidade e segurança. 

GF: Sem dúvida. Tem robôs de vários tipos, robô para medir temperatura no processo produtivo do aço, robô para colocação de etiqueta, robô para colocar o fechamento das nossas bobinas, têm diferentes tipos de robôs e cada vez mais a tecnologia tem avançado. A gente nesse momento está participando, a gente tem um representante na Feira de Hannover, na Alemanha, exatamente acompanhando as tendências tecnológicas nesse segmento, na Indústria 4.0, entendendo o que o mundo está discutindo e debatendo nessa direção, e o objetivo é exatamente trazer o que há de melhor no mundo para a gente explorar dentro dos nossos investimentos e dentro das nossas inovações nas fábricas. Então sim, tem robô para muita coisa hoje, mas volta naquele tema, primeiro a gente olha o processo, entende o desafio, mapeia bem o processo e aí a gente entende qual é a solução tecnológica que a gente vai adotar, e passa pela adoção de robotização e outras tecnologias também.  

HL: Gustavo, e aí nas usinas da Gerdau, onde tem robô já? Você já pode contar, já pode explicar um pouquinho melhor, nessas usinas o que eles estão fazendo? 

GF: Como exemplo, você comentou da nossa usina de Ouro Branco/MG, a gente tem robôs aí nessa planta, como eu comentei, tirando a mostra de produtos para avaliação de qualidade, fazendo medição de temperatura. Em outra usina aqui em São Paulo também tem robô fazendo enfeixamento de bobinas do nosso filmach, colocando etiquetas, então tem uma variedade grande de experimentos de robôs já em operação nessa direção de check de qualidade, check de temperatura, limpeza de determinadas áreas críticas, ou de remoção de resíduos do processo produtivo, então tem várias aplicações já disponíveis aqui em plantas no Brasil, eu falei que da usina em São Paulo, tem a usina no Rio Grande do Sul, aí tem a usina em Ouro Branco, em Minas Gerais, tem várias dessas plantas que já vêm utilizando esse tipo de tecnologia. 

HL: Legal. E aí, Gustavo, ainda um pouquinho sobre o robô, e como isso pode se traduzir no preço do aço que chega para nós clientes, para outra empresa que está construindo ali um produto que a Gerdau está oferecendo no portfólio dela, que pode ter uma redução de custos. Esse tipo de máquina sendo usada na usina da Gerdau tem contribuído para essa redução de custos? Ou pode contribuir no futuro?  

GF: Sem dúvida a tecnologia e a robotização contribuem, como eu comentei anteriormente, na competitividade da cadeia de uma maneira geral. Então sim, o objetivo é cada vez mais a gente entregar soluções competitivas para os nossos clientes, entregar soluções performáticas para os nossos clientes, e gira entorno de ter maior competitividade no processo fabril, e aí claro, como eu comentei, a robotização, a tecnologia com dados, a inteligência artificial e outras tantas tecnologias, a indústria IOT e outras tantas, isso ajuda a ter um processo muito mais previsível, a ter um processo com custos evitáveis pela maior produtividade associada a cada etapa do processo, então naturalmente a busca constante é por maior competitividade. 

HL: Gustavo, como que tem sido feito então, por exemplo, você falou que as máquinas estão substituindo pessoas em lugares onde é mais perigoso ter a mão humana ali atuando, e como tem sido feita essa migração do pessoal para outras áreas da Gerdau? 

GF: Nós temos programas de formação bastante consolidados, Helenice, que permitem com que os nossos colegas passem por programas específicos de treinamento e de reposicionamento nas suas carreiras, possibilitando com isso com que a gente faça uma gestão de mudança eficiente. Então, isso vale para robotização, mas vale para todo o restante das tecnologias que vêm sendo aplicadas. Então o mundo vem debatendo isso, tem um momento de novos papéis, de novas responsabilidades. Não é de substituição, no final do dia é o que eu tenho falado e é o que a gente debate, é como é que a gente adiciona a tecnologia como um copiloto dentro da equação, um copiloto dentro da atividade laboral. Então isso exige curiosidade, isso exige conhecimento, isso exige preparação, isso exige entendimento dos processos, das novas tecnologias, dos novos conceitos que o mercado vem aportando, e nisso tudo a Gerdau hoje tem um programa de inclusão consolidado, que é o programa “Data4All”, que é um programa que não só ajuda colaboradores internos a aprenderem sobre dados, sobre tecnologia associada a dados, como também permite que a sociedade faça isso. É um programa com os dois ângulos, o ângulo interno e o ângulo externo, e no ângulo interno a nossa perspectiva é a contribuição que a gente pode entregar para a sociedade habilitando a sociedade cada vez mais a ter profissionais que usem dados. Da mesma forma, no tema de 4.0, robotização, nós temos programas internos, como eu comentei, que ajudam os colaboradores a se reposicionarem na cadeia através de novos conhecimentos. Nós temos um programa interno de formação de cientistas de dados, e o objetivo é o quê? É possibilitar que colegas operadores, colegas engenheiros, enfim, passem a ter essa nova competência de ciências de dados, porque o mundo não vai ter menos dados e a gente vai usar mais dados no processo e na cadeia de valor do aço. Eu arrisco em dizer que muitas das nossas profissões, ou praticamente todas elas, vão depender, vão precisar disso para extrair ainda mais valor, para ser mais eficiente e mais competitiva. Então temos programas bastante robustos que nos permitem, ou permitem a todos os nossos colegas na Gerdau se prepararem para esse momento de transformação que a Gerdau está vivendo. E naturalmente a nossa cultura, um dos comportamentos da nossa cultura é nos superarmos todos os dias, é a busca por nossa melhor versão, e a busca pela nossa melhor versão também exige que a gente esteja conectado com o mundo aí fora e buscando conhecimento. A gente está vivendo a era do conhecimento, é uma era de abundância de conhecimento, então não só os programas internos da Gerdau ajudam nesse processo de mudança ou de refinamento na carreira, ou até de mudanças em determinadas carreiras, mas o mundo lá fora tem oportunizado inúmeras soluções que permitem essa aprendizagem acontecer de uma forma muito mais rápida. 

HL: É, e é preciso ter essa flexibilidade por parte do ser humano, até mesmo para caminhar nesse mercado, não é? Ter perenidade nesse mercado, que como você disse, está cada vez mais usando dados. E o pessoal está gostando desses cursos, dessa qualificação toda que a Gerdau tem proporcionado, Gustavo?  

GF: Sim, Helenice. Eu sou suspeito de falar, porque sou patrocinador de muitas dessas ações e junto com o nosso time de desenvolvimento organizacional, a nossa área de RH… mas a gente vê, tem histórias muito felizes de transformação na vida das pessoas através desses programas de formação, colegas que hoje estão atuando em diferentes papéis e vivendo novos momentos, vivendo carreiras incríveis dentro da Gerdau, e é isso, a minha própria história, eu estou a praticamente 25 anos na organização e eu vivi muitas dessas histórias, não foram 25 anos da mesma história, foram muitas histórias ao longo de toda a minha carreira e é um pouco disso. A Gerdau sempre teve no seu core business a necessidade de desenvolver as pessoas ou de possibilitar que as pessoas se realizem e se desenvolvam. Então no momento atual não é diferente, o que a gente tem é uma abundância de conhecimento que facilita muito mais com que as pessoas se realizem, conheçam, aprendam, se preparem, então eu objetivamente acredito que sim, as pessoas estão se realizando. E um dado para você conhecer o “Data4All”, que é o programa social que eu comentei, são mais de 8 mil participantes no Brasil hoje, colaboradores da Gerdau e pessoas da sociedade que estão buscando se preparar para esse momento de mundo que vai ser mais orientado à inteligência artificial, e a gente almeja impactar ainda mais. O nosso objetivo é crescer ainda mais com o impacto de programas dessa natureza.  

HL: E a pessoa vai estudando outras formas de trabalho, não é, Gustavo? Eu reparo isso, o olho vai brilhando cada vez mais e ela vai vendo novos horizontes no jeito dela de atuar, novos mercados, não é? É uma condição que muda até mesmo uma condição social dela, né?  

GF: Muda, muda completamente, e por isso que a gente tem o programa social através do nosso Instituto Gerdau, esse é 1 programa de muitos programas que a gente toca na temática de educação, exatamente por entender que através da educação que a gente consegue incluir as pessoas na sociedade possibilitando que as pessoas possam ter oportunidades nas suas vidas e terem momentos felizes com as suas famílias, incluídas no mercado de trabalho que está em franca transformação. Então, ao mesmo tempo que a gente fala de um gap importante de profissionais de tecnologia, a gente tem falta de mão de obra qualificada. Então, quer dizer, a gente está tentando ajudar a preencher essa lacuna estimulando o conhecimento tanto dentro da Gerdau como também no entorno onde a gente está inserido, no ecossistema que a gente está inserido.  

HL: Gustavo, como esse novo jeito de trabalhar, como essa inovação, essa tecnologia, como isso tudo tem influenciado nos resultados financeiros da Gerdau? 

GF: Eu diria que a tecnologia, a nova forma de trabalhar, tudo isso torna a organização mais ágil. Mais ágil para responder a um contexto, como eu falei, contexto de mundo que muda constantemente e passa pela tecnologia, passa pelos modelos mais inovadores de trabalho, a gente tem modelos orientados a agilidade, times multidisciplinares, eu costumo dizer que é muito menos atuação em áreas e muito mais atuação dentro das grandes cadeias de valor do próprio negócio. Então é todo mundo olhando para a estratégia, orientado pela estratégia, com clareza de direção e com capacidade de reinvenção constante. Então essa agilidade organizacional, eu acho que ela acaba sendo habilitada por tudo isso que a gente tem visto aí de inovações tecnológicas. A Gerdau, hoje, tem mais de 30 times multidisciplinares atuando em desafios de negócio. E aí quando eu falo de times multidisciplinares, eu não estou falando de times de tecnologia, eu estou falando de times que exploram desafios de negócio e com profissionais de diferentes áreas trabalhando juntos em função daquele contexto de negócio, é como se fossem startups dentro da própria Gerdau. Então, quer dizer, é uma empresa com 123 anos que se permite testar o novo e se permite não fica presa à maneira que funcionou no momento anterior, mas olhar para frente e entender como o mundo está “drivando” essas transformações e como é que outras organizações também vanguardistas vêm desempenhando esse papel e vem transformando o seu próprio modelo de operação. Eu comentei anteriormente sobre o Silicon Valley, que eu tive a felicidade de estar lá no momento de construção de um hub de inovação da Gerdau, lá no Silicon Valley, e essa foi uma das coisas que eu aprendi, a gente no mundo das startups, times multidisciplinares, clareza de propósito, entendimento da estratégia, no final está todo mundo atuando em prol de geração de valor para todos e essa agilidade tem muito a ver com a cultura, e aí eu sim concordo que a tecnologia e os novos métodos nos ajudam muito a sermos cada vez mais competitivos dentro do cenário de negócios que a gente opera. 

HL: Aliás, Gustavo, a Gerdau foi a primeira empresa brasileira no setor de manufatura a abrir uma estrutura no Vale do Silício, lá nos Estados Unidos. Quer dizer, você começou todo esse trabalho de encontrar startups e como está hoje esse trabalho? 

GF: Hoje nós temos uma comunidade de inovação, que explora a inovação como cultura, explora os mecanismos de inovação na organização como um todo. O Silicon Valley continua sendo um ecossistema que a gente constantemente busca inovação, que a gente constantemente está em contato. Não por acaso eu frequentemente me conecto com o ecossistema, isso não é somente, ou não foi somente através do meu papel, mas o papel de todo um time que vem trabalhando na cultura de inovação e habilitando a cultura de inovação na Gerdau de uma forma transversal. Então hoje nós temos uma comunidade de inovação que explora teses de negócio através da inovação, através das startups, com técnicas como o hackathon, como o design thinking, como ideações, parcerias com aceleradoras de startups aqui no Brasil e fora do Brasil, e nós temos a nossa unidade de novos negócios, que é a Gerdau Next, que tem essa perspectiva de explorar a inovação também fora da organização, ou seja, tentando encontrar também novos caminhos adjacentes ao negócio do aço. Então a inovação está presente, não é digital inovação, no final tudo é inovação, tudo é transformação, e hoje a gente tem uma orquestração e uma governança muito bem definida. Novamente, começando pelos problemas ou as oportunidades que a gente quer resolver e depois uma caixa de ferramentas suficientemente robusta para nos ajudar a extrair ou encontrar soluções por vezes não conhecidas, e que daí a gente precisa do ecossistema de startups também colaborando. 

HL: Gustavo, eu estava olhando o resultado financeiro da Gerdau em 2023 e é muito claro lá os números. Ela anunciou R$5 bilhões e 700 milhões de reais, sendo R$3 bilhões e 200 milhões em manutenção, e os outros R$2 bilhões e meio em projetos de expansão e atualização tecnológica. Você está com uma missão aí enorme, com um protagonismo cada vez maior neste ciclo de investimentos da Gerdau para os próximos anos, não é, Gustavo? Conta para a gente um pouco mais assim, o que você tem nesse escopo aí programado para os próximos anos que a gente pode falar? 

GF: Perfeito, Helenice. É um trabalho coletivo, tem um timaço atuando em todo esse portfólio e naturalmente a gente contribui muito no advento da tecnologia, e eu diria que muitos desses investimentos naturalmente trazem tecnologia de ponta embarcada. Então é estado da arte em termos de tecnologia, tecnologia industrial, tecnologia da informação, tecnologia com orientação a dados, com sistemas especialistas e assim sucessivamente. Então é um time multidisciplinar olhando processos, olhando negócios, olhando engenharia, olhando industrial, olhando tecnologia da informação, de fato buscando ter o estado da arte nas nossas operações. O futuro, o que a gente tem estudado e a gente tem cada vez mais orientado do ponto de vista da nossa estratégia, é que vai ser muito mais IA driving, vai ser muito mais orientado à inteligência artificial, e nesse sentido a gente vem fazendo esforços e investimentos constantes na direção de permitir que a organização explore cada vez mais dados e tenha cada vez mais esses dados disponíveis para tomada de decisão. E aí tem todo um trabalho de governança, de cuidar da qualidade do dado, de cuidar de quem é o dono do dado, o que o dado representa oficialmente para que de fato a gente faça decisões baseadas em dados com altíssima qualidade e que nos permita tomar as melhores decisões. 

HL: Isso aí. Você falou também da Gerdau Next, né. Ela também tem aí uma posição estratégica nessa tomada de decisões, não é, Gustavo?  

GF: Sem dúvida. É uma unidade de negócio que vem explorando soluções tecnológicas adjacentes ou complementares ao nosso segmento do aço, e sem dúvida tem sido um universo de experimentação e de inovação que a gente tem se permitido explorar conjuntamente e tem sido fantástico, a jornada tem sido muito importante para o desenvolvimento e para o futuro da Gerdau, não só para o momento atual, mas para o futuro da Gerdau. A gente realmente acredita que a inovação é o fundamental para a gente conseguir mais 100 anos, mais 123 anos de Gerdau à frente. 

HL: É, o desafio é sempre esse, né, perenizar a empresa. É foco no core business dela, não é? Mas com tudo que a tecnologia pode ajudar. (risos) Gustavo, você citou uma feira em Hannover, na Alemanha, e vocês têm participado, a Gerdau tem levado a marca dela para essas feiras. O que você tem visto na comparação, claro, não tem como, com a Gerdau no que ela tem apresentado? 

GF: Assim, Helenice, a gente tem estado presente nos principais festivais, nos principais eventos de inovação do mundo. Recentemente voltamos da SXSW, que aconteceu em Austin, no Estados Unidos, tivemos presença marcante no South Summit, em Porto Alegre/RS, também um festival de inovação importante e relevante no Brasil, tivemos o Web Summit, no Rio de Janeiro, e agora a gente está em Hannover. A Gerdau tem buscado se manter atualizada, e mais do que se manter atualizada é extrair o que há de melhor desses principais polos de inovação do mundo. Então eu diria que a gente começa a ver muita sintonia com o que a gente está praticando, muito por essa atitude de estarmos buscando e de estarmos presentes nesses principais polos e ecossistemas de transformação do mundo. A gente tem visto muita sintonia naquilo que a gente está fazendo com aquilo que a gente tem encontrado e entendido através desses polos de inovação. É claro que a cada ida num evento dessa natureza a gente traz um conjunto de novas possibilidades de exploração e de experimentos a serem desafiados na organização, mas temos estado assim muito bem sintonizados com o momento de mundo e o momento de transformação, como eu comentei, buscando nos posicionarmos na vanguarda da adoção da tecnologia no sentido mais amplo, tecnologia industrial, tecnologia com o foco na informação, nos processos, na inteligência artificial, enfim, em todos os segmentos onde a gente vê transformação presente, praticamente em tudo a gente tem transformação na atualidade. 

HL: Queria que você falasse um pouquinho sobre a sua trajetória. Você até citou ao longo da entrevista, mas eu vi que você tem 25 anos que está na Gerdau, quer dizer, você construiu uma história, entrou como estagiário, estudou na área. Conta para a gente as suas origens até chegar a esse posto máximo da tecnologia na Gerdau. 

GF: Obrigado pela pergunta, Helenice, e é um tema que eu muito me orgulho, assim, eu sou soteropolitano, nascido em Salvador/BA, sou baiano, vim de família classe média baixa, vivendo em uma comunidade pobre de Salvador, e a primeira coisa que eu conto dessa minha história é que isso nunca me limitou, porque eu tinha um claro entendimento, muito orientado pelos valores dos meus pais de que educação era a única maneira que eu tinha para de fato trilhar novos caminhos. Então dentro de um contexto mesmo que limitado, eles investiram tudo aquilo que eles tinham para apoiar no meu desenvolvimento e a única coisa que eu podia fazer era dar-lhes em troca a minha prontidão e a minha disciplina na execução daquela trajetória que eles estavam me propiciando. Então foi uma jornada intensa, mas uma jornada com muita disciplina. Tem uma característica que eu me orgulho como profissional e como pessoa, eu sou extremamente disciplinado, então aquilo que eu me proponho a fazer como estratégia de vida, como entendimento de propósito para minha vida, eu coloco sempre muita energia e muita disciplina, porque eu acredito que é a única forma que você tem para realizar um sonho, é você ter um bom plano, é você ter disciplina na execução desse plano, é você se dedicar integralmente, porque não acontece por acaso, não é por sorte. As coisas acontecem, porque de fato existe um investimento pessoal substancial para fazer acontecer. Então você comentou, eu entrei como estagiário na Gerdau, e a Gerdau sempre foi uma empresa, e não é diferente hoje, que apostou nas pessoas, que buscou ter pessoas realizadas, pessoas felizes e realizadas no seu ambiente de trabalho, então nós temos falado tanto de well being, de felicidade, isso já é uma prática na Gerdau há muito tempo e eu vivo isso ao longo da minha trajetória na Gerdau, porque também foi através da Gerdau que eu vivi experiências incríveis na minha carreira e no meu desenvolvimento como cidadão e como profissional que sou hoje. Então é uma trajetória que se mistura o pessoal e o profissional por tudo que eu venho conseguindo trilhar na organização, claro que tem todo o meu compromisso e a minha disciplina. E tem uma característica adicional que eu gostaria de comentar, que é a curiosidade. Eu sou um cara extremamente low profile, mas uma das coisas que eu tenho na minha característica é curiosidade. Eu estou sempre muito inquieto por entender o que está acontecendo, o que vem pela frente, acho que isso me ajudou de alguma maneira a trilhar muito do que eu vivi na Gerdau, também de estar testando coisas novas, em papéis novos, em projetos novos, em funções diferentes. Eu mudei de Salvador/BA, morei em Porto Alegre/RS, morei em São Paulo, morei na Califórnia, quer dizer, me permiti também testar coisas novas, acho que tem muito disso que orientou o meu momento de carreira, do qual eu tenho muito orgulho e muita gratidão por todos aqueles que me orientaram e me inspiraram até aqui, e continuam me inspirando para os momentos seguintes. 

HL: Que legal, Gustavo! Você tem otimismo com os novos momentos, o futuro dessa geração que está aí, como você está fazendo para inspirar esses novos talentos e reter esses novos talentos também numa indústria tão tradicional como é a do aço? 

GF: A nova geração que está chegando, ela traz uma perspectiva de mundo completamente diferente da minha geração, da geração de outros colegas, de outros executivos, então dentro da lógica da inclusão, esse mix geracional para a gente só traz vantagens competitivas e criatividade. Então o que a gente tem buscado como organização é naturalmente criar um processo que permita com que as pessoas sejam elas mesmas, e aí tem uma questão fundamental, que é a base da cultura organizacional, aquilo que a gente tem estimulado, aquilo que a gente tem encorajado, aquilo que a gente não tem encorajado, como conduta dentro da organização. E aí, com um ambiente de abertura, um ambiente onde a gente possa ter diálogos com verdade e respeito, um ambiente onde as pessoas possam ser elas mesmas se superando todos os dias, eu acredito que a gente vem conseguindo manter um clima de engajamento constante aqui na organização, inclusive para os colegas da nova geração. E é claro que para cada um de nós líderes, a gente está constantemente aprendendo a lidar com o dia a dia, a lidar inclusive com as nossas próprias vulnerabilidades e entendendo que por vezes a perspectiva de mundo que a gente tinha até aqui está mudando, e a gente tem que saber que a gente já não sabe mais tudo, ou que aquele líder que sabia tudo não é bem isso. Hoje a gente tem que complementar com um time que… o meu time tem pessoas muito melhores que eu e pessoas muito mais capazes do que eu, e o meu papel é mobilizá-los, ou fazer com que o meu sucesso seja através do sucesso deles ou com o sucesso deles. Então eu acho que essa é uma conjuntura de mundo que a gente está vivendo. Eu recentemente estive em Colorado Springs fazendo uma formação de liderança onde a essência da formação foi autoconhecimento, foi o meu papel como líder exatamente nesse momento onde a gente tem mais vulnerabilidade, mais incerteza, mudando constantemente, novas gerações chegando, novas expectativas, a gente sem todas as respostas e está tudo ok. Eu acho que o fundamental é a gente ter tranquilidade.  

HL: É isso aí, o novo está muito rápido. Como você falou durante a entrevista, antes demorava-se muito para encontrar sistemas, soluções, e hoje não, é tudo muito rápido, não é? Então faz toda a diferença.   

GF: Tudo muito rápido. Você imagina que em menos de 6 meses você tem uma quantidade de novas soluções e tecnologias que em momentos anteriores levavam anos, e está tudo ok. A gente tem que cuidar, sem dúvida ajustar o pace, mas ajustar o pace sem criar rupturas.  

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