Menos de uma semana após o governo federal anunciar o barateamento de carros populares por meio de uma política de redução tributária, concessionárias de Belo Horizonte já sentem o impacto negativo nas vendas. Em alguns locais percorridos pela reportagem, o movimento chegou a cair cerca de 40%, conforme gerentes das lojas.

Há também relatos de cancelamentos de compras —  mesmo com os veículos já faturados — e de consumidores que ainda têm dúvidas em relação ao que está por vir, criando um cenário de incertezas para ambas as partes.

A medida de redução de preços foi anunciada na última quinta-feira (25) pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), sendo que o texto final foi previsto para um prazo de 15 dias. De acordo com ele, os carros que custam até R$ 120 mil terão redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). 

Atualmente, os carros de menor valor no Brasil custam aproximadamente R$ 70 mil. Os cortes nos preços finais devem variar de 1,5% a 10,96%. Os descontos vão considerar o valor dos veículos (quanto mais barato, maior a isenção fiscal), eficiência energética (menos poluentes terão maior isenção) e densidade industrial (aqueles que tiverem mais componentes e acessórios nacionais também terão mais desconto). 

Cenário nebuloso

A expectativa pelo que está por vir tem atingido tanto as concessionárias quanto os próprios consumidores. Gerente comercial da concessionária Recreio na avenida Barão Homem de Melo, no bairro Estoril, região Oeste de Belo Horizonte, Geraldo Magela afirma que o momento é de aguardar “para ver o que vai acontecer”.

Segundo ele, a busca por carros populares diminuiu nos últimos dias, e o cenário atual continua nebuloso, sem respostas para algumas perguntas. “Quanto será o desconto específico para cada modelo?”. “Haverá ações especiais?”, “Quando, exatamente, entrará em vigor?” são umas das questões.

No momento em que a reportagem estava na concessionária em questão, havia apenas um casal negociando um carro de cerca de R$ 200 mil. Houve casos de consumidores que marcaram uma visita ao local e desmarcaram na esperança de, em breve, conseguirem comprar um veículo mais barato. O pensamento entre eles tem sido o mesmo: “Vamos esperar”.  

“Estão todos aguardando para ver o que vai acontecer, pois o cenário continua incerto. Muitas pessoas que estavam buscando carros resolveram ‘dar uma pausa’ nesta semana. O mercado já sentiu o anúncio”, diz ele.

Esse impacto no mercado também é destacado pelo gerente de vendas especiais e gestor de vendas de varejo da concessionária Renault Minas France, no bairro Funcionários, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. De acordo com ele, o anúncio do governo federal “parou totalmente o mercado”. 

Quem ainda não comprou um veículo, diz ele, agora está esperando pela redução dos preços. O gerente acredita que esse estado de espera pode levar até um mês, dado o prazo para o texto final do governo federal e a aplicação das medidas. Esses tintas dias, então, seriam de ‘colapso’, segundo ele.

“O movimento diminuiu, sim. Ainda temos procura, mas de pessoas que estão pesquisando para saber como ficarão os preços, querendo entender melhor a situação. Também houve casos de clientes que nos buscaram acreditando que os descontos já estavam em vigor. Temos a nossa responsabilidade de manter o cliente informado sobre tudo o que está acontecendo”, diz ele.

Movimento 40% menor no fim de semana

Gerente de vendas da Hyundai Tai Motors, na avenida Silva Lobo, no bairro Nova Suíça, na região Oeste de Belo Horizonte, Ângelo Campos calcula que o movimento na concessionária caiu cerca de 40% no último fim de semana. Até mesmo a procura por veículos mais caros, segundo ele, sofreu redução, apesar de menor. Consumidores que entraram no estabelecimento comentaram que estão esperando os novos preços. 

“Tem também aqueles que ainda têm muitas dúvidas, que mencionam não haver nada definido. Houve um caso em que o carro já estava faturado e pediram para cancelar a compra”, afirma.

Queda nas vendas diretas

Se os consumidores que pretendem comprar apenas um veículo estão esperando os descontos, quando se trata de empresas, a situação é ainda mais intensa. Conforme os gerentes entrevistados, a redução das comercializações é ainda mais sentida quando se trata de pessoa jurídica, que compra em abundância. 

Gerente da Automax Fiat, da avenida Raja Gabaglia, no bairro Estoril, na região Oeste de Belo Horizonte, Cláudio Viana afirma que o impacto foi pequeno em relação às vendas dos automóveis de entrada para pessoa física. Mas a situação muda quando o assunto são as vendas para as empresas.

“Proprietários de autoescola, por exemplo, estão esperando para realizar as compras. Então, a situação muda em relação à pessoa jurídica”, afirma ele. “Agora, em relação aos veículos mais caros, não houve reduções”, diz.

Gerente comercial da concessionária Recreio na avenida Barão Homem de Melo, Geraldo Magela também destaca os impactos negativos nas vendas para as empresas. “Não é somente em relação ao varejo.  Há clientes comprando em maior quantidade e também estão aguardando preços mais baixos”, diz ele.