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O técnico Marcelo Fronckowiak venceu longe do Brasil.
Não é o primeiro e certamente não será o último.
É apenas mais um na lista.
O treinador foi recentemente campeão francês pelo Tours. Valorizado, teve o contrato renovado até 2026.
Segurança, algo que não existe no Brasil.
Fato.
Aos 55 anos, Marcelo é dono de uma personalidade rara. Está longe do país desde 2017 passando pela Itália, Polônia e Eslovênia.
Não pretende voltar.
Marcelo conversou com o blog.
'Tours é um grande clube Europeu e, certamente, o clube mais importante da França nos últimos anos. Eu tinha esta intenção de voltar a dirigir uma equipe competitiva após a Polonia e fiquei muito feliz em assinar aqui. Sempre é um prazer disputar finais, aqui acaba sendo uma obrigação também'.
Ex-assistente de Renan Dal Zotto, o técnico não poupou críticas ao sistema e os métodos aplicados na seleção masculina.
Marcelo diz sem sustos que na atualidade a França tem um campeonato superior ao do Brasil:
'Hoje existe muita segurança na França em relação ao respeito aos contratos, você assina e sabe que vai receber, além disso, muitos países sofrem com a questão de investimentos e muitos bons jogadores acabam usando a França para se mostrar e alavancar contratos melhores na Itália e na Polônia, por exemplo. A escola francesa forma excelentes jogadores, a liga é organizada e o voleibol francês e o atual campeão olímpico no masculino. Todas as excelentes escolas de voleibol estão presentes aqui'.
A convocação de Abouba, oposto brasileiro do Tours, é pauta obrigatória. O técnico deixa claro que o jogador só agora teve o trabalho reconhecido, mas garante que sempre brigou por ele:
'O Abouba faz por merecer a valorização. Ele se recuperou plenamente da sua lesão e poderá alçar voos maiores. Sua performance anterior já ocredenciava para convocação. Aliás, sempre briguei por ele'.
A valorização profissional é o tema.
Mas por que alguns profissionais, como o caso dele, são mais reconhecidos e valorizados fora do Brasil?
'Existe um mercado muito restrito para os treinadores no Brasil. Temos menos investimento do que em fases anteriores, não conseguimos valorizar o produto “voleibol de clubes”, temos marketing para a seleção, mas não profissionalizamos a gestão da nossa Superliga. Como aceitar que o meu estado, Rio Grande do Sul, celeiro de atletas campeões olímpicos, não tenha representantes na Superliga masculina e nunca tenha tido uma equipe feminina? Sempre digo que não precisamos reinventar a roda, basta que sigamos os exemplos das melhores ligas onde são os clubes que gerenciam o campeonato e que buscam rentabilizar o mesmo. Mais equipes, mais competitividade, mais emprego e melhor nível'.
O blog apurou que Marcelo tem mercado no Brasil e recebeu propostas para a temporada 2023/2024.
Ele explica a decisão de ficar na França:
'Atualmente não vejo segurança no voleibol brasileiro, não tem investimento fora Sada, Minas e Sesi no masculino. Os outros projetos são ainda incipientes e muitas vezes dependem do “tempo político” da administração local, o prefeito perde a eleição, o projeto acaba'.
A saída da seleção brasileira em 2019 não foi bem digerida. Nem por ele, nem por ninguém.
Marcelo na verdade foi derrubado por membros da comissão técnica.
Ele não usa os termos.
O que Marcelo não esconde é a mágoa com Renan Dal Zotto e o corte às vésperas da Olimpíada de Tóquio:
'Eu fiquei muito honrado de ter sido lembrado para a seleção com 50 anos de idade, creio sinceramente que isto poderia ter acontecido antes. Enquanto eu estive lá trabalhei muito, os investimentos apos a Olimpíada do Rio em 2016 diminuiram e toda a comissão cumpria varias funções. Nós auxiliares éramos os braços, por exemplo. Fiquei bastante triste ao ser comunicado pelo Renan da minha dispensa em dezembro de 2019, creio que era ideia dele mudar após o mundial de 2018, mas ser cortado às vésperas de Toquio foi duro. Vida que segue e bola para o alto'.
A atual seleção masculina é conhecida pela política interna e a força do Senado.
Marcelo explica e diz que os resultados acabam respondendo e avaliando o processo.
'O que existe são crenças em relação aos métodos e nomes. Faz parte daquilo que as pessoas que estão no comando usam como princípios. Por vezes um ou outro nome poderia ser discutido, um outro método poderia ter sido adotado, mas os resultados acabam sendo o maior avaliador do processo'.
Faz sentido.
Que o diga o 7 a 1.