LUIZ TITO

A fragilidade das instituições

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 02 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 

Fatos que inesperadamente vieram à tona em 2017 viraram de cabeça para baixo o tabuleiro da política, da sucessão nos Estados e propriamente a do presidente da República.

Apresentados como delações premiadas por seus principais atores, muitos deixaram à mostra o quanto no Brasil meia dúzia de bandidos conseguiu costurar acordos e manobras e assim, impunemente, fabricar regras, portarias, decisões e leis, nomeando ministros, dirigentes de estatais, como vimos, à luz do dia, em conversas nos corredores de prédios públicos, em corridinhas de pizzarias, nos gabinetes parlamentares, de tribunais do Judiciário, de governadores e até na residência oficial do presidente da República. De Mossoró ao Chuí, não há Estado brasileiro onde não tenha ocorrido com êxito uma investigação da Polícia Federal, e os nomes alcançados são de ex-ministros, senadores, governadores, deputados, todos com longa folha corrida, muitos ainda soltos graças a eventuais concessões do Judiciário ou à leniência da própria legislação.

As revelações feitas nas delações de empresários da construção pesada, de fornecedores da Petrobras e de empresas do setor elétrico, executores de obras públicas, banqueiros, tomadores de empréstimos no Banco do Brasil, Caixa Econômica e BNDES, como no caso dos irmãos Joesley e Wesley Batista, põem em evidência como no Brasil não se auditam nem minimamente as contas públicas e a atividade das empresas estatais.

Quando se defende abertamente a privatização de tudo que no Brasil envolve recursos advindos dos impostos pagos pela sociedade, nos municípios, nos Estados e na Federação, o ponto que salta está no descontrole, na porta aberta para toda sorte de mutretas, na cara de pau sem limites de agentes públicos que metem a mão, mas negam, sem abaixar a cabeça, que tenham engendrado criminosamente seus feitos, engordando seus patrimônios, enquanto falta dinheiro para diminuir as filas dos postos de saúde, melhorar a qualidade de nosso ensino, oferecer mais segurança e dar de comer aos que têm fome. Exemplo gritante foi a prisão do ex-governador José Melo, do Amazonas, que decretou estado de calamidade em seu Estado enquanto ele mesmo roubava mais de R$ 100 milhões dos cofres públicos. Ladrão ordinário, como também o são sujeitos que, apanhados e, diga-se, depois de já terem acumulado milhões de dólares em malas e contas fora do Brasil, negam que tais recursos os tenham favorecido ou que tenham influenciado nas decisões dos governos onde mandavam. Acusados, têm o desplante de ir aos microfones das instituições que (ainda) ocupam e das quais já deveriam ter sido excluídos para dizer que provarão sua inocência, porque foram vítimas da conspiração de empresários bandidos ou de seus assessores.

Com toda sordidez dos Batistas, dos Odebrecht, dos Cavendish, e de muitos que ainda virão com suas fartas listas de propinas, é notório que o Brasil deve a eles tais revelações; processados, julgados e devidamente condenados, que sejam metidos na cadeia, sem qualquer redução de pena ou eventual insultante indulto; já ganharam muito. Devemos também à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal e especialmente ao juiz Sergio Moro o conhecimento que hoje se tem, com toda a certeza, de como fomos enganados ou idiotas, ou despreparados, ou irresponsáveis, elegendo tais bandidos. Nas próximas eleições, refletindo e escolhendo melhor, faremos bem ao Brasil.