LUIZ TITO

Essa Quarta- Feira de Cinzas que não chega

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 08 de fevereiro de 2016 | 03:30
 
 

É Carnaval e como tal não me ocorreu escrever sobre o que sempre me atrevo a abordar. Política e economia cederam lugar para a alegria e a missão impregnada na determinação nacional de se resgatar e devolver ao Carnaval o seu esplendor, segundo os entendidos, já não tão presente nos dias de hoje. Todos os cuidados de significativa parcela da sociedade e as providências dos governantes a postos nessa bem engendrada tarefa e compromisso: que o Carnaval brilhe e volte a ser uma explosão, a salvação nacional.

Não há fatos novos, segue na moda a absoluta falta de compromisso e de ideias, senão nos sambas-enredo e nas alegorias da Sapucaí. Todas as atividades se acham suspensas para balanço, salvo o extravagante balanço das bundas e baterias.

Passei a observar então como somos criativos, independentemente das fantasias, das letras dos sambas e dos adereços.

Há, por exemplo, uma centena de atividades cujas designações hoje se expressam com muito mais brilho e pompa. Por exemplo, chef. Ninguém mais é cozinheiro, fritador de pastel e de coxinha. Ninguém mais faz canjinha de galinha, um arroz soltinho e uma farofinha de cebola. Agora é chef. Uma amiga me apresentou um filho que estaria voltando de São Paulo onde havia, segundo imaginei, ido ver ‘in-loco’ como se picava alho, cebola e abobrinha; pouco arguto, passara, pelos meus cálculos, duas semanas fora para esse árduo aprendizado. Voltou chef de cozinha. Saiu de BH, pagou passagem, hotel, aulas e outras espertezas do estilo e voltou especialista em fritar ovos de gema dura. E virou chef.

Para se renovar a carteira de motorista aquele que tem, como no meu caso (injustamente), dezenas de vezes mais pontos do que os vinte permitidos pela legislação tem que ir a um Centro de Formação de Condutores, na verdade, centro de se tirar dinheiro do cidadão. Lá, você pode frequentar o local e fazer um curso onde aprenderá a importantíssima diferença que há de camionete e camioneta, por exemplo; o que significam dois silvos longos e um breve ou dois curtos. Pelo curso lá paga-se R$ 350,00; se você quiser fazer o curso em casa, no seu computador, tomando o seu espaço, o seu café, você paga R$ 450,00. Entendeu? Banco de sangue agora virou centro de hematologia e hemoterapia. Ok. Pelo menos lá você entrega o próprio sangue porque quer, porque & eacute; solidário. E sai feliz. Não paga taxas nem juros criminosos. Um banco do bem.

O mais interessante dessas variações eu ouvi na Band-News noutro dia. Falava-se sobre inflação, crise financeira, sumiço do dinheiro e a apresentadora convocou para explicar o inexplicável um fulano de tal, “nosso terapeuta financeiro”. Ando numa crise brutal de falta de dinheiro, com uma fraqueza da qual não sei como sair, que aceitei como incurável. Tenho passado noites sem dormir, roendo as unhas dos pés. Estado terminal. Ouvi atento o terapeuta, sem conseguir amenizar meu sofrimento. Mas liguei na Band para buscar o endereço desse mágico. Preciso de mais sessões. Ainda não obtive êxito e estou esperando chegar quarta-feira para ligar pelo fixo da empresa porque com essa crise fiquei sem crédito no celular. Essa espera está me angustiando. Deve ser por isso que nesse ano, mais do que nos outros, estou detestando Carnaval. Frescura. Não sou bom exemplo.