LUIZ TITO

Joio e trigo

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 24 de abril de 2018 | 03:00
 
 

A arbitrariedade cometida com a prisão preventiva do jornalista Márcio Fagundes faz lembrar a parábola contada no Novo Testamento, por Mateus (13, 24-30), sobre o juízo final, quando os anjos vão separar os “filhos do maligno” (joio ou ervas daninhas) dos “filhos do reino” (trigo).

Márcio Fagundes, após prestar depoimento em 2016 sobre um contrato que assinou, em 2015, como superintendente de Comunicação da Câmara Municipal de Belo Horizonte, teve seu apartamento, onde reside há mais de 20 anos, brutalmente invadido na madrugada do dia 18 de abril, por policiais que arrombaram a porta do imóvel e apontaram as armas para o jornalista, na frente de seus jovens filhos.

Marcinho, como é tratado em família e pelos amigos mais íntimos, assinou um contrato, em 2015, a mando do então presidente da Câmara, vereador Wellington Magalhães, cujo temperamento é de público conhecimento. E foi preso, “preventivamente”, em 2018 e jogado nas masmorras do terrível Ceresp Gameleira.

A justificativa para a abominável prisão preventiva é o fato de o vereador Wellington ter demonstrado muita articulação nos diferentes níveis de governo. É de se perguntar: e o que isso afeta Márcio Fagundes, que pediu demissão da Câmara em 2016 e, desde setembro de 2017, trabalha como assessor de comunicação do Ministério Público de Contas, no Tribunal de Contas do Estado?

Márcio é homem de bem, e a reação contra sua prisão tem sido prova disso. Nas redes sociais não param de circular mensagens de apoio ao jornalista e condenando a injusta prisão.

Márcio, aos 60 anos, não amealhou patrimônio algum. É homem pobre. Um romântico intelectual que nada entende de administração pública. É um jornalista nato, que, atualmente, dedicava suas horas livres a pesquisar dados e fatos para escrever a biografia, autorizada pela família e de forma gratuita, do ex-governador Hélio Garcia.

Já a decisão de prisão causa espécie até aos não militantes na área penal. A portaria do inquérito penal traz que este foi aberto, em 20 de abril de 2016, “cumprindo determinação da Exa. Chefe de Polícia”. E, mais tarde, agora em 2018, a mesma chefe de polícia, Andrea Vacchiano, é a testemunha-chave que gerou a prisão preventiva no mesmo inquérito.

Nulidades à parte, o certo é que o jornalista Márcio Fagundes prestou depoimentos sempre que convidado e assinou um contrato a mando do então presidente da Câmara. E mais: desde 2016 já não trabalha na Câmara, o que demonstra que ele em nada poderia interferir nas investigações, de modo que não se justifica a brutalidade da prisão preventiva.

Se alguém cometeu algum ato ilícito nesse caso não foi o jornalista Márcio Fagundes, devendo a Justiça ter o bom senso de separar o “joio do trigo”, pois, no caso, “MÁRCIO É TRIGO”.