LUIZ TITO

Leilão do meio ambiente

A insaciável Gerdau quer avançar sobre o Mona para, de lá, retirar mais 50 milhões de toneladas de minério

Por Da Redação
Publicado em 08 de setembro de 2020 | 03:00
 
 

Circula na internet um vídeo, de muito boa qualidade, concebido para vender a ideia de necessidade de desmanche de um acordo judicial celebrado em 2009 envolvendo o Ministério Público Estadual, o governo do Estado, representado por seus órgãos ambientais, e a mineradora Gerdau, através do qual se gerou o compromisso de preservação definitiva do Monumento Natural Estadual da Serra da Moeda (Mona), cuja representatividade está especialmente no fato de nele se abrigarem importantes mananciais de recursos hídricos, numa região amplamente castigada pela ininterrupta exploração de minério de ferro.

Nessa mesma região, a própria Gerdau estará deixando nos próximos dois anos crateras descomunais, de onde terão sido extraídas 60 milhões de toneladas de minério de ferro. Não se discute esse histórico porque para tal, ela, Gerdau, detinha o competente licenciamento; está legalmente habilitada, e, se vai deixar, por onde passou, um cenário horroroso, nada há para se fazer porque a atividade não tem como se processar de forma diferente. Dentro de mais dois anos, terá início o descomissionamento dessa mineração.

O problema está no fato de que a Gerdau deseja a prorrogação de sua atividade por mais dez anos e, para tal, também sonha com o que muitos, exceto o deputado estadual Antônio Arantes, entendem como um absurdo: desconsiderar um acordo judicial firmado em nome da preservação ambiental de uma das regiões mais carentes de tal guarda, a da riqueza do patrimônio natural onde se localizam as mais reconhecidas reservas hídricas daquela região. A insaciável Gerdau quer avançar sobre o Mona para, de lá, retirar mais 50 milhões de toneladas de minério de ferro, desconsiderando, com o aval do Projeto de Lei 1.822, do deputado Arantes, os agravos que provocará com sua ganância.

Isso é inaceitável e não se pode imaginar que a Assembleia Legislativa permita que ganhe fôlego um projeto que não seria absurdo taxar de imoral e desrespeitoso para com uma região e sua formação natural. Para isso há mais de dez anos se escreveu um acordo e se firmaram compromissos por partes que ali estavam reunidas, entendidas como instituições sérias.

Em nome de quê se estrutura tal projeto? Da sórdida promessa de R$ 500 milhões como novos investimentos em Minas Gerais, da geração de mais 4.000 empregos e de outras conjecturas de que o histórico do nosso relacionamento com as mineradoras está repleto.

Oferece a Gerdau a compensação dos 12,8 hectares a serem transformados em novas crateras com a entrega de 66 hectares de área em um novo parque. Tudo é muito, logicamente. Ainda que fossem cumpridas tais promessas, nada compensa a liquidação de um potencial natural que nenhum dinheiro nunca mais comprará.

E em Minas, é certo, ainda há consciência desses valores.