Entra ano, sai ano, e os janeiros seguem sendo cruéis com Minas e os mineiros. No ano passado, a tragédia de Brumadinho, com quase 300 mortos, encheu também um vagão com problemas até o momento não resolvidos definitivamente ou tratados com medidas assistencialistas, que seguem privando famílias de suas casas e de áreas onde exerciam pequenas atividades comerciais e de serviços, criavam ou plantavam para dalí extraírem seu sustento. Pulverizaram-se indenizações que acudiram pequenos gastos e reparações, mas um grande número de pessoas e negócios, comprovadamente lesados, segue à espera de decisões judiciais cuja inércia mais ajuda à Vale do que aos atingidos pela lama. São milhares de pessoas, rios, lagoas e a própria natureza marcados pelo rompimento da uma barragem que poderia ter sido evitado se aquela geringonça irresponsável que estourou, dizimou centenas de vidas e arruinou cidades e acervos naturais fosse mais bem acompanhada. Esperemos por mais uns dez anos e talvez lá seja possível que os prejuízos sejam reparados.
Neste janeiro, o estrago veio com as assim nomeadas “chuvas do século”, tal a intensidade com que caíram nessa última semana, já sabidas com certa anterioridade e esperadas nos seus catastróficos resultados. Onde provocariam seus maiores estragos também já se sabia: nas ocupações feitas nas encostas de morros e nas beiradas de córregos e rios por famílias inteiras que se deslocam do interior dos Estados e do país, onde não há empregos, recursos ou políticas públicas de geração de trabalho e renda. É uma velha constatação, mas nunca se depreende dos que têm nas mãos as responsabilidades de amenizar as consequências desse processo migratório que se desenvolve sem tréguas, sempre do Nordeste do Brasil em direção aos grandes centros.
Em Minas, o Mucuri, o Norte e o Vale do Jequitinhonha são insistentes provedores naturais desses contingentes, que preferem a insegurança física e social das favelas, hoje apelidadas de “comunidades” – como se tal designação amenizasse o sofrimento e o infortúnio incessante da violência, da falta de saneamento, da habitação precária, da fome e dos agravos à saúde, que conjugados sonegam a seres humanos a vida e a dignidade a que todos têm direito. Quase 50 pessoas já morreram, e centenas estão fisicamente feridas e moralmente lesadas pela perda de suas parcas economias, suas roupas, suas habitações, ainda que precárias e inseguras. Até a última semana, BH tinha 4.500 pessoas vivendo nas ruas, número que deve dobrar em razão da tragédia imposta pelas tempestades que se abateram sobre a nossa região metropolitana.
Esse quadro se reproduz há décadas na nossa região; foi o córrego do Onça, a Barraginha, o Gordura, o Perrela, para citar alguns, tristes recordações de gerações. Pouco ou nada se fez para mudar. O que teremos no próximo janeiro?