LUIZ TITO

Somos todos responsáveis

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 16 de março de 2015 | 03:30
 
 

As manifestações que ocorreram ontem em todo país levaram para as ruas não apenas críticas à figura da presidente Dilma Roussef, mas muito também ao modelo de governar, que no Brasil tem forte viés há muitos anos.

Coincidentemente também nesse 15 de março transcorreram 30 anos da inesperada posse de José Sarney na Presidência, ocupando o lugar de Tancredo Neves, eleito sob o compromisso de devolver ao país, definitivamente, o respeito às liberdades, a normalidade democrática e o império da lei. Tancredo não assumiu o poder; deixou escolhido os nomes do ministério que negociara com as forças políticas que o ajudaram a construir o projeto que liderara e a promessa de convocação de uma constituinte, mantida por Sarney e conduzida pela autoridade de Ulisses Guimarães. Foi um momento em que o Brasil teve a oportunidade de ser reescrito.

Quão amplo foi o espectro da aliança construída pelo movimento liderado por Tancredo, que surgiram nos seus espaços nomes e bandeiras que mais tarde comprometeriam o encaminhamento da grande transformação para a qual a nação se voltara. Do próprio Sarney, com o acervo que colecionou durante sua vida pública de capacho dos militares de 64, muito não se poderia esperar senão sua capacidade de liderar o apoio de forças do Colégio Eleitoral indispensáveis à eleição de Tancredo. Integrou a chapa eleita como vice e assumiu a Presidência com a morte Tancredo para um mandato de seis anos, depois negociado para cinco.

O dá lá, toma cá, as nomeações para cargos de confiança, a entrega sem critérios das concessões de canais de rádio e TV, os empréstimos nunca pagos dados a políticos e correligionários feitos pelos bancos públicos são peças de um processo de corrupção que no Brasil serviu à ampliação de mandatos, à compra de decisões do Judiciário, à aprovação de leis e manutenção de decretos, às sucessivas mudanças da Constituição que permitiram a malsinada reeleição dos mandatos dos prefeitos, de governadores e do presidente da República. A corrupção está na nossa história há séculos.

Nossas instituições estão falidas e não foi Dilma Roussef que operou, sozinha, tal processo de decadência. É lastimável o perfil do nosso Poder Legislativo, que tem nos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados o que há de mais repugnante em termos de postura e conduta. Eleitos pelos seus pares nas duas casas, é muito fácil imaginarmos quem lideram e o que podemos esperar do poder que exercem.

O Poder Judiciário lamentavelmente também não pode ser poupado de críticas; estão nos jornais todos os dias denúncias de venda de sentenças e decisões, de favorecimento de grupos econômicos pela ação ou inação de magistrados e membros do Ministério Público, de esquecimento nas prateleiras dos fóruns de processos para que atinjam a impunidade.

Com ou sem Dilma, o Brasil não irá a lugar nenhum se não nos dermos conta de que não temos uma nação. Temos um amontoado de poderes, todos com a obstinada vocação de monetizar sua influência. Se você tem dúvidas, avalie os compromissos (ou a falta deles) dos políticos que você elegeu nas últimas eleições. E aproveitemos também para fazer uma análise de nossas responsabilidades como cidadãos. Somos todos responsáveis pelo que estamos assistindo e vivendo. Escolhemos mal, participamos nada, votamos pior ainda e achamos que nossa salvação está em bater panelas na janela.