Luiz Tito

Luiz Tito escreve de segunda a sábado em O TEMPO

Vale da dengue

Publicado em: Ter, 21/05/19 - 03h00

Na última semana, a Vale alertou sobre possível rompimento do talude de sua mina Gongo Soco, em Barão de Cocais. Caso ocorra, o deslizamento poderá causar a queda de mais uma barragem da mineradora e a destruição da ferrovia Vitória-Minas, que passa pelo local, além de inundar áreas inteiras das históricas Barão de Cocais e Santa Bárbara.

Esse rompimento conduzirá um mar de lama, mais uma vez, para o já combalido rio Doce, que foi enormemente afetado pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, que causou o maior desastre ambiental do Brasil e o segundo mais grave do mundo. As vítimas de Mariana nem foram, ainda, indenizadas pela Samarco/Vale e BHP, e já houve outro rompimento, em Brumadinho, que deixou um saldo de quase 300 mortes.

Nada é feito de efetivo, tanto que os vitimados de Mariana, três anos e meio depois, nem mesmo tiveram concluída a construção de suas casas e a recuperação de Bento Rodrigues, distrito arrasado pela lama mineral. Proprietários e empresas que dependiam do fornecimento de água do rio Doce, que novamente corre risco, até hoje não foram ressarcidos pelo enorme prejuízo que lhes foi causado. A Samarco e sua sócia BHP preferem apostar na lentidão do Judiciário, agindo para procrastinar os feitos, além pressionarem laudos periciais e levantamentos técnicos. A empresa Cenibra, por exemplo, que foi obrigada a paralisar suas atividades, completamente, por 22 dias, quando do rompimento da barragem de Fundão, devido ao elevadíssimo índice de turbidez e contaminação do rio Doce, de onde retirava água limpa para a produção de celulose, teve perdas de produção superiores a 60 mil toneladas, com prejuízo no seu faturamento de R$ 130 milhões e gastos de mais de R$ 20 milhões para simplesmente voltar a funcionar.

Até hoje os processos se arrastam sem sequer sentença de primeiro grau e sem que Samarco, Vale ou BHP tenham desembolsado qualquer coisa. O retardo nas soluções por certo marcará os responsáveis por todo o sempre em relação aos danos acarretados para a população de Minas Gerais. Afinal, é a omissão de autoridades que permite a essas empresas permanecer inertes e tranquilas.

Enquanto isso, alguns dados “saltam aos olhos” e demonstram a gravidade da situação. Em 2015, Minas Gerais e Espírito Santo não registraram um caso sequer de febre amarela. Após o desastre de Mariana, que arrasou o leito do rio Doce desde Minas até o Espírito Santo, matando a fauna que se alimentava das larvas dos mosquitos, só de 1º a 18 de janeiro de 2017 Minas computou 206 casos de febre amarela, com 53 mortes, e o Espírito Santo, quatro casos da doença. Agora, a cena se repete. Enquanto em 2018 em Minas Gerais foram registrados 30.021 casos de dengue, com 21 óbitos, o que já é muito, após o rompimento da barragem de Brumadinho, somente até 13 de maio de 2019, já foram relatados 247.602 casos da doença, com 38 vítimas mortas. Na região metropolitana de BH, o número de infectados tem aumentado em 5.000 novos casos por semana.

Só falta algum expert achar que tudo isso é mera coincidência.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.