PAULO NAVARRO

O Conde Borgerth

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 23 de agosto de 2014 | 03:00
 
 
“Arte, em si, já é difícil de explicar. Acho que depende muito da percepção de cada um” arquivo pessoal

Flamenguista, Garoto de Ipanema da Bélgica, de onde se origina o sobrenome, apreciador do belo sexo, o feminino, sem moderação; do uísque, com moderação; piadista emérito – as do Conde Travassos são obras primas impublicáveis – mais que tudo, o artista plástico Luiz Fernando Borgerth esbanja boa conversa, talento, cultura e belas artes.

 

O que um carioca da gema, que passou quase a vida inteira no Rio, está fazendo hoje, na pacata São Lourenço, em Minas Gerais, via Belo Horizonte?

Tem vários cariocas da gema morando em São Lourenço nos dias de hoje. Todos vieram para cá a título de experiência e não mais desejam sair daqui. O fato é que vim conhecer a cidade no tempo em que um grande amigo, também pintor, morava por aqui. Achei muito legal e resolvi mudar por um tempo. Nessa época,  abrimos juntos um atelier, com  mais uma amiga. Foi muito divertido. Ao  longo desse tempo, nos últimos três anos, fiz bons amigos por aqui. Não pretendo mais ir embora de São Lourenço. Se tenho saudades de Belo Horizonte? Claro que sim. Do Rio de Janeiro? Também. Mas acontece que, agora,  quando viajo, sinto saudades de São Lourenço.

 

Pedido capcioso: defina o Rio e depois Minas, em poucas palavras.

Rio tem mulher bonita, alto custo de vida e praia. Belo Horizonte tem custo de vida menor e não tem praia. Mas tem muita mulher bonita. São Lourenço, que também é Minas, é sucursal do Rio... E também tem mulher bonita (a praia fica só um pouco mais perto) e o custo... Bem menor.

 

Como você explica tua arte? Ou arte não se explica?

Arte, em si, já é difícil de explicar. Acho que depende muito da percepção de cada um. Assim como tem quem tira a carteira do bolso e compra uma obra, há quem nem se preocupa em olhar a mesma obra. Agora, no meu caso: eu tive a felicidade de, na infância, ter acesso a muitas obras de arte (não só pintura), graças a meus pais, e fiquei impressionado. Mais tarde, a impressão virou influência... Acho até que já posso, a esta altura, estar influenciando alguém. Quem sabe?

 

Já está cansado de ser comparado a Brueghel e Bosch?

Ah! Mas não deixa de ser uma honra.

 

Ambos eram quase trágicos, violentos. Teu trabalho é bem humorado. Seria uma herança do Rio de Janeiro este humor?

Com certeza o espírito dos cariocas está presente. Meu pai e minha mãe têm muito a ver com isso também. Dizem, ainda, que é devido ao consumo de feijão preto... Hahaha.

 

Por que em forma de "miniaturas", pequenos formatos?

Provavelmente, porque todas as obras de arte que eu observava na minha primeira idade estavam impressas e, portanto, em tamanho reduzido. Acho também (aí já é de propósito) que o trabalho assim, com figuras menores, pequeno, se apresenta muito mais sedutor.

 

Como você vê a arte e o mercado da arte, hoje, no Rio e em Minas?

Bem, se eu for comparar com  outros lugares do Brasil... Perdem para São Paulo. Mas Minas (leia-se Belo Horizonte, Tiradentes) é mais forte que o Rio. Minha cidade já teve seu lugar.

 

Você também é conhecido em Belo Horizonte por apreciar belas mulheres, um uisquinho e pelas piadas. Consegue contar uma, pequena, de salão, publicável?

A professora: Joana, fale um verbo que você conheça.

Joana: Bicicreta.

Professora pensou: Meu Deus, que absurdo absurdente. Pedrinho fale um verbo. Pedrinho: Prástico.

O pensamento da professora:  (melhor não dizer). Joãozinho, um verbo.

Joãozinho: Hospedar.

A professora mal acreditou no que acabara de ouvir. Muito bem, meu filho. Agora faça uma frase com o verbo Hospedar.

Joãozinho: Hospedar da bicicreta são de prástico.

Essa é bem publicável. Da próxima, conto uma rapidinha do Conde Travassos (as mais indecentes e impublicáveis aqui, n.d.r.).

 

Fale sobre o consórcio de arte que é bom para você e ótimo para quem participa.

Uma maneira de manter a obra em movimento, onerando pouco os compradores. Assim,  um grupo de pessoas  se une  e dividimos o valor de cada quadro em dez parcelas iguais (mensais).  O número de participantes não precisa ficar restrito a dez. A cada mês faço um sorteio, e o escolhido pode escolher entre os quadros disponíveis no momento. Caso nenhum agrade, pode passar a vez. Ao fim dos dez meses, todos terão recebido o seu. É claro que não tenho problemas, porque os participantes já conhecem o que faço e todos ficam satisfeitos. Vou dar início a mais um, em novembro.