Coronavírus

Casos avançam no país, mas ainda não há transmissão sustentada

É cedo para decifrar comportamento do vírus no Brasil, dizem especialistas

Por Carla Chein e Bruno Menezes
Publicado em 07 de março de 2020 | 06:00
 
 
Representação gráfica de um coronavírus Pixabay

O avanço do vírus no Brasil traz alívios, de um lado - vez que não há mortes por aqui -, e preocupações, de outro. Para especialistas, existe só uma certeza: ainda é cedo para decifrar o comportamento do vírus no país. O que se consegue, até o momento, são observações epidemiológicas, que precisam ser comprovadas – ou refutadas – por estudos científicos.

 

Entre a manhã e a tarde desta sexta-feira, o número de casos confirmados de infecção no país subiu de nove para 13. Um 14º caso foi confirmado neste sábado (7) pela secretaria estadual da Saúde do Rio de Janeiro, mas ainda não foi confirmado pelo Ministério da Saúde, que monitora a doença e ainda aguarda a contraprova de um exame no Distrito Federal.

O balanço da pasta também mostra que subiu para 768 o número de casos ainda em investigação. Entram nessa lista os pacientes que apresentam febre e outros sintomas respiratórios (como tosse ou dificuldade de respirar) e que possuem histórico de viagens recentes a 36 países. Outros 480 casos foram descartados após exames. Na noite desta sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento sobre a situação no país.

O que se sabe é que 11 pacientes foram infectados no exterior, em localidades que já sofrem com a epidemia. Outros dois foram contaminados em São Paulo, que contabiliza dez pacientes. Segundo o ministério, como esses casos estão ligados entre si, ainda não se pode dizer que há uma transmissão sustentada. “É como se eu tivesse falando de uma transmissão restrita (local)”, disse o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira.

A boa notícia é que nenhum dos 13 brasileiros com diagnóstico confirmado teve complicações. Um deles – a adolescente de 13 anos que voltou da Itália no domingo – nem apresentou sintomas. O caso levantou a discussão sobre se o tratamento medicamentoso para uma lesão ortopédica não teria mascarado a sintomatologia. Renato Kfoury, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), acredita que apenas a febre poderia ser “escondida”. “Não os problemas respiratórios”, pontuou.

Outra dúvida é se jovens infectados não adoecem. Esses casos chegam a ser 25% do total entre crianças e adolescentes, segundo Oliveira. “É apenas uma constatação com base nas evidências epidemiológicas”, disse à BBC Kleber Luz, professor do Instituto de Medicina Tropical da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Também se discute se o paciente assintomático transmite o vírus. “Não conhecemos todo o sistema, mas, quanto maior a carga viral, mais secretivo e infectante é o vírus. Essa é a lógica que utilizamos no influenza, por exemplo”, explicou Kfoury.

Para o infectologista Adelino de Melo, do Hospital Unimed de Belo Horizonte, os estudos sobre isso ainda precisam ser aprofundados. “É preciso manter a precaução, ver como tudo vai evoluir. Tivemos registros de casos (no mundo) de pacientes assintomáticos que transmitiram a doença, mas que logo depois foram revistos”, ponderou.