Um depoimento obtido com exclusividade pelo jornal "O Estado de S. Paulo" mostra que representantes do governo fizeram um acordo com o chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, para colocar fim à onda de ataques da facção criminosa, em maio de 2006.

De acordo com a publicação, a reunião foi feita dentro do presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes. O delegado José Luiz Ramos Cavalcanti teria dado a declaração durante um depoimento que investigou advogadas supostamente ligadas ao crime organizado.

Cavalcanti teria sido um dos escolhidos pelo governo para participar do encontro. Segundo o jornal, o governo sempre negou o acordo com o PCC e admitiu apenas que a conversa com Marcola foi uma condição para a rendição da facção.

A proposta do crime organizado foi levada pela advogada Iracema Vasciaveo, então presidente da ONG Nova Ordem, que defendia o direito dos presos e, na época, representava o PCC. O papel de Iracema era convencer Marcola a aceitar a ideia.

A cúpula das secretarias de Segurança Pública e da Administração Penitenciária, que na época tinha como chefes Saulo de Castro Abreu Filho e Nagashi Furukawa, teria aceitado a ideia da advogada. O então governador, Claudio Lembo, então, autorizou o encontro.

O delegado teria recebido a missão de acompanhar a advogada Iracema Vasciaveo até o presídio de Presidente Bernardes, quando os ataques já tinham sido iniciados. A publicação revelou também que os dois e o corregedor da Secretaria da Administração Penitenciária, Antonio Ruiz Lopes, foram no avião da PM até Presidente Prudente, onde se encontraram com o comandante da região, coronel Ailton Brandão, e seguiram para o presídio.

Cavalcanti teria contado que Ruiz Lopes e o diretor do Presídio de Presidente Bernardes, Luciano Orlando, autorizaram que a advogada entrasse com celulares. Assim, eles ficaram em uma sala e Marcola foi levado por um agente penitenciário. Iracema então se apresentou e começou a conversar com o chefe do PCC. Inicialmente, ela tentou convencê-lo a falar ao celular com outro criminoso, que comandava os ataques, mas ele recusou.

Neste momento, Marcola teria aceitado a proposta, mas pediu para chamar o preso Luis Henrique Fernandes, o LH, que é de sua confiança para entrar em contato por celular com os representantes da facção, sendo esta pessoa desconhecida.

Por fim, Cavalcanti teria declarado que no dia seguinte os ataques definitivamente pararam. O policial não quis dar entrevista ao jornal, mas confirmou as declarações.