ACUSAÇÕES

Entenda denúncias de exploração infantil na Ilha de Marajó que repercutem na web

Situação na região não é nova, mas voltou a repercutir após denúncia de cantora gospel em reality musical

Por Pollyana Sales
Publicado em 22 de fevereiro de 2024 | 09:38
 
 
Rio Laguna, comunidade São José, em Melgaço, na Ilha de Marajó Foto: Marcelo Lelis/Agência Pará/2018

Acusações de exploração sexual infantil na Ilha de Marajó, localizada no Pará, voltaram a repercutir na web após a cantora paraense Aymeê denunciar a situação, novamente, em um reality show gospel chamado Dom Reality. 

A apresentação da jovem foi na última sexta-feira (16 de fevereiro) e emocionou jurados. A letra da música interpretada pela paraense diz:

"Enquanto isso no Marajó, o João desapareceu esperando os ceifeiros da grande seara". 

Ao final da apresentação, Aymeê explica a denúncia cantada por ela na melodia:

"Marajó é uma ilha há alguns minutos de Belém, minha terra. E lá, as crianças, lá tem muito tráfico de órgãos, lá é normal. Lá tem pedofilia em nível "hard" e as crianças com 5 anos, quando ela veem um barco vindo de fora com turistas, Marajó é muito turística e as famílias lá são muito carentes, as criancinhas saem em uma canoa, 6,7 anos, e elas se prostituem dentro do barco por cinco reais", desabafou emocionada.

Veja apresentação da jovem:

Aymêe nos dando um tapa do que são os ensinamentos de Jesus,q é tbm cantar a realidade nua e crua.Jesus pregou e morreu por todos,ele não é seletividade. Pessoas imperfeitas querendo montar o palco da santidade,mas n fazem o mínimo que é amar o próximo como Jesus.
Ilha de Marajó pic.twitter.com/nTTXeFqE8o

— M. (@Justlove_mmm) February 22, 2024


Aymeê não é a primeira pessoa a falar publicarmente da situação na Ilha de Marajó, região com 12 municípios e cerca de 500 mil habitantes. Em 2006, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados abriu uma investigação para apurar o assunto.

Segundo o Jornal Extra, na época, documentos revelaram o envolvimento de políticos locais nos casos, com aliciadores levando crianças para se prostituirem em Belém e na Guiana Francesa. Muitos municípios da região convivem com a pobreza e a miséria, um deles, inclusive, tem o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil.

Recentemente, em 2022, a ex-ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, denunciou a exploração na ilha durante um culto evangélico. Damares chegou a dizer que crianças na região teriam dentes removidos para facilitar abusos sexuais.

A fala da ministra, na época, gerou polêmicas. Autoridades do Pará, incluindo o Ministério Público, pediram que Damares fornecesse provas do que estava falando, mas estas nunca foram enviadas. A ex-ministra chegou a dizer que tinha ouvido denúncias "nas ruas". Após isso, 19 procuradores da República solicitaram uma ação civil pública contra ela.

Damares e a União chegaram a ser solicitadas para indenizarem a população do Arquipelágo de Marajó (PA) em R$ 5 milhões por ter disseminado informações falsas. 

Nas redes sociais, muitos internautas pedem que as autoridades deêm atenção para as acusações. Famosos como a cantora Juliette e o influenciador Carlinhos Maia também se manifestaram sobre o assunto. Veja:

 

VOCÊS SABEM O QUE ACONTECE NA ILHA DE MARAJÓ? TRÁFICO HUMANO E PROSTITUIÇÃO INFANTIL 🚨
Marajó tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil e há um grande esquema de tráfico humano e prostituição infantil na ilha… pic.twitter.com/KeJZoHGBsu

— Juliette (@juliette) February 22, 2024

Pesquisem sobre ILHA DO MARAJÓ

— Carlinhos Maia (@Carlinhosmaiaof) February 21, 2024

falem sobre a ilha de marajó. o que acontece lá fora é importante também mas não se esqueçam do Brasil. JUSTIÇA PELA ILHA DE MARAJÓ. JUSTIÇA PELAS CRIANÇAS. E aqui tem um vídeo pra quem quiser se informar, pois não vi NINGUÉM na mídia falando sobre. #ilhademarajó pic.twitter.com/aLnGfXh3R6

— jazz 🍉 (@nightshsde) February 21, 2024

A Ilha atualmente tem o Programa Cidadania Marajó, implementado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania do governo federal. Este programa tem o objetivo de combater a exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes na região.

O reality que Aymeê participou e fez a denúncia é transmitido no Youtube. Ele surgiu em 2022, com objetivo de relevar talentos da música gospel. O programa é produzido por Tiago Stachon e Paulo Alberto, diretor executivo da EAD Unicesumar, em parceria com a produtora Multiforme Filmes e a plataforma de streaming Deezer. A transmissão acontece no canal oficial da EAD Unicesumar. O programa também é considerado o primeiro reality gospel do Brasil.