Um Carnaval cheio de saudade para matar e muita vontade de cair na farra. Depois de dois anos sem a festa, por causa da pandemia, o povo tirou o pé do chão com gosto. E encontrou uma folia diferente em BH. Com menos assédio, mais segurança, mais limpeza e um detalhe: praticamente já não existem blocos pequenos na cidade. A festa ficou gigante. O transporte e os banheiros deixaram muito a desejar. Esses são apenas alguns dos pontos percebidos pela equipe de reportagem de O TEMPO.

Durante os quatro dias – de sábado a terça-feira –, 25 profissionais percorreram pelo menos 30 grandes blocos pela cidade. Foram mais de 250 entrevistas e mais de 2.000 fotos, sem falar em dezenas de vídeos. E é partir de todos esses registros e da experiência vivida nas ruas que eles contam um pouco do viram e ouviram. 

“Da ótica de uma mulher e profissional transitando por blocos, o Carnaval de Belo Horizonte 2023 foi seguro, bem organizado e, sobretudo, respeitoso. O povo estava animado e emocionado por voltar a ocupar as ruas”, relata a repórter Maria Irenilda. Das cinco entrevistas que ela fez sobre assédio, sendo quatro mulheres e um homem, nenhum sofreu qualquer desrespeito.

“No sábado, primeiro dia de cobertura, gastei quase 1 hora para entrar e sair do Bloco ‘Quando Come se Lambuza’, no centro de BH. Transpor aquele mar de corpos que se espremiam ocupando toda a Avenida Afonso Pena me deu desespero e medo de ser assediada, porém, o que tive foi ajuda — de várias pessoas que identificaram que eu estava trabalhando — para vencer o bloqueio e sair”, conta a repórter Maria Irenilda. 

A inclusão também cresceu. A presença de pessoas com deficiência brincando nos blocos e tocando nas baterias ficou bem mais visível neste ano. 

A limpeza foi exaltada por toda a equipe. “Os garis estavam presentes em todos os blocos e realizando o trabalho logo na sequência do encerramento dos desfiles”, confirma o repórter Vitor Fórneas.

Banheiros insuficientes

Os banheiros também foram unanimidade para todos os profissionais envolvidos na cobertura, mas a avaliação foi negativa, destacando longas filas. “No geral, foram insuficientes. Alguns pontos se transformaram em banheiros públicos em plena luz do dia, com muito mau cheiro”, explica o repórter Rômulo Almeida.

Gargalo

O transporte e o trânsito foram campeões de críticas. “O transporte público deixou muito a desejar. Cadê o foliônibus, que funcionou muito bem em outros Carnavais? Quem precisou se deslocar de um bloco para o outro precisou andar, e muito, debaixo de um sol quente. Os aplicativos estavam caros, e as vias, interditadas, mesmo com alguns motoristas desrespeitando os bloqueios e faltando agentes da BHTrans e da Guarda Municipal para fiscalizar”, relata o repórter Rayllan Oliveira. 

Tentar pegar ônibus também não parecia uma ideia das mais animadoras neste Carnaval: diversos coletivos estavam lotados. Os itinerários foram mudados e, mesmo com informações disponíveis nos pontos, poderia ser uma verdadeira maratona ir até o próximo, em meio a tantos bloqueios de vias e desfiles de multidões. Para piorar o ir e vir, que não fluiu tão bem assim, ainda não tinha metrô, devido à greve da categoria, iniciada na última semana.

“O transporte público por ônibus foi bem crítico principalmente no sábado e no domingo. Na segunda-feira, pelo menos na avenida Amazonas, notei que os ônibus da capital não estavam lotados. Mas quase todos os foliões tiveram que mudar completamente o planejamento em função do não funcionamento do metrô”, explica o repórter Rômulo Almeida.

A jornalista Daniele Franco destaca que trânsito na área central estava totalmente caótico. "Especialmente na Contorno, estava difícil passar por lá. Não observei muito os ônibus, mas percebi um esvaziamento nos blocos que pode ter se devido à falta do metrô", avalia.

Preços caros

A reportagem destaca que preços cobrados pelos ambulantes estavam muito altos. "Água a R$ 5 reais, não me lembro de ter pagado tudo isso no último Carnaval. Paguei, antes de perguntar o preço, R$ 5 em um pacote de bala. Absurdo. Conversei com ambulantes que reclamaram também do preço dos repasses, como gelo. Uma delas disse que os vendedores estavam cobrando R$ 40 no saco de gelo", relata Daniele.

O repórter Alex Bessas percebeu uma variação. "Na maioria dos blocos tinha muitos ambulantes, com os preços mais variados. A bebida queridinha do Carnaval, Xeque Mate, eu vi custando de R$ 10 a R$ 18", conta.

Saldo

No fim da festa, o saldo foi um Carnaval monumental em tamanho e energia. Foram 479 blocos oficiais, com gente de todos os cantos de BH e do Brasil, celebrando o retorno da festa com uma alegria que fez a cidade inteira transbordar de emoção.

“Em vários momentos houve um sentimento de comunhão e catarse pelo retorno do Carnaval pós pandemia”, conclui o repórter Rômulo Almeida.

Mas a festa não para de crescer e, na avaliação de Rayllan Oliveira, a infraestrutura precisa melhorar. "O Carnaval de Belo Horizonte parece não ter volta. Se consolidou como um dos principais do país. É hoje, sem dúvidas, o principal atrativo turístico da capital mineira. E, por isso, exige das autoridades e quem faz a festa, como os representantes de bloco, uma organização.  A festa exige mais do que é ofertado hoje", considera Rayllan.