Educação

Adolescentes são os que menos participam da Escola Integrada

Programa aplicado na capital atende 28,9% dos alunos do 7º ao 9º ano, com idades de 12 a 14 anos

Por Luciene Câmara
Publicado em 22 de abril de 2017 | 03:00
 
 
Em movimento. A Escola Integrada oferece cinco horas além da jornada tradicional, que são aproveitadas em oficinas diversas Foto: Leo Fontes

Para alunos da rede pública de ensino, passar o dia todo na escola representa mais que uma oportunidade extra de conhecimento. É a chance de ter uma alimentação balanceada, de não ficar em casa sozinho enquanto os pais trabalham e nem suscetíveis às drogas e à criminalidade nas ruas. Mas o maior desafio da Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Belo Horizonte tem sido atrair os adolescentes para esse modelo, batizado de Escola Integrada.

A adesão é voluntária, e, atualmente, 28,9% dos estudantes do terceiro ciclo do ensino fundamental (do sétimo ao nono ano, a maioria com idades de 12 a 14 anos) estão no programa, a menor adesão em comparação com as outras fases. São 33.008 alunos matriculados nessa etapa de ensino, e 9.559 aderiram à proposta integrada. Para a Smed, esse é o público mais resistente e que demanda mais dinamismo e renovação nas oficinas.

A secretaria não deu os números absolutos de 2016, mas informou, em nota, que 76% do público do terceiro ciclo participou do programa ao longo de todo o ano, em diferentes momentos. Embora a Smed não faça o registro de desistências, escolas relatam que há muito entra e sai de alunos nesse estágio.
Em contrapartida, os alunos mais novos (do primeiro ao sexto ano do ensino fundamental) aderem mais.

“A demanda menor é do terceiro ciclo. O índice varia muito, e os motivos, também. Depende dos objetivos da própria família, que, às vezes, prefere que o filho desenvolva atividades voltadas para o trabalho ou faça cursos de formação”, disse a gerente de Educação Integral, Direitos Humanos e Cidadania da Smed, Arminda Oliveira. Segundo ela, é meta dessa gestão incentivar os alunos do terceiro ciclo para que eles se sintam motivados a participar. “Estamos, inclusive, adequando algumas oficinas para que elas sejam mais ligadas à qualificação profissional”, afirmou.

Outro lado. Mas há também desestímulo por deficiências no programa, segundo relatos de pais e de alunos. “As oficinas ficam repetitivas, o aprendizado não evolui. Isso quando a aula não é livre e o aluno fica ocioso”, disse a mãe de uma estudante de 10 anos da rede, que pediu para não ser identificada. A menina disse que no começo gostava, mas depois o programa ficou “chato”. “Andamos cerca de 1 km no sol quente para chegar ao local das atividades, isso é muito cansativo”, relatou.

Segundo a Smed, a aula livre é proibida, e todas as oficinas são orientadas. Arminda afirmou ainda que a caminhada não ultrapassa 1 km. “Não temos espaço para todas as atividades na escola, por isso buscamos pontos de apoio que não ultrapassem essa distância”, disse.

Entenda

O que é. A Escola Integrada amplia a jornada dos alunos de quatro horas para nove horas diárias. Além do conteúdo tradicional, eles ficam as cinco horas em oficinas de arte, esporte e informática.


Expansão

Meta é criar 6.000 vagas neste ano

A Escola Integrada está presente em todas as 173 unidades da rede municipal e atende, atualmente, um público de 47.897 alunos do ensino fundamental, o equivalente a 42,4% do total de matriculados. A meta da Secretaria Municipal de Educação (Smed) é criar 6.000 novas vagas ainda neste ano.

Para a pasta, ter mais da metade dos estudantes matriculados fora do programa não é encarado como um problema. “Não temos fila de espera, apenas demandas pontuais em algumas escolas. A ampliação é feita progressivamente, a partir da necessidade dos alunos”, garantiu a gestora Arminda Oliveira. (LC)


Participação

Observatório. A Smed criou o Observatório da Adolescência, que consiste em reuniões mensais de educadores para discutir formas de atender as necessidades e o interesse desse público.

Merenda. Esse é um dos pontos mais elogiados da Integrada. Os alunos têm almoço e lanche, e todas as refeições são preparadas por nutricionistas. A reportagem provou o lanche da tarde na Escola Municipal Belo Horizonte, no bairro São Cristóvão, na região Noroeste, um caldo de abóbora com frango muito gostoso.

Adesão. “Tem adolescente que sai do programa e depois quer voltar. A rotatividade é muito grande”, disse a diretora da escola visitada, Ignez Nassif.