Em Uberlândia

Alunos derrubam busto de ex-governador em ato de repúdio à ditadura

Caso aconteceu na última quinta-feira, na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia; DCE divulgou nota sobre o ocorrido

Por Da redação
Publicado em 03 de abril de 2015 | 18:17
 
 
Foto da depredação foi publicada no Facebook Facebook/Reprodução

Estudantes da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) que participavam de um ato de repúdio ao golpe militar derrubaram o busto do ex-governador de Minas Gerais Rondon Pacheco, que ficava nos jardins da Faculdade de Direito Professor Jacy de Assis. A depredação aconteceu no dia 1º de abril – quando o golpe militar fez aniversário de 51 anos.

Rondon Pacheco foi governador de Minas, escolhido indiretamente, de 1971 a 1975 – no auge da ditadura militar brasileira, que tinha Médici como presidente. Antes disso, ele foi ministro-chefe do gabinete civil de Costa e Silva, entre 1967 e 1969. Nesse ano, ele também presidiu a Arena (Aliança Renovadora Nacional).

Uma imagem do local após o ato de vandalismo foi publicada em uma página do Facebook e compartilhada por mais de 100 pessoas. Na publicação, a estrutura que sustentava o busto do ex-governador aparece pichada com um símbolo contra a ditadura. Ao fundo, há uma faixa com a frase “torturadores não passarão”.

Por meio de nota, a Universidade Federal de Uberlândia informou à reportagem de O TEMPO que está aguardando a  apuração das informações, com base no boletim de ocorrências  registrado pelo setor de vigilância, para então se manifestar.

O Diretório Central dos Estudantes da UFU divulgou nota sobre o caso no Facebook, na qual afirma que a intervenção no busto “embora seja considerada por alguns como dano ao patrimônio público, possui caráter de ação política, de viés educador, visto que faz adesão a um movimento nacional que busca a reparação e minoração dos danos causados pela Ditadura, e que se fortaleceu após o Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade”.

O uso de nomes de pessoas ligadas à ditadura para batizar obras e prédios públicos já vem sendo contestado em forma de lei há algum tempo. No início da semana, o governador do Maranhão, Flávio Dino, alterou todos os nomes de escolas estaduais que homenageavam militares citados no Relatório Final da Comissão da Verdade.

Em março do ano passado, o conhecido Elevado Castelo Branco, que liga a avenida Pedro II à praça Raul Soares, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, teve o nome alterado para Elevado Dona Helena Greco, que foi uma das primeiras vereadoras eleitas na capital mineira e uma das mais importantes militante contra o regime militar.

Leia na íntegra a nota divulgada pelo DCE:

“O Diretório Central dos Estudantes vem a público se manifestar sobre o "Ato de repúdio aos 51 anos do Golpe Civil-Militar no Brasil" que ocorreu ontem (01/04/15) na UFU: A intervenção promovida no busto de Rondon Pacheco, que se localiza nesta universidade, embora seja considerada por alguns como dano ao patrimônio público, possui caráter de ação política, de viés educador, visto que faz adesão a um movimento nacional que busca a reparação e minoração dos danos causados pela Ditadura, e que se fortaleceu após o Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade.

Embora o DCE não apoie lesões patrimoniais deliberadamente causadas, que constituem crime, também entende a necessidade de rompimento com a celebração de figuras que foram essenciais para a instauração do período nebuloso e sombrio desse país. Não se pode esquecer que, a partir do Ato Institucional n. 5, muitos sonhos foram assassinados e vidas ceifadas pelo simples exercício da liberdade, que é inerente à condição humana.

Ontem (1º de abril) o silêncio - que antes era obrigatório e hoje é opcional -foi rompido novamente, e estudantes demonstraram a insatisfação do Estado, através da Administração Pública indireta, promover a figura de quem contribuiu para o cerceamento de liberdade no Brasil. O Diretório Central dos Estudantes da UFU não confere suporte a delitos, e, por isso mesmo, entende a intervenção feita. Comparar a depredação ao patrimônio, ocorrida ontem (1º de abril), com a depredação à vida e à dignidade ocorrida por 21 anos de Ditadura é inadmissível.

O repúdio a qualquer dano ao patrimônio público existe, todavia, maior repúdio é contra a banalização do dano à vida”.

 

Matéria atualizada às 10h29 do dia 08/04/2015