Caos

Belo-horizontino fica dentro de carro mais de oito dias por ano

Pesquisa internacional mostra que morador da capital mineira é o que mais perde tempo no trânsito no país

Por Clarisse Souza
Publicado em 11 de março de 2019 | 03:00
 
 
Motoristas ficam longo tempo dentro do carro nos horários de pico Foto: Fred Magno

O motorista de Belo Horizonte é o que mais perde tempo preso em congestionamentos durante os horários de pico no país. É o que aponta uma pesquisa internacional que analisou o trânsito em 200 cidades de 38 países no ano passado. Segundo o relatório Inrix Global Traffic Scorecard, divulgado em fevereiro, o belo-horizontino perdeu 202 horas em meio a engarrafamentos em 2018, o que corresponde a pouco mais de oito dias trancafiado em um veículo no período de um ano.

Quando se trata de tempo perdido no trânsito, BH supera as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A capital paulista ocupa o primeiro lugar no ranking das cidades brasileiras mais congestionadas, porém, segundo a pesquisa, os moradores do maior município do país ficaram 154 horas em engarrafamentos em 2018, 48 horas a menos que os belo-horizontinos. Já no Rio, foram perdidas 199 horas em vias obstruídas pelo excesso de veículos no mesmo período.

A explicação para o resultado da capital mineira frente a outras cidades tradicionalmente conhecidas pelo trânsito caótico está na metodologia usada na pesquisa. O estudo faz um levantamento do tempo gasto para percorrer alguns dos corredores mais movimentados da localidade quando o fluxo está livre e o compara com o período necessário para fazer o mesmo percurso em horário de pico. A diferença entre os resultados é apontada como o total de tempo perdido.

Pior que a média. O analista fiscal Thiago Moreira Martins, 30, sabe bem o que é perder tempo atrás do volante. De carro, o rapaz demora 40 minutos para seguir de casa, no bairro São João Batista, na região de Venda Nova, até o trabalho, no Prado, região Oeste da capital. Na volta, o tempo sobe para 1 hora e 30 minutos.

Considerando-se apenas o trajeto de ida e volta ao trabalho do analista durante 11 meses – descontados fins de semana e férias –, são mais de 40 horas no trânsito por mês, ou 480 horas em um ano. “É trânsito de cima a baixo, muito semáforo e excesso de veículos. Isso em condições normais. Porque, se tiver um acidente, trava tudo. Já tentei usar ônibus, mas vi que não adianta”, descreve Martins sobre a própria rotina.

Piores. Os corredores com maior volume de tráfego em BH, segundo a BHTrans, são Cristiano Machado, Raja Gabaglia, Antônio Carlos, Amazonas, Nossa Senhora do Carmo e Tereza Cristina.

O que diz a BHTrans

Medição. A Prefeitura de Belo Horizonte não tem dados de medição de congestionamento na cidade. No entanto, sabe-se que a mobilidade urbana é um dos maiores desafios da cidade, como admite a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), que usa principalmente o Plano de Mobilidade de Belo Horizonte (PlanMob-BH) para atacar o problema.

Ônibus. Em relação a ações de curto, médio e longo prazo, o órgão aposta principalmente no transporte coletivo por ônibus para diminuir os engarrafamentos.

Mais. Fazem parte do plano ciclovias, sistemas multimodais, revitalização do sistema viário e faixas exclusivas para ônibus, mas os resultados podem demorar, já que a previsão de conclusão de algumas medidas é em 2030.

Especialista diz que BH vai ser cada vez mais engarrafada

O engenheiro especialista em transporte e trânsito Márcio Aguiar acredita que a pesquisa Inrix Global Traffic Scorecard aponta para um caminho sem volta, caso a capital mineira não invista em meios de transporte coletivo nem tire do papel a ampliação do sistema de metrô. “Belo Horizonte não oferece a possibilidade de as pessoas deixarem o carro em casa. BH vai ser uma cidade cada vez mais congestionada porque o transporte não oferece qualidade e precisão”, analisa.

Na avaliação do especialista, apostar apenas em ônibus não vai estimular o belo-horizontino a deixar de usar o próprio automóvel. “O metrô resolveria grande parte do nosso problema. Mas o município só não dá conta. Tem de ter parceria dos governos estadual e federal”, pontua Aguiar.

O especialista chama atenção para as perdas que o cidadão tem ao ficar preso no carro por tantas horas: “As pessoas perdem qualidade de vida. Tem gente que passa até um terço de seu dia no trânsito”.

Para tentar aproveitar melhor o tempo, o analista fiscal Thiago Moreira Martins conta que, vez ou outra, estaciona o carro no meio do caminho para casa, faz caminhada por uma hora e só segue viagem depois que o trânsito volta a fluir. “Se eu não perdesse tanto tempo no trânsito, daria para chegar mais cedo em casa, fazer pesquisas e até cuidar mais do cachorro”, imagina o rapaz.