Barragem de Córrego do Feijão

Brumadinho: principal perícia de rompimento deve ser concluída até junho

Polícia Federal fez balanço do caso nesta quinta-feira

Por Carolina Caetano
Publicado em 16 de janeiro de 2020 | 12:18
 
 
Medida chega poucos dias após o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho Foto: Cristiane Mattos

No próximo dia 25 de janeiro, a tragédia do rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, completa um ano. O desastre deixou 259 mortos e ainda há 11 pessoas desaparecidas. Nesta quinta-feira (16), a Polícia Federal fez um balanço do caso. Segundo a instituição, a estimativa para que o resultado da principal perícia – que vai esclarecer o que provocou a liquefação dos rejeitos – deve ficar pronta até junho deste ano. Só depois disso vai ser possível apontar se houve crime de homicídio doloso ou culpado.

"Nós finalizamos uma parte das investigações no final do mês de setembro do ano passado quando nós indiciamos sete funcionários da vale e seis da Tüv Sud e as duas empresas, Vale e Tüv Sud, pelo uso de documentos falsos e falsidade ideológica. Continuamos as investigações em relação aos crimes ambientais e aos crimes contra a vida ainda faltavam diversos laudos para a gente ter condições de concluir as investigações responsabilizando penalmente e individualizando as condutas e eventuais autores desses crimes. Falta o laudo mais importante. Hoje, a nossa principal ocupação é identificar a causa da liquefação porque foi ela quem provocou o rompimento da barragem. Agora, o que provocou a liquefação desses rejeitos é o que a gente está buscando", explicou o delegado Luiz Augusto Nogueira, responsável pelas investigações.

Segundo ele, por ser extremamente complexa, a perícia é realizada em parceria com universidades de Barcelona e de Porto. durante a Investigação já foram ouvidas mais de 80 pessoas, 50 diligências  realizadas, 40 perícias realizadas e mais de 80 milhões de arquivos apreendidos foram analisados.

"Essa é a primeira barragem  inativa a se romper em todo o mundo. A barragem estava de fato inativa, não havia lançamento de rejeitos nessa barragem. A Vale estava tomando iniciativas para o esvaziamento daqueles rejeitos. É uma área muito técnica, muito especializada e depende de vários fatores para se chegar a uma conclusão", afirmou. 

Investigados

O delegado destacou que nenhum dos investigados ainda foi denunciado. Para o próximo mês, executivos da Vale devem ser ouvidos novamente. A Polícia Federal não descarta a investigação de nenhuma pessoa que era funcionária da empresa à época da tragédia, incluindo o ex-presidente da mineradora, Fábio Schvartsman. 

"Há possibilidade de responsabilização de qualquer funcionário da Vale, inclusive os executivos mais importantes e isso incluiu o presidente. Mas isso só será passado quando o inquérito foi finalizado", disse.

Já o alemão da Tüv Sud, que foi indiciado, já avisou, através do advogado que tem no Brasil, que não virá ao país para prestar depoimento. Ele está na Alemanha, e a polícia verifica se o delegado vai até o país colher o depoimento ou se a oitiva será realizada por outros policiais fora do país. O homem é um executivo que teria sido o esponsável por definir se a Tüv Sud iria ou não declarar a condição de estabilidade da barragem. 

"Ele é alemão e está em outro país. A Justiça brasileira não tem juridição sobre a Alemanha. A polícia brasileira também não tem nenhum tipo de atribuição sobre a Alemanha, é a soberania de cada país. Caso ele seja condenado aqui, se ele não sair da Alemanha, ele pode não ser punido, mas isso vai depender de vários fatores", detalhou Luiz.

Explosões

O delegando afirmou que as explosões do dia 25 de janeiro, em um raio de 150 km, não foram as responsáveis pela liquefação que provocou o rompimento da barragem.

"Durante o ano de 2018 foram identificados mais de 150 sismos nesse mesmo raio e isso pode sim ter provocado aos poucos, progressivamente, a desestabilização da barragem até levar ao colapso. Mas são várias hipóteses e o que vai definir é a perícia", frisou o delegado.

Investigação em números

De acordo com a Polícia Federal, o primeiro inquérito foi concluído com 27 volumes, mais de 6.500 folhas e 16 apensos. O atual já conta com sete volumes e mais de 1.300 folhas. 

 

Texto atualizado às 13h39