Inqúerito

Carreta que causou tragédia no Anel estava a 115 km/h

Pai de sobrevivente critica motorista e também a omissão do poder público

Por FLÁVIA MARTINS Y MIGUEL
Publicado em 08 de fevereiro de 2011 | 21:23
 
 
Pai de sobrevivente critica motorista e também a omissão do poder público ANGELO PETTINATI - 30.1.2011

A Polícia Civil indiciou por homicídio o caminhoneiro Leonardo Faria Hilário, 24, que causou o acidente, do último dia 28, no Anel Rodoviário. Cinco pessoas morreram e outras 11 ficaram feridas. A decisão foi tomada com base no laudo da perícia que revelou que, ao arrastar 15 veículos e provocar as mortes, a carreta bitrem conduzida por Hilário estava a uma velocidade de 115 km/h, mais de 50% acima do permitido no trecho.


Na conclusão do inquérito, a Polícia Civil considerou que Leonardo Hilário praticou homicídio com dolo eventual, ou seja, não tinha a intenção de matar, mas assumiu o risco de provocar mortes ao dirigir em alta velocidade. Ele poderá pegar pena de 20 anos.


O inquérito da Polícia Civil, entregue ontem ao Ministério Público Estadual (MPE), traz detalhes impressionantes sobre a conduta do caminhoneiro ao iniciar o percurso pelo Anel Rodoviário, em alta velocidade, vindo do Rio de Janeiro. A carreta levava uma carga de 37 toneladas de trigo.
Nas declarações dadas à polícia, Hilário, agora preso, demonstrou que ignorou as placas que indicavam o limite de 70 km/h imposto na descida, na altura do bairro Betânia. "Pensei que fosse levar um tiro", disse, ao se referir a uma viatura policial parada à margem da rodovia e que teria flagrado a imprudência.


Além das placas, o motorista, que nunca tinha percorrido os 26 km do Anel e estava só há dois meses no comando de uma carreta daquele porte, contou que recebeu, via rádio, um alerta do colega de comboio identificado como Leandro, sobre a cautela necessária no trecho, mas foi surpreendido por uma pane nos freios. "Tanto ele (Hilário) quanto o colega confirmam a versão de que se falaram pelo rádio sobre a situação do Anel", contou a delegada Andréa Abood, da Delegacia Especializada de Acidentes de Veículos (Deav). Ao todo, 20 pessoas prestaram depoimento sobre o acidente.


Ouvida ontem pela reportagem de O TEMPO, a delegada informou que os laudos também revelaram que a carreta, com 15 anos de fabricação, tinha várias falhas na manutenção. "Dois dos três sistemas de freio estavam deficientes. No entanto, se ele (motorista) tivesse descido em velocidade normal e acionado o freio motor, não teria acontecido o acidente".


O tacógrafo, que mede a velocidade, não foi localizado pela perícia. No entanto, o veículo saiu da empresa ACA Marques, com sede em Novo Mundo (MT), com o equipamento. Imagens da TV Globo, que filmou o acidente, foram decisivas para que os peritos calculassem a velocidade.