Em coletiva de imprensa na tarde desta quarta-feira (10), os advogados da cervejaria Backer declararam discordar do que foi anunciado pela Polícia Civil sobre a conclusão do inquérito que investigou a intoxicação por dietilenoglicol em pessoas que consumiram produtos da empresa. Para a cervejaria, a conclusão não condiz com as provas coletadas na empresa.

Para o advogado Marco Aurélio de Souza Santos, responsável pela parte criminal do processo, a empresa não poderia ser acionada criminalmente. "A Backer nunca comprou dietilenoglicol e não tem culpa pelo vício de fabricação do tanque", declarou. Onze pessoas foram indiciadas.

A PC identificou uma falha na solda de um dos tanques, o que teria sido causado a contaminação da cerveja pelo dietilenoglicol. A substância, que a empresa afirma nunca ter comprado, teria entrado por meio de uma adulteração feita pelo fornecedoe do produto, que misturou o dietileno ao monoetilenoglicol, produto que a Backer usava como refrigerante nos tanques de cerveja. A investigação identificou o ato.

A falta de regulamentação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sobre o uso tanto do dietilenoglicol quanto do próprio monoetilenoglicol foi um dos pontos destacados pela defesa, que alega que o Mapa trazia diferentes metodologias sem aviso prévio e alterava os resultados das limitações nos lotes. 

Vítimas

O advogado responsável pela tratativa com as vítimas, Fernando Drummond, afirmou que a Backer tem todo o interesse em oferecer o auxílio necessário àquelas que comprovarem o prejuízo causado pela empresa. De acordo com ele, a Justiça é que está analisando os documentos apresentados pelas vítimas. "Das 20 que estão como assistentes na Ação Civil Pública (ACP) do Ministério público de Minas Gerais, somente cinco foram reconhecidas pela Justiça até o momento", declarou o advogado.

O bloqueio dos bens da empresa foi a principal justificativa dada por Drummond como impeditivo para pagar o auxílio emergencial às vítimas. Segundo o advogado, a Justiça deveria escolher bens bloqueados para a venda e arrecadação do montante para quitar o auxílio, mas ainda não o fez.

A tentativa mais recente da Backer para efetuar os pagamentos foi o depósito de R$ 200 mil em juízo nessa segunda-feira (8). O recurso é proveniente de um adiantamento depositado por um potencial comprador dos produtos que a empresa ainda tem em estoque. O valor total da venda é de R$ 800 mil, que, por enquanto, tem seu empenho determinado pela Justiça para o auxílio às vítimas

A Backer ainda não está autorizada a comercializar a produção. O Mapa publicou nessa terça-feira (9) uma nota na qual declara que só vai autorizar as vendas mediante adequações da empresa. O advogado Estêvão Nejm, que atua nas causas cíveis da empresa, afirmou que ainda vai conferir os pedidos do ministério, mas se diz surpreso com a exigência, já que somente um tanque defeituoso foi constatado como responsável pela contaminações.

Reativação

A advogada Isabella Nejm, uma das que atua na área cível do processo, afirmou que a empresa já tem um plano estruturado de retomada das atividades. "Existe um planejamento de recuperação das atividades, a Backer quer voltar ao mercado com força total, com qualidade, primando por todo o processo para continuar sendo essa referência de cervejaria no país", declarou.

Drummond ainda completou a fala da colega reiterando que nunca houve por parte da Backer a intenção de encerrar as atividades. "Chegou a ser noticiado durante o processo da ACP que a Backer estaria forçando um processo de shutdown (falência) para não pagar as vítimas. Isso não é verdade, é uma alegação leviana e mentirosa, a Backer tem feito todos os esforços para se tornar operacional novamente", esclareceu. Ainda de acordo com ele, o fechamento da Backer prejudica especialmente o pagamento dos auxílios emergenciais e das despesas decorrentes do processo.