suspeito se entregou

Ciclistas prestam homenagem a menino atropelado na Pampulha

Vítima descobriu um novo esporte ao ingressar na Turma do Edgar; no dia do acidente ele deixou de assistir ao jogo do clube do coração para pedalar

Sáb, 21/09/13 - 12h34
Quando vivo, Claiton era bem ativo em protesto na orla da lagoa | Foto: reprodução arquivo pessoal

Dezenas de ciclistas fizeram neste sábado (21) um protesto na Pampulha em homenagem a Claiton Bernardes Cabral, de 12 anos, atropelado e morto por um caminhão na Pampulha, em Belo Horizonte, na última quarta-feira (18). A vítima andava de bicicleta próximo à orla da lagoa, quando foi atingido pelo veículo. O motorista fugiu sem prestar socorro e se entregou à polícia nessa sexta-feira (20). Ele foi ouvido e liberado.

Apaixonado por futebol, Claiton treinava como goleiro na escolinha do Clube do América (Clam) desde 2010, onde iria participar da Copa das Confederações Mirim no fim deste ano. Apesar disso, desde janeiro, descobriu um novo esporte ao ingressar na Turma do Edgar. O atleta e coordenador do projeto, Edgar Antônio da Silva, de 30 anos, que ensina ciclismo para cerca de 30 alunos na orla da Pampulha, disse que Claiton deixou até de ver o jogo do Cruzeiro – seu time de coração – para pedalar. “Ele amava bicicleta e faltava pouquíssimo às aulas. Inclusive tinha conseguido emagrecer mais de cinco quilos depois que começou a pedalar. Era muito tímido, mas estava mais solto. A atividade física o fazia manter contato com outras pessoas”, disse.

Consciência. A paixão pela “magrela de duas rodas” foi tão intensa que levou o garoto às ruas no mês de junho, durante manifestações populares. Segurando um cartaz com os dizeres “Ciclismo na lagoa é mais antigo que o Mineirão”, ele cobrou melhorias para as ciclovias da cidade. Vizinhos e familiares contaram que o garoto usava a bicicleta para priorizar os estudos. “Ele voltava do treino de bike e dizia que era para chegar mais rápido e estudar. Falava inglês, ajudava todo mundo da rua, era um doce”, contou a dona de casa Gisele Cristina, 30.

Reconstituição

A Polícia Civil fará, nesta segunda-feira (23), a reconstituição do acidente. A cena será remontada no mesmo horário em que o atropelamento aconteceu, desde a chegada do motorista do caminhão à orla da Lagoa da Pampulha até o momento em que o veículo foi guardado no galpão, no bairro Bandeirantes. Segundo o delegado Ramon Sandoli, chefe da Coordenação de Operações Especiais (Cope) do Departamento de Trânsito de Minas (Detran), no mesmo dia serão ouvidas testemunhas para ajudar no esclarecimento do caso.

O suspeito se entregou à polícia nessa sexta-feira (20). Joel Jorge da Silva, de 56 anos, foi ouvido no Detran e liberado em seguida. Como o período de flagrante já passou e ele se apresentou espontaneamente, a Polícia Civil não pôde pedir a prisão temporária do suspeito. Durante o depoimento, o suspeito ficou o tempo todo de cabeça baixa.

Segundo o delegado, Silva já tem duas passagens pela polícia, por receptação e porte ilegal de arma. A Carteira Nacional de Habilitação (CNH) do suspeito foi emitida em Santa Catarina e, por isso, a Polícia Civil vai solicitar informações sobre possíveis infrações de trânsito cometidas pelo motorista neste Estado.

O advogado do suspeito, Fernando de Lima, disse que a inocência de seu cliente será provada. "Ele está muito abalado. Ele não viu (o menino), ele não fez isso (o atropelamento) e vai ser provado".

O veículo dirigido pelo suspeito de atropelar a vítima foi encontrado na rua Ligúria, 150, no bairro Bandeirantes, guardado em um galpão que pertence ao patrão do motorista. A garagem foi encontrada após cerca de 40 horas de investigação e fica a cinco quarteirões do local do atropelamento.

Em entrevista a rádio Itatiaia, minutos antes de o suspeito se entregar, o delegado disse que havia presença de massa encefálica de Claiton Bernardes Cabral presa no caminhão, o que reforça a participação do veículo no atropelamento.

Família quer justiça

O pai da vítima, Adão Bernardes da Silva, de 50 anos, diz que quer justiça. "Não tenho raiva no coração, só queria que ele pagasse pelo que fez e assumisse", afirmou o comerciário. Ele conta que, na casa da família, o clima é de tristeza. "Está terrível. A minha casa está com cheiro de enterro. A gente chora o tempo todo com saudade dele. Era um menino muito querido", disse.

 

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