Desemprego

Crise provocada pelo coronavírus será mais aguda para famílias mais pobres

Estudo aponta que impactos diretos e indiretos da pandemia do novo coronavírus devem resultar no aumento do desemprego no Brasil

Por Thaís Mota
Publicado em 20 de março de 2020 | 17:15
 
 
Na rua. Sem emprego de carteira assinada, trabalhadores encontram renda na informalidade Foto: LINCON ZARBIETTI / O TEMPO

Um estudo elaborado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que os impactos diretos e indiretos da pandemia do novo coronavírus devem resultar no aumento do desemprego no Brasil e atingir, principalmente, as pessoas mais pobres.

A nota técnica demonstra que famílias que recebem entre 0 e 2 salários mínimos tendem a ser até 20% mais afetadas do que as classes média e alta. Segundo a professora de economia e uma das autoras do estudo, Débora Freire, isso acontece, em primeiro lugar, por causa da dependência da renda do trabalho, que entre os mais pobres é maior.

"A renda das famílias mais pobres é muito mais dependente do trabalho e de transferências, enquanto classes médias e altas têm uma diversificação maior de suas rendas, com parte delas vindo de lucros, poupança, dividendos e investimentos. Então, se cai a oferta de trabalho, certamente cairá a renda também", explica.

Outro fator que contribui para que os mais pobres sejam os mais atingidos é o fato de que o setor que mais deve ser prejudicado pela crise é justamente o que emprega o maior número de pessoas de baixa renda. “Com a queda do emprego, a gente tem que os setores que usam mais trabalho vão ser mais afetados. E o setor que usa mais trabalho é o setor de serviços, que emprega grande parte das famílias de classe mais baixa e que tem uma grande parcela de trabalhadores informais”.

Na nota técnica, os economistas simularam que uma redução de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) levaria a uma queda de 1% no nível de emprego e de 1,1% na renda. No entanto, a economista reforçou que se trata apenas de uma simulação. “Ele é estudo concluído a partir de dados reais da economia brasileira, mas não se trata de uma projeção de queda do PIB, porque isso ainda é muito incerto”.

Além de Débora Freire, o estudo “Efeitos econômicos negativos da crise do coronavírus tendem a afetar mais a renda dos mais pobres” foi elaborado pelos professores  Edson Paulo Domingues e Aline Magalhães.