Os depoimentos colhidos pela Justiça no caso em que o delegado Rafael Horácio se tornou réu por matar o motorista de caminhão reboque Anderson Cândido de Melo apontam que além dele ter alterado a cena do crime, também mentiu sobre ter atirado por legítima defesa.
Em um dos depoimentos de pessoas que transitavam pelo viaduto Oeste, consta que o "motorista do carro vinho", no caso o delegado que estava em viatura descaracterizada, "parou o carro, desembarcou, deu aproximadamente três passos para o lado, olhou para o motorista, sacou uma arma, apontou e efetuou um único disparo em direção ao parabrisa do caminhão reboque preto que já estava parado tendo em vista que, o carro vinho já havia feito o caminhão frear totalmente quando obstruiu a sua passagem ao diminuir sua velocidade quando estava na frente do caminhão". Ainda de acordo com o relato prestado à Justiça, o caminhoneiro quando teve seu caminhão obstruído parou imediatamente. "Do jeito que o motorista parou o caminhão com as duas mãos no volante, ele tomou o tiro", diz trecho do depoimento.
A pessoa foi questionada se o reboqueiro acelerou o veículo em direção ao delegado quando ele estava com a arma em punho ou se o motorista do caminhão ofereceu algum risco iminente ou injusta ameaça e desfavor do DPC Rafael quando ele estava apontando uma arma em direção ao caminhão" e respondeu que não. Esse era o principal argumento do delegado, que teria atirado em legítima defesa para se proteger após ter a sua integridade física ameaçada.
A pessoa também disse que a cena do crime foi alterada, já que "no momento em que houve disparo, o carro vinho estava praticamente colado no para-choque do caminhão reboque", bem diferente da cena apresentada, em que a viatura descaracterizada está a alguns metros de distância.
Uma outra testemunha disse, em seu relato, que "na verdade quando o atirador saiu do carro e foi em direção ao caminhão, o motorista do reboque chegou a fazer expressão de que aquela situação era desnecessária". Questionada sobre como estavam os veículos na hora do crime, a testemunha relatou que "quando o veículo escuro obstruiu a passagem do caminhão, o reboque parou muito próximo da traseira do veículo, porém a depoente não viu nenhuma colisão, toque ou abalroamento entre o carro escuro e o reboque". Ela também negou que o reboqueiro acelerou o carro contra o delegado.
O 1º Tribunal do Júri de Belo Horizonte aceitou a denúncia contra Rafael Horácio, que agora responderá ao processo na condição de réu. Até o então, ele era tido apenas como acusado.
Relembre o caso
O desentendimento ocorreu no Viaduto Oeste, no Complexo da Lagoinha. Informações levantadas por O TEMPO com fontes no local dos disparos indicam que o delegado estava em uma viatura descaracterizada quando foi fechado pelo caminhão, o que deu início a uma discussão.
Após algum tempo, o policial teria fechado o reboque da vítima e efetuado o disparo, que atingiu o pescoço do homem. Ao perceber que tinha acertado o motorista, o próprio autor do disparo acionou a Polícia Civil e a perícia técnica compareceu ao local, fazendo os levantamentos iniciais na cena do crime.
Quando o veículo da vítima seria removido do local, familiares e amigos do homem baleado protestaram, momento em que um delegado explicou em voz alta que a primeira perícia já tinha sido feita e que uma nova perícia aconteceria em um segundo lugar, não especificado pelo policial.
Foi então que a filha dele pediu para entrar no caminhão apenas para pegar o telefone do homem, que estava em um compartimento em baixo do banco do passageiro, e uma blusa de frio. Nenhuma arma foi encontrada no caminhão, conforme constatado pela reportagem que acompanhou a situação.