O TEMPO

Quando números ganham rostos

Veja o depoimento da repórter Natália Oliveira, que atua na cobertura da tragédia da Vale em Brumadinho

Por Da Redação
Publicado em 06 de fevereiro de 2019 | 00:18
 
 

A cada vez que o IML identifica as vítimas do rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão, os números ganham rostos e histórias, e isso nos aproxima da dor de cada uma das famílias. Ligar para pessoas que acabaram de perder entes queridos não é tarefa fácil. Vítimas que deixam filhos, mulheres, pais, avós, irmãos e amigos inconsoláveis. Entre os 142 mortos estão Duane, que morreu no dia de seu aniversário, e Erídio, que escapou da tragédia de Mariana, mas não teve a mesma sorte em Brumadinho. Fui a primeira pessoa na redação a saber sobre o rompimento da barragem. Num primeiro momento, não imaginava que pudessem ser tantas vítimas. Só tive certeza da dimensão da tragédia quando soube que a barragem tinha soterrado o refeitório da Vale, bem na hora do almoço, e que por lá cabiam cerca de 200 pessoas. Com o passar do tempo, o número de desaparecidos fica maior e surgem as confirmações de mortes. A cada dia, essa tragédia se transforma em um pesadelo mais assustador. É triste ouvir dos familiares que encontrar o corpo das vítimas já é um consolo. Todos os dias, penso nos sonhos interrompidos, em mais um rio destruído pelos rejeitos da mineração. Triste ver o Paraopeba marrom, a população ribeirinha perdendo seu sustento, os índios deixando seu lar. É impossível não tomar um pouquinho da dor de cada uma das famílias. Antes de dormir, faço uma oração para que o coração dessas pessoas se conforte e para que consigam seguir mesmo em meio a tanta dor.