A localização do corpo de Luciano de Almeida Rocha, 40, funcionário da Vale que estava soterrado havia oito meses sob a lama da barragem I da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, aumenta a esperança de que os bombeiros cheguem ao ponto onde podem estar pelo menos mais duas vítimas da tragédia. Segundo o porta-voz da corporação, tenente Pedro Aihara, a análise da movimentação dos rejeitos no momento da ruptura do reservatório aponta para a possibilidade de que outras pessoas tenham sido arrastadas para a área conhecida como Remanso 4, onde os restos mortais de Rocha foram resgatados no domingo. A família fez o enterro nesta segunda-feira (30). Casado há 24 anos, o funcionário tinha três filhos.

“A área do Remanso 4 é uma região prioritária e há possibilidade de encontrarmos uma ou duas vítimas. Mas tratamos essa informação com muito cuidado para não gerar falsas expectativas, porque temos uma segmentação muito grande dos corpos devido ao impacto da lama”, explicou Aihara.

Foi por meio do estudo do fluxo da lama e da análise do posicionamento de cada pessoa no momento da tragédia que os militares conseguiram chegar à 250ª vítima. Para se ter uma ideia da complexidade da operação de resgate, Luciano Rocha foi visto pela última vez próximo à barragem, mas o corpo dele foi achado cerca de 4 km à frente da estrutura e a 2,5 m de profundidade.

É com a mesma estratégia de inteligência, segundo Aihara, que as equipes de resgate pretendem chegar às pessoas que ainda estão desaparecidas. As vítimas são chamadas de “joias” pelos bombeiros.

Sem perspectiva de encerramento das buscas, o Corpo de Bombeiros mantém mais de 140 militares em 22 frentes de trabalho. Com a chegada do período chuvoso, o que mudou foi a estratégia de exploração do terreno. “A chuva altera o trabalho em relação à operação de máquinas pesadas, devido à alta fluidificação da lama. Por isso, demos prioridade a essas áreas há mais tempo para que, com a chegada da chuva, essas regiões já tenham sido vasculhadas de maneira completa”, explicou o porta-voz dos bombeiros.

Com a localização quase diária de fragmentos de corpos, mesmo passados mais de oito meses da tragédia, o trabalho também continua intenso no Instituto Médico-Legal (IML) da capital. De acordo com o superintendente de Polícia Técnico-Científico, Thales Bittencourt, desde o rompimento, 795 corpos e segmentos chegaram aos laboratórios da corporação, sendo que 680 amostras foram identificadas. 

No caso do funcionário da mineradora encontrado no domingo, Bittencourt explicou que o corpo estava parcialmente preservado, mas com partes esqueletizadas. Por isso, a identificação só foi possível por meio da análise da arcada dentária. “Felizmente, o crânio estava parcialmente preservado, e foi possível comparar com uma radiografia antiga fornecida pela família”, explicou.

Sequenciador já emitiu 21 laudos

O sequenciador de DNA Ilumina, em funcionamento no Instituto de Criminalística da Polícia Civil desde meados de agosto, já emitiu 21 laudos sobre fragmentos corpóreos resgatados em Brumadinho, mas só foi possível extrair material genético de uma amostra analisada, devido ao avançado estado de decomposição das demais. Segundo a corporação, o segmento pertencia a uma vítima identificada anteriormente.

O Ilumina foi doado à Polícia Civil pela Vale, após acordo intermediado pelo Ministério Público.

Recurso do MPF tenta destrancar ação contra Samarco

O Ministério Público Federal (MPF) entrou com um recurso para reverter a decisão da Justiça de Ponte Nova que trancou uma ação penal contra oito executivos da Vale e da BHP Billiton, controladoras da Samarco, pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central. A tragédia matou 19 pessoas em novembro de 2015 e provocou o vazamento de 40 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos de minério de ferro, que arrasaram os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo e devastaram o rio Doce.

Seguindo a decisão do Tribunal Regional Federal da 1° Região, o juiz federal Jacques de Queiroz Ferreira recuou e suspendeu a ação movida contra os executivos da alta cúpula da Samarco. Segundo o magistrado, “os acusados, sendo membros do Conselho de Administração, não exerciam funções de gestão ou executivas na Samarco”.

O MPF, no entanto, sustenta que “o conhecimento dos riscos pelos denunciados em decorrência de suas funções na governança da Samarco foi confirmado não só por depoimento de uma testemunha, que já depôs em juízo, como por documentos da própria Samarco”. O recurso vai ser julgado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, segunda instância da Justiça Federal em Minas.

Em nota, a BHP Billiton afirmou que “a decisão judicial que rejeitou a denúncia reforça a convicção que a companhia sempre teve em sua inocência, bem como na inocência das pessoas a ela vinculadas”. A Vale não quis se pronunciar. (Letícia Fontes)

Garantia

Twitter. O governador Romeu Zema prometeu nesta segunda-feira que o Estado vai manter as buscas: “Vamos continuar trabalhando para minimizar o sofrimento de todos”, postou.