Acostumados com a vida na estrada e a passar cada mês em uma cidade diferente, encantando o público com a magia que só os picadeiros têm, os artistas do Circo Castelli tiveram que recolher a estrutura montada há cerca de três meses em Contagem, na região metropolitana, e suspender as apresentações por causa da pandemia do coronavírus. Sem a única renda possível, a da bilheteria, a grande família de circenses, formada por 25 adultos e nove crianças, recebeu, nesta quarta-feira (27), uma ajuda especial, vinda de outros artistas, a dupla sertaneja Jefferson e Alex. Os dois fizeram uma live, em parceria com o Projeto de Vida, e arrecadaram 30 cestas básicas com o objetivo de ajudar o circo, que ainda precisa de apoio. Afinal, os picadeiros foram um dos primeiros a parar e sabem que serão um dos últimos a retomar as atividades.

Há mais de três anos juntos, cantando e tocando em bares e festas de Belo Horizonte e região metropolitana, Jefferson e Alex se sensibilizaram primeiro com a história contada em O TEMPO do cantor carioca Wagner Fernandes, que teve o violão roubado nas ruas do centro da capital. A ideia era dar um instrumento para Wagner, mas, como o cantor recebeu ajuda de outras pessoas, a dupla decidiu voltar as atenções para o circo.

"Como nós gostaríamos de ajudar, participamos da live e aproveitamos para doar para o circo, que realmente está precisando", conta o cantor Alex. "Nossos amigos, parceiros e empresas ajudam, muitas pessoas sabem a importância de contribuir com os outros nesse momento tão difícil de crise", completa Jefferson.

A ideia foi concretizada em parceria com o Projeto de Vida, ONG criada há mais de 20 anos com foco na prevenção do uso de drogas. A organização realiza uma série de ações voltadas para públicos de todas as idades e, normalmente, recebe cerca de 150 pessoas por dia na sede em Contagem. Uma das iniciativas é uma oficina de teatro focada na palhaçaria, ministrada pelo Palhaço Maritaca, que capacita adolescentes para visitas em hospitais, creches e asilos.

"A renda do circo é a bilheteria, e, com a pandemia, o pessoal está parado, não pode viajar, as famílias estão realmente precisando. Já é uma vida que não é fácil normalmente, quem não tem amor não fica. O circo só existe por amor", diz o Palhaço Maritaca. "A pandemia não pediu licença, chegou e parou a vida de muitas pessoas, e a fome tem pressa", completa o fundador do Projeto de Vida, Giovanni Alexandre.

No Circo Castelli, toda ajuda é bem-vinda. Além de cestas básicas, os artistas precisam de leite, frutas e produtos de higiene pessoal. Recentemente, eles ganharam cobertores, mas, com as temperaturas cada vez mais baixas, ainda é preciso mais.

Veja o vídeo sobre a reportagem:

 

Quase todos ali são família: o circo foi criado em São Paulo há cerca de 40 anos, e as artes circenses são passadas de geração para geração. Eles são acostumados a dormir em trailer, às vezes sem água e sem luz, mas sempre com a renda da bilheteria, que não é muita, mas paga as contas

A trupe roda em Minas Gerais há cerca de três anos e chegou a Contagem em março, com o objetivo de passar um mês, um pouco mais ou um pouco menos, dependendo do movimento, mas a pandemia mudou os planos. Foram apenas três apresentações antes da suspensão das atividades.

"Com o que entra, a gente come, paga as contas e veste, vem tudo da bilheteria. Como nós estamos parados e não temos outro emprego fora, estamos vivendo de doações. Graças a Deus, o público de Contagem está ajudando bastante", conta a trapezista Stephanie Yovanovich, que nasceu no circo e nunca saiu dali. A mãe dela é trapezista, e os filhos, palhaços. "Não temos previsão de quando vamos conseguir voltar. Fomos um dos primeiros a parar e vamos ser um dos últimos a retornar", diz Stephanie.

O jovem Marcos Patrick da Silva, 22, que dá vida ao palhaço Caramelo e também se apresenta no globo da morte, tornou-se parte da família circense há cerca de seis anos. Ele deixou a casa onde vivia em Betim, na região metropolitana, para seguir o sonho de ser artista de circo quando tinha 14 anos. "O bom do circo é que você conhece vários tipos de pessoas, conhece o mundo como é. Agora está ruim, porque somos acostumados a viajar, a levar felicidade e amizade para as pessoas, e, nesse momento, temos que ficar entre nós", afirma.

Para ajudar

As doações de alimentos, itens de higiene pessoal e outros produtos podem ser levadas ao próprio circo, localizado em frente ao Ginásio Poliesportivo do Riacho (rua Rio Paraopeba, 1200), em Contagem.