Saúde

Escalada da dengue no Estado superlota hospitais particulares

Hospital Felício Rocho, na capital, até suspendeu acolhimento de pessoas com suspeita da doença

Por Clarisse Souza
Publicado em 18 de abril de 2019 | 03:00
 
 
Caos. Aumento de 649% no número de casos de dengue deste ano em relação a 2019 tem deixado salas de espera de hospitais lotadas Foto: Leo Fontes

A escalada do número de casos de dengue – que alcançou a marca de 121.699 notificações em todo o Estado, um aumento de 649% na comparação com os quatro primeiros meses de 2018 – já afeta o funcionamento de unidades de saúde da rede privada em Belo Horizonte e região, forçando pacientes a peregrinar entre vários hospitais até conseguirem atendimento. No Hospital Felício Rocho, localizado no bairro Barro Preto, na região Centro-Sul da capital, o acolhimento de pessoas com suspeita da doença está suspenso por tempo indeterminado, e só são recebidos casos de urgência e emergência relativos à enfermidade. A instituição confirmou o problema e informou, em nota, que a decisão “está diretamente relacionada à epidemia de dengue”. Segundo um funcionário, quem chega à unidade é barrado na triagem e orientado a procurar ajuda em outros hospitais.

Com sintomas clássicos da doença, um designer gráfico, de 41 anos, percorreu nesta semana três hospitais privados na capital e voltou para casa sem atendimento. Ele relata que, no Hospital Vera Cruz, no Barro Preto, a média de tempo para passar pela triagem era de cinco horas. A solução encontrada foi recorrer a uma unidade da Unimed em Contagem, na região metropolitana. “O pronto-socorro também estava lotado. Então, sugeriram que eu agendasse uma consulta. Só assim consegui ser atendido”, conta ele, que preferiu não ser identificado.

Na Rede MaterDei, com unidades na capital e em Betim, na região metropolitana, as salas de espera também têm ficado lotadas. A instituição atribui o problema aos casos suspeitos de dengue e de doenças respiratórias e afirma que reforçou a equipe médica para se adequar à demanda.

A Unimed informou à reportagem em nota que, em função da epidemia, já ampliou o atendimento nos centros de promoção de saúde de Horizonte, Betim e Contagem. O reforço está sendo feito para evitar situações como a da dona de casa Marília Gomes, 34, que relata ter ficado mais de cinco horas em uma sala de espera, na segunda-feira, para a filha ser atendida no pronto-atendimento do hospital de Contagem. “Estava muito cheio, e o pessoal não dava conta de atender. “O sentimento é terrível”, lamenta.

A cooperativa reforça que, além dos centros de promoção da saúde, “os hospitais da rede estão preparados para o atendimento dos casos mais graves de dengue e arboviroses”.

Problema exige que municípios ampliem o atendimento

A rede pública de saúde também enfrenta superlotação em suas unidades por causa da dengue, o que força os municípios a se adequarem. Em BH, que tem 13.713 casos prováveis da doença, a solução foi ampliar dias e horários de atendimento em alguns centros de saúde. Neste sábado, quatro postos das regiões Nordeste, Pampulha, Venda Nova e Barreiro serão abertos das 8h às 17h para acolher pessoas com sintomas da doença.

A fim de evitar a superlotação desnecessária de hospitais e unidades de pronto-atendimento, a Secretaria Municipal de Saúde da capital orienta que a população vá aos postos de saúde dos bairros para confirmar o diagnóstico de dengue.

Segundo o órgão, “todos os 152 centros de saúde da capital estão preparados e contam com equipe capacitada” para acolher os pacientes. Eles funcionam de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h.

De acordo com a pasta, nos dias e nos horários em que os postos de saúde estiverem fechados, a busca por assistência deve ser feita nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), que funcionam 24 horas.

Em Contagem, na região metropolitana, 30 unidades de apoio foram criadas para atender pacientes com dengue. A cidade já notificou 8.444 casos de suspeita da doença, quase sete vezes mais do que no mesmo período do ano passado, quando houve 1.274 registros. Ao lado da UPA JK, a maior do município, foi montada uma tenda com capacidade para até 200 atendimentos diários.

No país, casos cresceram 300% em relação a 2018

São Paulo. O número de casos de dengue no Brasil subiu 29% em duas semanas, segundo o Ministério da Saúde. Até 30 de março, foram contabilizadas 322.199 infecções, com 86 mortes. Em 16 de março, eram 229.064. Em relação ao ano passado, a elevação é bastante expressiva: 303%. No mesmo período de 2018, haviam sido registrados 51 óbitos.

O maior número de casos da doença está na região Sudeste, com 66,3% do total. Em seguida, vêm Centro-Oeste (17,4%), Nordeste (7,5%), Norte ( 5,4 %) e Sul (3,4%). A maior relação de casos por habitantes foi registrada o Tocantins (687,4 casos por 100 mil habitantes). Minas Gerais, o quarto Estado dessa lista, tem 387,8 casos a cada 100 mil habitantes).

Situação em Minas

Boletim

Neste ano, dos 853 municípios mineiros, 548 já registraram casos de dengue, segundo o último boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde, na segunda-feira.

Incidência

Conforme o relatório, 99 municípios mineiros têm alta incidência da doença. A cidade com o maior número de casos é Tabuleiro, na Zona da Mata. Com apenas 3.792 moradores, a cidade tem 115 notificações.

Orientação

Combate. O infectologista Antonio Toledo alerta que repelentes naturais não têm a eficácia cientificamente comprovada para repelir o Aedes aegypti: “As pessoas devem usar itens à base de Icaritin, Deet ou IR3535”.