Avaliação

Estudantes querem mais ensino técnico

Maioria é a favor de uma grade flexível, com matérias à escolha do aluno

Por Johnatan Castro
Publicado em 11 de junho de 2017 | 03:00
 
 
Para alunos do ensino médio, é preciso reformular modelo tradicional de escola Alex de Jesus - 22.11.2007

Ele pode ser um caminho para a faculdade, um período de aprendizado e amadurecimento para a vida ou uma ponte para o mercado de trabalho. Embora os jovens possam encarar o ensino médio de várias formas, a maioria deles concorda com a necessidade de reformulação dessa etapa da vida escolar. Isso é o que mostrou a pesquisa “Repensar o Ensino Médio”, divulgada no último mês pela ONG Movimento Todos Pela Educação: 76,5% dos estudantes aprovariam a substituição de um terço das matérias por disciplinas técnicas à escolha do aluno. O levantamento ouviu 1.551 jovens de todo o país, com idades entre 15 e 19 anos, sobre os professores, a participação social e a educação técnica nas redes pública e privada.

A necessidade de mudança surge porque os estudantes estão pouco satisfeitos com, por exemplo, as aulas de língua inglesa e o uso de tecnologia em sala de aula. “O modelo atual do ensino médio não faz com que o aluno tenha vontade de ficar nessa escola, o que dificulta muito o futuro dele. Se ele tivesse o ensino técnico, teria muito mais escolhas”, avalia Carolina Fernandes, coordenadora de Articulação e Mobilização do Todos Pela Educação.

Aluno debatem o que querem do ensino

Conforme a pesquisa, 71,4% dos entrevistados alegam que a principal motivação para cursar a etapa é estar preparado para o vestibular. Mas, para 87% dos jovens, matérias dirigidas à formação profissional, técnica e aconselhamento são muito importantes. Fábio Silva, coordenador pedagógico do Ético Sistema de Ensino, que fornece soluções educacionais para escolas, acredita que o ensino técnico poderia dar ao aluno uma experiência mais próxima do mercado.

“Hoje, temos uma carência de pessoas mais técnicas, mais vivenciadas da prática. Na universidade também você vê muito mais a parte teórica e menos prática. No ensino técnico, o aluno já começa a se preparar”, diz.


Reforma. A ambição dos estudantes está de acordo com o que prevê a reforma do ensino médio, sancionada pelo presidente Michel Temer (PMDB) em fevereiro. A proposta muda a distribuição do conteúdo das 13 disciplinas tradicionais ao longo dos três anos do ciclo, dá novo peso ao ensino técnico e incentiva a ampliação de escolas de tempo integral. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que definirá o novo currículo, deve ser enviada para avaliação do Conselho Nacional de Educação (CNE) nos próximos meses, segundo o Ministério da Educação. Ainda não há uma data, portanto, para que as novas regras entrem em vigor.

“No primeiro ano letivo subsequente à data de publicação da BNCC, os sistemas de ensino deverão estabelecer um cronograma de implantação das principais alterações”, informou o ministério. Carolina Fernandes critica a forma como a reforma foi feita, sem debate e por Medida Provisória (MP), e diz que nem todos os municípios terão condições de implantar as mudanças.

 


Saiba mais

Desconhecimento. A pesquisa mostrou que 95% dos estudantes gostariam de saber mais sobre o ensino técnico. Metade dos estudantes do ensino médio regular ou da Educação de Jovens e Adultos (EJA) não conhece nenhuma modalidade de ensino técnico.

Evasão. Entre os entrevistados, 86% alegam ter alguma dificuldade para continuar estudando, sendo que 42% afirmam ter obstáculos financeiros, e 19%, problemas em conciliar trabalho e estudos.

Professor. Embora 37,6% dos jovens já tenham pensado em ser professor, 23,5% disseram ter desistido da ideia. A rejeição à profissão reflete aspectos relacionados à baixa valorização que a sociedade brasileira atribui aos professores.


Rede estadual

Em MG, só 5% têm ensino profissional

Cursos que dialogam com o século XXI e estejam de acordo com a realidade dos alunos. Essa é uma necessidade que, segundo a superintendente de Desenvolvimento do Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Cecília Resende, o governo de Minas Gerais já percebeu. Ela conta que a rede de ensino profissional está em 112 das 2.236 escolas estaduais atualmente, ou cerca de 5% delas, número que deve ser ampliado para 200 instituições a partir de agosto. Cada uma oferece no mínimo dois cursos, em que os alunos podem participar de forma simultânea ou subsequente às aulas tradicionais.

São oferecidos um total de 27 cursos, entre eles logística, transações imobiliárias, enfermagem e agente comunitário de saúde. Atualmente existem 16 mil vagas em toda a rede. “A gente não tem vínculo direto com o emprego, mas todos os cursos que são ofertados levam em consideração a demanda por emprego naquele território”, explica Cecília.

As matrículas no ensino técnico integrado ao médio cresceram 9,5% na comparação entre 2015 e 2016. Já as matrículas em cursos técnicos subsequentes ao ensino médio regular caíram 13,8% no mesmo período, de 1,023 milhão em 2015 para cerca de 882 mil no ano seguinte.