Atraso

Falta de Coronavac: o que fazer se a segunda dose da vacina atrasar

Prefeitura de BH precisa de 80 mil novas doses do imunizante para vacinar pessoas de 64 a 67 anos

Seg, 03/05/21 - 16h06
A maioria dos mineiros que estão com a imunização em atraso precisam tomar a segunda dose da Coronavac | Foto: CARL DE SOUZA / AFP

A bula da Coronavac determina que a segunda dose do imunizante deve ser aplicada entre 14 e 28 dias após a primeira. Em Belo Horizonte, como em outras capitais brasileiras, esse prazo não está sendo respeitado por falta de unidades do imunizante. Pessoas de 67 anos, que começaram a ser vacinadas na capital no dia 5 de abril, deveriam receber a segunda dose até esta segunda-feira (3), mas se depararam com postos de saúde sem o imunizante. O calendário do grupo de 64 a 66 anos também pode ser atrasado, sem data definida para que esse público receba a nova dose. 

Mesmo com o atraso, pesquisadores e o Ministério da Saúde reforçam que todos os que receberam a primeira dose da vacina devem tomar a segunda assim que ela estiver disponível. Confira os principais pontos sobre o atraso e entenda por que é importante receber a segunda dose da vacina ainda que fora do calendário ideal.
 
POR QUE FALTAM VACINAS?

Uma das explicações para o atraso da vacina são as mudanças de orientações do Ministério da Saúde, na perspectiva de pesquisadores e do poder municipal. A partir da oitava remessa de vacinas que chegou a Minas Gerais, em março, o Ministério da Saúde passou a recomendar que todas as unidades fossem utilizadas para aplicação da primeira dose, prometendo que as vacinas para aplicação da segunda seriam enviadas dentro do prazo correto aos municípios. 

Com atrasos no recebimento de insumos importados e consequente diminuição da entrega de unidades pelo Instituto Butantan, a pasta não cumpriu a garantia e voltou atrás na última semana: a partir de então, a orientação federal passou a ser reservar vacinas para a segunda dose. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), afirmou, também na última semana, que desobedeceu a orientação ministerial e fez reserva de imunizantes para a segunda dose nos últimos meses

“Se tivéssemos seguido a norma ao pé da letra, não teríamos conseguido vacinar pessoas de 70 a 68, mas conseguimos. Reservamos cerca de 60 mil doses”, diz o subsecretário municipal de Promoção e Vigilância à Saúde, Fabiano Pimenta. De acordo com ele, cerca de 50 mil doses já foram utilizadas para a segunda aplicação nas pessoas de 70 a 68 anos, restando 10 mil doses de reserva. 

Na perspectiva de pesquisadores, a decisão ministerial foi arriscada, em um momento em que o Brasil depende da importação de matérias-primas para fornecer vacinas à população. 

“Eu teria reservado a segunda dose, porque estamos vendo uma instabilidade do fornecimento por parte dos fornecedores de vacinas. Se tivéssemos mais segurança das entregas nos preços, a decisão de utilizar as doses na primeira aplicação seria a mais correta para ampliar a vacinação. (Não reservar doses) gera muita insegurança na população, porque a eficiência da primeira dose não é a ideal. É preferível vacinar adequadamente um grupo do que ampliar a vacinação e ficar faltando a segunda dose”, avalia o epidemiologista e consultor científico de vacinas do laboratório Hermes Pardini, José Geraldo Ribeiro. 

Na época em que o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, orientou que a segunda dose não fosse mais reservada, a decisão já era encarada com ceticismo por alguns cientistas. Questionado pela reportagem, o Ministério da Saúde não respondeu ao que ele próprio atribui a escassez da segunda dose de Coronavac. 

QUANDO MAIS VACINAS SERÃO ENTREGUES EM BH?

A expectativa da Prefeitura de Belo Horizonte é receber doses de um novo lote da Coronavac nesta semana, mas ela diz não saber quantas chegarão à cidade. Das 60 mil doses que foram reservadas pelo governo municipal para a segunda dose, restam 10 mil. Mas só o grupo de 67 anos chega a aproximadamente 26 mil pessoas, por isso a prefeitura diz que aguardará a chegada de pelo menos outras 16 mil vacinas para liberar a aplicação a todos os idosos de 67 anos de uma vez.  

No total, a prefeitura precisa de mais 80 mil doses para cobrir o público de 64 a 67 anos. “Tendo a vacina, vacinaremos o grupo em três, quatro dias, no máximo. A nossa expectativa é conseguir normalizar essa situação na próxima semana”, completa o subsecretário municipal Fabiano Pimenta.

A SEGUNDA DOSE PODE SER TOMADA FORA DO PRAZO?

Embora não existam estudos científicos mostrando os efeitos da vacinação com a Coronavac fora do prazo, a determinação do Ministério da Saúde e da PBH é que todos os que receberam a primeira dose tomem a segunda assim que possível, mesmo após o intervalo de 28 dias. “É importante esclarecer que a aplicação da segunda dose entre 15 e 21 dias após o recomendado pelo laboratório (28 dias) não compromete a eficácia da vacina”, afirma a prefeitura. 

A EFICÁCIA DA VACINA DIMINUI COM O ATRASO DA SEGUNDA DOSE?

As pesquisas sobre a Coronavac foram baseadas na aplicação da segunda dose entre 14 e 28 dias e não há resposta científica sobre os efeitos do atraso sobre a eficácia do imunizante. Tendo em vista o que se sabe sobre outras vacinas, porém, pesquisadores tendem a acreditar que o atraso de algumas semanas não deve comprometer a proteção oferecida pela vacina. O problema é que, quanto mais tempo a pessoa ficar sem a segunda dose, mais tempo estará suscetível a se contaminar com o coronavírus entre as duas aplicações.

“O grande prejuízo é a pessoa não estar completamente imunizada quando já poderia, se tivesse a segunda dose em dia. Se você está em uma pandemia com transmissão descontrolada e fica esperando muito, o risco de se contaminar antes da segunda dose é muito grande”, reforça o epidemiologista José Geraldo Leite. 

A PRIMEIRA DOSE JÁ OFERECE ALGUMA PROTEÇÃO?

Ainda não há conclusão sobre o nível de proteção oferecido apenas pela primeira dose da Coronavac. Resultados preliminares de um estudo realizado com quase 68 mil profissionais da saúde vacinados em Manaus demonstram uma proteção de 50% em prevenir a contaminação sintomática pelo coronavírus após 14 dias desde a primeira dose da vacina, contudo a análise é inicial. 

“A primeira dose não vai ser desperdiçada (com atraso da segunda). A segunda dose é o reforço, ela potencializa a primeira resposta do organismo, produzindo ainda mais anticorpos”, diz a pós-doutora em bioquímica Mellanie Fontes-Dutra. Ela reitera que é essencial tomar a segunda dose, porque os estudos sobre a vacina consideram as duas aplicações.

O ATRASO DA SEGUNDA DOSE COMPROMETERÁ A VACINAÇÃO DOS OUTROS GRUPOS?

De acordo com o subsecretário municipal de Promoção e Vigilância à Saúde, Fabiano Pimenta, o atraso na segunda dose da Coronavac para pessoas de 64 a 67 anos não compromete a vacinação de outros grupos na cidade. 

A próxima fase da campanha, que focará em pessoas com comorbidades, com deficiências e gestantes ou puérperas, não tem data para começar, mas deve contar com as primeira doses da vacina da Pfizer que chegarão a Belo Horizonte. De acordo com Pimenta, a expectativa do governo municipal é iniciar essa fase até a próxima semana. 

Os idosos com data marcada para receber a segunda dose da vacina da Astrazeneca também têm imunizantes garantidos, de acordo com a prefeitura.

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