Denúncia

Falta de insumos para radiologia ameaça realização de exames em BH

Profissionais da saúde relatam ao Super que substâncias essenciais para obter diagnósticos estão em falta; doenças graves podem “passar batidas” sem eles

Sex, 15/04/22 - 13h00
Exame de tomografia | Foto: Pixabay

Exames fundamentais para diagnosticar com rapidez doenças graves correm o risco de serem paralisados por falta de insumos. A informação é do presidente da Sociedade de Radiologia de Minas Gerais, Rogério Augusto Pinto da Silva, que denuncia a escassez do contraste iodado e do gadolínio, duas das principais substâncias químicas usadas para realçar partes do corpo que, normalmente, não apareceriam com nitidez em exames de imagem como a tomografia e a ressonância magnética. 

“Sem esses materiais é quase impossível diagnosticar infarto, acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico, por exemplo. Eles são muito importantes”, afirma Silva. Segundo o médico, radiologistas de todo o país têm relatado problemas. 

Funcionários de alguns hospitais e clínicas de Belo Horizonte já relatam racionamento para evitar que os insumos acabem antes da chegada de nova remessa. “No começo desta semana, nos informaram para fazer racionamento. No funcionamento da radiologia moderna, o desabastecimento desses contrastes gera insegurança para dar o atendimento ideal aos pacientes”, pontua um radiologista de um hospital filantrópico que recebe pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) em BH, em anonimato. 

O médico relata que o problema se repete em uma clínica de diagnóstico por imagem particular onde ele atua em Belo Horizonte e revela que, em alguns casos, é preciso adiar o atendimento dos pacientes. “Isso acontece porque há alguns exames que não podem ser feitos sem contraste, como angiotomografias e ressonâncias magnéticas, por exemplo”, diz.

Outra profissional que trabalha em um hospital filantrópico de BH e pediu anonimato teme pelo pior. A mulher diz ainda ter material para contraste na unidade onde ela atende, mas afirma ter contato com colegas que estão preocupados por já sentirem os efeitos da escassez do contraste iodado e do gadolínio nas salas de diagnóstico por imagem. “Vai entrar em colapso”, alerta.

Respostas

O TEMPO procurou ontem as assessorias de imprensa das empresas Bayer, Guerbet e Bracco, três das principais fabricantes citadas por radiologistas como fornecedoras dos insumos para contraste em exames de imagem. Até o fechamento desta reportagem, no entanto, nenhuma delas havia esclarecido as causas que levaram à escassez de material para o setor de radiologia do país. 

A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig)afirmou, em resposta à reportagem, que não há registro de falta de contraste iodado nas 19 unidades de saúde gerenciadas pela entidade. Por meio da assessoria de imprensa, a instituição declarou ainda que não utiliza o gadolínio para realização de exames de imagem.

A reportagem procurou o Ministério da Saúde e questionou se o órgão acompanha a possível falta de insumos para a realização de exames por imagem nas redes pública e privada. A pasta respondeu apenas que tanto o contraste iodado quanto o gadolínio “não fazem parte do rol de medicamentos elencados na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename 2022), de responsabilidade de aquisição por parte do ministério”.

Hospitais não confirmam

Embora radiologistas ouvidos por O TEMPO denunciem o risco iminente de faltar material para os exames de contraste, hospitais procurados pela reportagem negaram que o problema já tenha chegado às salas de diagnóstico por imagem das unidades.

A assessoria de imprensa da Santa Casa, localizada no bairro Santa Efigênia, na região Leste de Belo Horizonte, afirmou, por meio de nota, que não há registro de falta de contraste iodado e nem de gadolínio na unidade de saúde.

O Hospital da Baleia, no bairro Pompeia, na região Leste da capital, declarou, por meio da assessoria de imprensa, ter o contraste iodado em estoque. Afirmou ainda que não faz uso do gadolínio, uma vez que não é feita ressonância magnética no local.

Já o Hospital Madre Teresa, que fica no bairro Gutierrez, na região Oeste de Belo Horizonte, informou, também por meio da assessoria de imprensa, que não vai se pronunciar sobre o assunto.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.