na Afonso Pena

Famílias sem-teto ocupam prédio no centro de Belo Horizonte

Eles querem reunião com os governos municipal, estadual e federal e solução para o problema da falta de moradia

Por Pedro Ferreira
Publicado em 06 de setembro de 2017 | 11:55
 
 
Famílias sem-teto ocupam prédio no centro de Belo Horizonte Foto: Alex de Jesus

Duzentas famílias de sem-teto e lideranças do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas de Minas (MLB) ocuparam na madrugada de ontem o prédio da Avenida Afonso Pena, 2.300, esquina com Rio Grande do Norte, no centro de Belo Horizonte. Eles querem reunião com os governos municipal, estadual e federal e uma solução para o problema da falta de moradia. O prédio pertence à União e abrigou durante muito tempo a Secretaria de Estado de Educação.

Segundo os ocupantes, o edifício de 14 andares que abrigou a Secretaria de Saúde do Estado, está abandonado há mais de cinco anos. Os sem-teto têm apoio das ocupações Paulo Freire, do bairro Vila Pinho, e Eliana, da Vila Santa Rita.

Eles chegaram por volta das duas da madrugada e policiais militares do primeiro batalhão foram acionados, mas como a ocupação é pacífica os PMs foram embora.
Segundo MLB, são pelo menos 170 mil famílias sem ter onde morar em Belo Horizonte, incluindo quem vive em área de risco, em situação de rua ou que moram de favor. A prefeitura e o estado foram procurados pela reportagem e ainda não se manifestaram.

“Vamos permanecer no prédio por tempo indeterminado, esperando diálogo com a prefeitura, o Estado e o governo federal para que resolvam o problema da falta de moradia. São muitos prédios vazios como esse em Belo Horizonte e resolveriam o problema do déficit habitacional”, disse a coordenadora municipal do MLB, Camila Pereira. A ocupação ganhou o nome de Carolina Maria de Jesus. “Foi a primeira mulher negra a lutar pelo direito à moradia da classe trabalhadora”, informou a coordenadora nacional do MLB, Poliana de Souza.

A ocupação do prédio foi planejada há muito tempo. Eles montaram uma cozinha no térreo, inclusive com escadas de trabalho e horários para tudo, para as refeições e até para dormir. Também organizaram uma estrutura de portaria na entrada do prédio pela rua Rio Grande do Norte, por onde entraram. Há, inclusive, um sistema de radiocomunicação. Todo visitante é obrigado a assinar um caderno na entrada.

Eles planejam, inclusive, construir uma horta comunitária no terraço do edifício. “Os andares estão aptos para moradia. Estamos limpando todo o prédio e vamos escolher um andar para funcionar como creche. A gente garante que não haverá danos ao prédio. Só queremos diálogo e moradia”, disse Camila.

Os sem-teto também pretendem criar um espaço cultural no saguão principal do prédio, com rodas de conversa. O tema desta quarta-feira foi violência contra a mulher. “Também teremos sarau. As atividades culturais serão abertas ao público”, informou Camila.

O presidente da Companhia de Habitação de Minas Gerais (Cohab), Alessandro Marques, disse que está à disposição para conversar com o movimento dos sem-teto, para saber o que eles pretendem. Disse, ainda, que está apurando a propriedade do imóvel ocupado. A Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) foi procurada pela reportagem e não se manifestou.
No prédio ocupado há uma faixa anunciando aluguel do imóvel e os números de telefone, sendo dois com código de área de Brasília (DF) e um de Belo Horizonte não atendem.