No Expominas

Feira Nacional de Artesanato é esperança para artesãos em época de crise

Mais compacto que edições anteriores, evento está confirmado para acontecer na primeira semana de dezembro

Por Rafael Rocha
Publicado em 17 de outubro de 2020 | 06:00
 
 
Artesãs manipulando o tear durante a Feira Nacional de Artesanato, no Expominas Foto: Luiza Bongir/Divulgação

“O artesão está passando fome!”. A fala de Tânia Machado, referência nacional na área de artesanato, entrega a situação de carência pela qual artesãos e artesãs vêm passando durante os meses em que suas vendas ficaram bastante comprometidas.

“O artesão está vendendo 20% do que vendia antes”, continua Tânia, que além de presidente do Instituto Centro de Capacitação e Apoio ao Empreendedor (ICCAPE), é a cabeça à frente da Feira Nacional de Artesanato, o grandioso evento que chega à 31ª edição fazendo o olho dos artesãos - e dos visitantes - brilhar.

Pouco acostumados com vendas no meio digital e bastante dependente de feiras e eventos, os artesão foram pegos em cheio pela nova configuração provocada pela pandemia. Como o isolamento social impossibilitou qualquer manifestação que gerasse acúmulo de pessoas, o impacto no bolso do artesão foi imediato. Com o avançar dos meses com vendas emagrecidas, as histórias desses comerciantes passando por apertos financeiros cada vez mais severos foram chegando em série. 

A solidariedade ajudou a não deixar ninguém ficar sem comida na mesa, e algumas ações de arrecadação de cestas básicas foram necessárias. Mas sem vender seus produtos, como ter perspectiva de futuro?

Sem vendas, com caixa zerado e empréstimo no banco, o artesão Felipe Flores e sua família chegaram a pensar em desistir do ofício, tamanho o desalento. “Agora temos dívidas a pagar e problemas para recuperar a produção”, diz o comerciante, que calcula perda de até 80% nas vendas de brincos, colares e pulseiras de cerâmica plástica. O auxílio emergencial recebido por duas pessoas em sua casa, complementado pela doação de cestas básicas, deram um respiro nos meses de poucas vendas.

A esperança de Flores e tantos outros artesãos reside exatamente na Feira Nacional de Artesanato, e a boa notícia que eles aguardavam veio ontem. A prefeitura de Belo Horizonte divulgou o calendário de autorização da retomada de eventos - feiras de negócios, exposições, congressos e seminários podem voltar a funcionar a partir de 30 de novembro.

A grandiosa feira, que tradicionalmente ocupa os pavilhões do Expominas com seus itens de cestaria, tapeçaria, cerâmica, entalhes em madeira, entre outros, será o primeiro evento a acontecer no centro de convenções, após oito meses fechado. A organizadora ainda corre atrás de patrocínios, mas garante que um dos maiores eventos de artesanato do país está confirmado entre os dias 1 e 6 de dezembro.

Segundo Tânia, o evento vai garantir ao visitante e ao expositor toda a segurança sanitária necessária, com disponibilização de totens de álcool em gel e distanciamento entre os artesãos. A prefeitura informou que irá publicar os protocolos específicos para feiras e eventos na próxima semana.

Apesar do entusiasmo dos artesãos para o retorno, a categoria tem ciência sobre o receio de parte do público em visitar grandes eventos neste momento. “Fizemos uma pesquisa e identificamos que 32% dos visitantes disseram que não vão à feira, pois ou são idosos ou preferem aguardar a vacina”, informa Tânia. Para minimizar esse medo e garantir o distanciamento social, a feira irá se apresentar com nova configuração. Seu tamanho será diminuído de 10 mil para 8 mil metros quadrados. O número de estandes passa de 900 para 700, e a previsão é que a visitação caia quase pela metade, saindo dos 130 mil de 2019 para estimados 75 mil agora. Os custos do evento também caíram, saindo de R$ 7 milhões para R$ 4,1 neste ano. O evento promove cerca de R$ 60 milhões em vendas.

Pouco contato com o digital

A falta de familiaridade com o universo digital, algo ainda comum a vários artesãos, foi um dificultador para o escoamento das roupas de boneca de Maria Augusta Veloso, de 66 anos. Com a queda de suas vendas no patamar de 70% durante a pandemia, ela decidiu confiar no futuro e investiu na ampliação do estoque. Pretende vender os 700 itens produzidos durante o período na aguardada feira no Expominas. “Hoje fui até ao banco para reativar minha maquininha de cartão”, celebra.

Essa falta de proximidade com mídias digitais tem sido um ponto trabalhado pelo Sebrae durante suas ações, continuamente promovidas em atenção ao artesão, conforme explica Amanda Guimarães, responsável técnica do segmento de artesanato. “Eles dependem muito de feiras e eventos presenciais, mas o artesão foi empurrado para o mundo digital durante a pandemia”, contextualiza. Cursos e eventos de marketing digital, fotografia e promoção do artesanato estão previstos pela entidade para acontecer em novembro.

Governo prestou apoio com cestas básicas

O governo estadual informou algumas ações que vem realizando em apoio ao segmento, como atendimento digital para emissão da Carteira Nacional do Artesão e doação de cestas básicas a mais de 800 famílias de artesãos. Um treinamento em educação fiscal para artesãos é previsto para acontecer em breve. As informações são da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sede).

Feirantes da avenida Silva Lobo

Comerciantes da feira da avenida Silva Lobo, na região Oeste da capital, negociam com a prefeitura a retomada das atividades. Em reunião realizada ontem, as tratativas foram iniciadas para que os estandes possam voltar a vender seus produtos, mas ainda não há data confirmada. A prefeitura informou que prevê para novembro a publicação de edital para regularização da feira.