Mais de 30 terreiros de Umbanda de Belo Horizonte e região Metropolitana se reúnem neste sábado (13) para celebrar a Festa de Iemanjá, na lagoa da Pampulha, até às 22h30. A concentração teve início às 15h na rua Diamantina, no bairro Lagoinha. Em seguida, por volta das 16h30, o público seguiu em carreata até o Largo de Iemanjá, na orla da lagoa. No local, são realizadas oferendas à Divindade e ocorrerão apresentações de afoxé. O público pode assistir às giras, louvações, cantos e tomar passe, que serão realizados ao ar livre.
O tradicional dia 2 de fevereiro – Dia de Iemanjá - mantém uma história sincrética na capital mineira há mais de 60 anos. Mas há uma explicação para a festa ser realizada em agosto. Durante a Ditadura Militar, as religiões de matrizes africanas eram perseguidas.
Uma forma encontrada de driblar a perseguição pelos adeptos da Umbanda e Candomblé de cultuarem a Orixá, era no dia 15 de agosto (feriado em BH), quando é celebrada a Assunção de todas as Nossas Senhoras, na tradição do Catolicismo.
Pai Ricardo de Moura, presidente do centro de Umbanda Pai Jacob do Oriente e presidente do RUM (Reunião Umbandista Mineira), descreve a importância do evento. “Esse encontro é uma forma de delatar, de falar que é crime religioso, é crime racial atacar terreiros, queimar terreiros e atacar ‘povo de santo’. É por isso, que o encontro de Iemanjá também acontece, é para nos proteger e dizer que somos contra todo tipo de racismo e discriminação, e para dizer que isso tem acontecido com os nossos”, alerta.
Ele lembra que a celebração é Patrimônio Imaterial de Belo Horizonte. “Fazer essa festa é manter a tradição e resistência de um povo que foi escravizado e que quer direito à cidade, ao mundo, a terra, ao espaço público, porque para nós é um espaço público sagrado. Fazer uma carreata para Iemanjá é mostrar para Belo Horizonte um povo que é colocado às margens, nas periferias e depois criminalizado por estar lá. Povo pobre, negro”, critica.
Pai Ricardo destaca que conhecer a Umbanda é reconhecer a própria identidade. “É todo mundo lembrar quando sua mãe levava você para benzer de ‘vento virado’, ‘espinhela caída. É lembrar da feijoada, o tropeiro, é reconhecer os várias chás e remédios naturais como identidade também”.
A filha de santo e antropóloga Nicole Batista, 28 anos, da Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente, do bairro Lagoinha, comenta que é a sua segunda vez no evento. Ela avalia que a carreta é importante, principalmente no momento do país, em que há muitos ataques as religiões de matriz africanas.
“Estar presente na cidade, com as nossas vestimentas, com os nossos santos, a nossa estética, ocupar a cidade, ser visto pela cidade é uma coisa muito importante pra gente nesse momento”, pontua. “Ser reconhecido, ser visto porque, a nossa fé, ela é uma fé muito política também”, anota.
“Ela é uma fé política, no mundo racista, colonizado como é o nosso”, arremata. “Louvar os nossos ancestrais, nossos orixás, da nossa matriz africana, além de uma fé muito forte, é também uma questão política muito importante também”, conclui.
Ansiosa e emocionada por participar pela primeira vez da carreata para Iemanjá, a vendedora Hellem Maia, 29, pontua que o evento significa união entre os terreiros. “Temos uma união muito forte, independente de qual seja o terreiro, porque essa questão da gente se unir é muito importante para aquilo que acreditamos e para a nossa nação”.
Hellem, que é filha de santo, mora no bairro São João, em Betim, e faz parte do terreiro Ilê Axé Omim, que fica no bairro Nacional, em Contagem. Ela lamentou a intolerância religiosa enfrentada por umbandistas.