Polêmica

Jovens denunciam terem sido agredidos por seguranças do Mercado Central

Ele e o amigo filmaram possível ação truculenta dos agentes que teriam batido em suposto ladrão de castanhas do estabelecimento

Por Laura Maria e Alex Bessas
Publicado em 18 de agosto de 2019 | 15:33
 
 
CIDADES- Belo Horizonte, Mg. SEGURACAS DO MERCADO CENTRAL MEGAM EXCESSO EM ABORDAGEM. Fotos: JOAO LEUS / O Tempo - 18.8.19 Foto: JOAO LEUS / O TEMPO

Dois homens, de 33 e 28 anos, denunciaram terem sido vítimas de agressão da equipe de seguranças do Mercado Central. Eles questionam se o uso desproporcional de força seria prática comum do local e se a central de segurança seria também usada como “centro de tortura” no local. 

A instituição nega as acusações e argumenta que a ação foi uma reação proporcional a um suposto ataque sofrido pelos profissionais. A Polícia Civil vai instaurar um procedimento investigatório sobre o caso, já que as versões são contraditórias. 

Apesar de os dois denunciantes terem escoriações visíveis pelo corpo, a corporação afirma que nenhum dos envolvidos estava com lesões e que todos foram liberados.

Toda história começou às 10h15 deste domingo (18) a três quarteirões do complexo comercial, nas proximidades do Minas Centro, na região central de BH. Foi lá que os rapazes disseram terem visto dois seguranças agredindo um homem, suspeito de ter furtado castanhas em uma loja do espaço, que estava imobilizado por um terceiro profissional. “Eu saquei o celular e fui acompanhando para que o homem não fosse mais agredido”, diz P., que é curador e tem 33 anos.

Eles contam que adentraram o prédio do Mercado Central e foram cercados por mais seguranças, sendo intimidados a parar de filmar. A situação se agravou quando um dos homens tentou tomar o celular de P., que resistiu a entregar o aparelho.

Os rapazes, então, gritaram para atrair a atenção de outras pessoas que estavam no lugar, deixando os profissionais intimidados. “Me deram rasteira, me deram socos nas costas, me acertaram o cassetete pela ponta”, denuncia H., que é cozinheiro e tem 28 anos.

Depois disso, foram levados até a Central de Segurança, onde o suspeito de furto já estaria. Por lá, as agressões teriam continuado a acontecer. “Em nenhum momento eles avisaram para a gente por qual razão estavam nos conduzindo, em nenhum momento encostei a mão neles”, diz P., reforçando que eles não reagiram e nem teriam condições de fazê-lo, já que estavam cercados por pelo menos 10 pessoas da equipe de segurança.

“Foi isso, um aglomerado de seguranças tentando conduzir um suspeito e duas pessoas que estavam filmando, que no final virou uma agressão contra essas duas pessoas que estavam filmando”, resume H., que vê a ação como desproporcional.

“O que mais espanta é o tipo de aparato que se mobilizou para bater em duas ou três pessoas que não estavam fazendo absolutamente nada. Por causa de um crime, um furto de algo irrelevante, eles cometeram cárcere privado, que tem pena de 8 a 12 anos, cometeram tentativa de furto, cometeram agressões”, aponta o rapaz, se referindo ao fato de terem sido levados para a central de segurança e impedidos de sair de lá, e considerando a tentativa de tomar o celular de um deles como furto, além das agressões.

“Decidimos levar essa história adiante porque o nosso medo é que seja uma conduta diária, por isso achamos importante vir aqui fazer a ocorrência. O que parece é que tem um centro de tortura que funciona ali”, observa P.

Mercado Central nega denúncias

O superintendente do Mercado Central, Luís Carlos Braga, nega que situações de violência sejam regra na instituição e afirma que, se for provado que a equipe cometeu excessos, haverá punição. O administrador da instituição também acusa os dois rapazes e o suspeito de furtar castanhas de terem agredido os seguranças.

Braga explica que quando uma pessoa é flagrada cometendo furto, “ela é convidada a ir para a Central de Segurança” até que a polícia militar seja acionada e chegue ao local. “Nós temos um relacionamento muito estreito com o 1º Batalhão, com a 6ª Companhia”, inteira.

“No caso específico de hoje, quando foi abordado, ele reagiu e derrubou um segurança em uma loja de vidros – agiu assim porque ele tem uma série de passagens”, comenta. “Por isso o pessoal foi atrás, para pegar e levar para a central. E aí essas pessoas estavam do lado de fora, sem saber o que estava acontecendo também tomaram as dores e tentaram agredir meus seguranças”, afiança.

Questionado como a equipe é orientada a agir diante de alguma interferência externa, Braga afirmou que é importante que a equipe explique o que está acontecendo. “Só que as pessoas estavam vindo da noite, tinha uma festa rave perto do Mercado, parece que eles estavam alterados, e não estavam percebendo o que estava acontecendo. E ao abordar, eles tentaram também agredir os meus seguranças. Foram três ou quatro agressores”, acusa.

“A orientação que parte da administração é justamente esta: não reagir. Mas no caso de serem atacados, eles também têm que se defender”, arremata ele. O superintendente diz que, perante a Justiça, irá disponibilizar as imagens do circuito interno de câmeras, que reúne quase 330 dispositivos. “Não vou deletar nada. Se houver algum excesso do meu pessoal, eu acho difícil, mas se tiver excesso do meu pessoal, com certeza serão punidos”, garante.

O superintendente disse que a equipe de segurança não é terceirizada, sendo mantida pelo próprio Mercado Central. Ele afirma ainda que os seguranças passam por reciclagem anual, cuja responsabilidade é da Polícia Federal. 

A advogada da instituição, Kelly Sousa, alega que os dois amigos que denunciam a agressão por parte de funcionários do Mercado Central teriam tentado impedir a ação deles, primeiro, "proferindo ofensas e palavras de baixo calão" e, depois, um deles teria "agredido um segurança, com dois murros na cabeça".

A Polícia Civil não confirmou se o suspeito tem, de fato, passagens anteriores.