Grupo de extermínio

Júri considera que ex-policial e irmão não tentaram cometer homicídio

Após nove horas de julgamento, Robocop e Betinho são inocentados da acusação de duplo homicídio por falta de provas

Por JULIANA BAETA E ENNIO RODRIGUES
Publicado em 22 de julho de 2014 | 19:50
 
 

O ex-policial militar Rodney Balbino Leonardi, conhecido como “Robocop”, e Robert Balbino Leonardi, o “Betinho”, foram inocentados na noite desta terça-feira (22) da acusação de tentativa de duplo homicídio. O juri os considerou inocentes por falta de provas suficientes para que fossem condenados. O julgamento foi realizado no 2º Tribunal do Júri do Fórum Lafayette em Belo Horizonte, durou nove horas e a promotoria já recorreu da decisão.

Robocop e Betinho eram suspeitos de integrar suspeitos de integrarem um grupo de extermínio em São José da Lapa e Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte, que teria causado a morte de pelo menos 21 pessoas ligadas ao tráfico de drogas entre 2004 e 2009.

O Julgamento
O julgamento foi presidido pelo juiz Glauco Eduardo Soares. O promotor Herman Lott irá representar o Ministério Público (MP), como agente de acusação. A defesa dos réus é feita pelos advogados Ernani Couto, Marcos Couto e Agnaldo Aquino. O júri é formado por quatro mulheres e três homens.

De acordo com o MP, os crimes ocorridos envolvem gangues criminosas ligadas ao tráfico de drogas em São José da Lapa e região. Por serem de grupos rivais, os acusados e outros integrantes de quadrilhas se enfrentam constantemente, numa disputa por pontos de venda de tóxicos.

Além dos dois acusados, 13 testemunhas devem ser ouvidas durante o julgamento.

As vítimas
Após a nomeação do advogado de defesa, Agnaldo Aquino, as vítimas da tentativa de duplo homicídio começaram a ser ouvidas. Elas não estão sendo identificadas pela assessoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais por segurança. O primeiro a ser ouvido foi J.L.R., que pediu a retirada dos réus da sessão para depôr. Ele confirmou o envolvimento de Robocop e Betinho com o tráfico de drogas na região e disse que os conhecia de vista e que  não tinha nenhum desentendimento com eles.

A vítima também confirmou que estava com a outra vítima, identificada como D.R.R., perto do local onde acontecia uma festa, e no caminho,  Betinho disparou várias vezes contra D., e disse saber que os dois, Betinho e D. tinham desavenças anteriores, por causa de um CD e de uma blusa.
J. e D. se conheciam há dois anos antes do dia do crime e, segundo a vítima, nunca havia pegado na arma que estava com D., que era vigia e, portanto, andava armado.

Após os tiros, J. e D. correram e se esconderam atrás de um bar por cerca de 25 minutos. Foi quando eles foram surpreendidos por Betinho, que teria disparado duas vezes na panturrilha e no pé de J. Ainda segundo ele, D. e o réu trocaram tiros.

J. contou que depois disso desmaiou e só acordou no hospital e que se separou da outra vítima porque D. ficou preso em uma cerca de arame farpado. Além disso, a vítima contou que só foi baleada porque estava com D., já que não tinha nenhuma desavença com o réu e disse ainda ter certeza que os tiros que o atingiram vieram da arma de Betinho e também do irmão dele, o Robocop.

Questionado pelo promotor de Justiça, a vítima confirma que foi Robert que sacou a arma, mas não sabe quem atirou primeiro.

J. disse que não vê D. há muitos anos e não sabe do seu paradeiro e contou que, no dia do crime, não olhou para trás para ver se D. havia se soltado do arame, apenas correu.
A vítima confirmou que já foi usuária de drogas mas negou ter usado entorpecentes na noite do crime. Ela também disse não se lembrar de quantos tiros ouviu na hora do crime, já que o fato aconteceu muito rápido.

Depois de uma hora de depoimento, a vítima confirmou que foram os réus que atiraram nele e em D.R.R.

Testemunha afirma que D.R.R. estava armado
às 11h57 uma nova testeminha começa a falar em defesa de Rodney. Segundo ela, a vítima D.R.R. havia comentado que estava “doidão” no dia do crime e que era a única pessoa que ele viu armada na época. Além disso, a testemunha afirmou que D.R.R. comentou que queria “dar uns tiros em alguém” no dia do crime.

Os réus
Às 12h18 começa o depoimentos dos réus. O primeiro a ser ouvido é Rodney, o Robocop. O policial afirma que seu apelido de Robocop sempre foi devido a sua conduta exemplar na corporação e reforça que nenhum dos cinco mandatos de busca e apreensão em sua casa encontraram nada. Em sua defesa, Rodney afirma que escutou os tiros, mas quando pensou em chamar a polícia ouviu a sirene da viatura se aproximar e desistiu.

Rodney ainda se defendeu alegando que  não estava armado no dia e que permaneceu o tempo todo em casa, não tentando escapar. Também destacou o fato de ser bom atirador e que, se fosse o caso, jamais acertaria a vítima na panturrilha ou no pé, como de fato aconteceu.
O segundo réu, conhecido como Betinho, começou seu depoimento às 12h49 e negou os fatos narrados na denúncia. Alegou que, no momento do crime, estava na casa de uma mulher conhecida como Ceará, chegando em casa 20 minutos depois do crime e que não tem nenhuma desavença com a vítima D.R.R. Destacou ainda que nunca foi preso por tráfico de drogas.

A promotoria
Representando o Ministério Público, o promotor Herman Lott, começou a defesa de sua tese às 14h. O promotor destacou a fama dos acusados em aterrorizar a população na região e defendeu que a causa dos crimes seria a disputa por pontos de tráfico locais.
Contestando o argumento de que Rodney seria capaz de efetuar um tiro mais certeiro, o promotor destacou que o disparo foi feito com a mão esquerda, enquanto o acusado é destro. Além disso, o promotor alegou que as testeminhas de defesa foram pressionada para depor em favor dos acusados. ele baseou seu argumento nas contradições dos depoimentos das testemunhas.
Segundo Lott, a vítima D.R.R. não se envolveu mais em crimes após cumprir sua pena por tráfico de droga, mas trabalhava como pedreiro e vigia noturno. “Fazendo justiça hoje, os senhores vão socorrer a comunidade de São José da Lapa”, argumenta o promotor. A acusação de “motivo torpe” foi retirada pela promotoria, que manteu a acusação de tentativa de homicídio.

Defesa
Os advogados Ernani Couto, Marcos Couto e Agnaldo Aquino iniciaram a defesa dos réus às 16h11 e acusaram o Estado de estar acusando ambos sem provas concretas. O primeiro a argumentar é Ermani Couto que destaca a conduta da vítima  D.R.R. andar sempre armada e ter o objetivo de se vingar por uma desavença anterior com um dos réus. De acordo com Couto, os acusados não foram ouvidos ao longo dos doze meses de inquérito.

Em seguida, o advogado Marcos Antônio do Couto aponta que, embora as vítimas estivessem presentes em ambas as ocorrências, seus depoimentos apresentam contradições.

Por fim, de acordo com o advogado Agnaldo Aquino, é impossível receber um tiro de uma arma de 9mm na perna e continuar andando. Reforça alegando que há provas de que o tiro fraturou a perna da vítima. Aquino também questiona o motivo da outra vítima não ter comparecido ao júri para dar seu depoimento. O advogado ainda alega que as vítimas eram os traficantes de droga e não os acusado.

A defesa dos réus terminou às 18h43. A sentença foi divulgada ás 19h20.