O domingo de sol acabou servindo de incentivo para vários belo-horizontinos saírem para as praças da capital mineira. A Lagoa Seca, no Belvedere, na região centro-sul, e a orla da Lagoa da Pampulha estavam movimentadas com pessoas fazendo atividades físicas ou passeando com crianças e cães.

Na Lagoa Seca, o movimento estava grande mesmo com a praça cercada. Porém, já é costume as pessoas caminharem no entorno e parece que a limitação do acesso não prejudicou a utilização do espaço

O engenheiro Alexandre Soares, de 58 anos, foi caminhar com a esposa e dois cachorros na manhã deste domingo. "A gente já praticava alguma atividade física, mas não era regular. Agora, porém, estamos em uma situação diferente e não podemos ficar o tempo todo reclusos em casa. Então, começamos a caminhar nos finais de semana aqui".

Mas, ele garante que estão tomando os cuidados de distanciamento e também de higiene. "A gente tenta não ficar próximo das pessoas e, quando chegamos em casa já deixamos os calçados separados, higienizamos as patas dos cachorrinhos, pra evitar os riscos de levar o vírus pra casa".

O militar da reserva Marcos Negraes, de 55 anos, também foi caminhar na Lagoa Seca nesta manhã. "Estou seguindo as orientações do próprio ministro [da saúde] Mandetta que tem recomendado que a gente deve tomar sol e fazer caminhadas", ele disse. Ele tem caminhado até quatro vezes por semana e também diz estar tomando os cuidados de utilizar álcool gel ao chegar em casa e tirar imediatamente roupas e sapatos e deixá-los separados.

Já na Pampulha, havia um movimento maior de famílias com crianças, além dos corredores e ciclistas. O engenheiro Ruy Cristiano Barboza, de 54 anos, levou o filho Davi Cristiano, de 5 anos, para passear de patinete na orla da Lagoa da Pampulha. Eles ficaram afastados de aglomerações e tomaram alguns cuidados. “Eu estou aqui com um vidro de álcool gel e quando ele chega em casa, ele já deixa as roupas e sapatos em um canto e vai direto para o banho”.

Pai e filho moram em casas separadas e cumpririam as primeiras semanas da quarentena sem se ver, porém agora Ruy conta que a saudade apertou. “Estávamos nos falando só por chamadas de vídeo e essa semana eu decidi pegar ele pra passearmos um pouco”.

O motorista André Luiz Gomes, de 46 anos, também aproveitou o domingo para pedalar na Pampulha. “De bicicleta acaba sendo mais seguro porque temos menos contato com objetos e outras pessoas, mas ainda assim tenho redobrado o cuidado”. Ele disse ainda que tem reduzido o número de vezes que sai para andar de bicicleta por conta da quarentena.

Já na Praça Floriano Peixoto, no Santa Efigênia, região leste da capital, o movimento era bem menor. O aposentado Paulo Andrade, de 66 anos, levou sua gata Memeia para um passeio na praça. Segundo ele, o animal mora em uma casa grande e com quintal no interior de Minas e já está há alguns dias em seu apartamento em BH para consultas com veterinário. “Ela já estava estranhando o ambiente porque está acostumada a ter mais espaço e hoje eu decidi sair com ela”.

A enfermeira Cibele Tavares, de 40 anos, também foi com filho na praça Floriano Peixoto, no bairro Santa Efigênia, região leste de Belo Horizonte. O movimento na praça era pequeno e ela deixou o Heitor Tavares, de 4 anos, brincar nos brinquedos da praça. “Ele não para de pedir pra sair pois já está em casa desde meados de março. E hoje saímos pela primeira vez mas trouxe álcool e estamos tomando os cuidados recomendados”. 

Acostumado a ficar sob os cuidados da avó, Heitor agora tem ficado em casa com o pai que está trabalhando homeoffice. “Ele pede direto pra ver a avó mas não é em como a gente deixar por causa do grupo de risco”. 

Praças fechadas

Na última sexta-feira (3), o prefeito Alexandre Kalil determinou a interdição, a partir de sábado (4), da praça da Liberdade, no bairro Funcionários, e do Parque JK, no bairro Sion, ambos na região Centro-Sul da capital. Apesar de a prefeitura não confirmar o fechamento da Lagoa Seca, o espaço também estava cercado neste final de semana. A medida visa garantir a segurança da população, impedindo que as pessoas circulem normalmente por esses locais e aumentem o risco de transmissão do novo coronavírus. 

A assessoria de imprensa da prefeitura informou que durante o dia e noite a Guarda Municipal faz a fiscalização dos pontos. Já durante a madrugada, rondas da Polícia Militar são realizadas para garantir que ninguém está violando a interdição. O órgão informou ainda que há possibilidade de que outros pontos sejam fechados, mas não há nada definido. 

Orientações e cuidados

Segundo a médica infectologista e vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Virgínia Zambelli, a atividade física ao ar livre pode ser feita desde que individualmente e sem uso de aparelhos compartilhados, como é o caso de corrida ou caminhadas. “O problema é que os locais têm ficado muito cheios porque as pessoas têm buscado mais essa alternativa na falta de outras opções”.

Ela recomenda então que as pessoas busquem locais menos frequentados para evitar o contato com outras pessoas. E no caso de pessoas do grupo de risco, ou seja, aqueles que têm mais de 60 anos ou doenças como diabetes, pressão alta, problemas de pulmão ou coração, a orientação da especialista é permanecer em casa durante o período de quarentena.

A médica também alerta sobre o uso de equipamentos públicos compartilhados, como academias ao ar livre. “Existe um risco muito alto de contaminação porque são aparelhos onde várias pessoas colocam as mãos. Então, esse tipo de equipamento não deve ser utilizado de forma alguma”, orienta.

Procurada, a prefeitura informou por meio da Secretaria Municipal de Saúde que "a população deve manter o  distanciamento social" e que "devem ser mantidos os serviços essenciais, como saúde e segurança pública".